segunda-feira, 22 de junho de 2015

Morreu JAMES HORNER, o Mago das Bandas Sonoras

Hoje o mundo do cinema e da música foi abalado pela morte de James Horner. O nome pode não dizer nada à maioria das pessoas, mas se acrescentarmos que estamos perante, provavelmente, o maior criador de bandas sonoras do cinema dos últimos anos, aí o caso muda de figura. Um estúpido acidente de aeronave tirou a vida a um criador sublime, que deu uma dimensão especial e única a filmes como Titanic, Avatar, Braveheart, Beautiful Mind, Aliens, Field of Dreams. Várias vezes nomeado para óscar de melhor banda sonora, Horner havia de triunfar por duas vezes: em “Titanic”, com aquele fabuloso “My heart will go on” que Céline Dion fez subir ao Olimpo, e em “Avatar”, onde Horner introduziu doze temas maravilhosos que em muito enriqueceram o filme e o ajudaram a triunfar.
É curioso pensar o quanto a música de Horner contribuiu para o sucesso de Titanic. Parecem feitos um para o outro e não conseguimos imaginar toda a emoção romântica que sentimos ao ver Titanic sem a música de Horner. No entanto, só a persistência de Horner e Will Jennings conseguiram convencer o realizador Cameron a ouvir a versão-demonstração que Céline Dion gravara. Obviamente, Cameron só podia aproveitar aquele diamante único que Horner lhe punha nas mãos, como já fizera noutras ocasiões em que trabalharam juntos.
Horner tinha um dom especial para criar bandas sonoras épicas, glamourosas e sedutoras. Sabiam criar uma música que ia de encontro ao coração do filme, ajudando o espectador a vivê-lo com uma profundidade que, muitas vezes, tocava o sublime.
Acontece frequentemente não darmos o devido valor aos criadores das bandas sonoras dos filmes. Muitas vezes a realização, a interpretação dos actores, a excelência do argumento esmagam aquele material delicado e único que fez o filme melhor e mais completo. Poucas vezes fazemos a justiça devida aos criadores de música tão emocionante e de difícil criação, pois criar algo que encaixe perfeitamente num produto cinematográfico de grande qualidade não é tarefa fácil. Só está ao alcance dos melhores como era o caso de Horner. Quando voltarmos a deixar cair umas lágrimas ao rever o Titanic ou o Braveheart, era bom que nos lembrássemos que James Horner tem alguma responsabilidade nisso.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Editado a 17 de Junho de 1983: The Police – Synchronicity

POLICE.jpg The Police – Synchronicity
É o quinto e último álbum de estúdio dos The Police, lançado em 1983. Está na lista dos discos definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. É considerado o melhor trabalho da banda. Além de ter sido o projecto mais ousado do trio inglês, foi também o mais elaborado e caro. De toda a discografia dos Police, foi o que mais vendeu em todo o mundo. Nos Estados Unidos assumiu o primeiro lugar da Top 200, destronando Michael Jackson que se mantinha na liderança há quase 40 semanas com o disco “Thriller”.
Por esta altura, o clima entre Sting, Andy Summers e Stewart Copeland estava péssimo, tanto que acabaram com os Police logo a seguir à tournée de lançamento de “Synchronicity”. O nome do disco foi sugerido por Sting, que naquela época fazia psicologia analítica que é calcada, basicamente, em símbolos, arquétipos, sonhos e na Teoria da Sincronicidade, desenvolvida pelo psiquiatra e psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961). Synchronicity foi produzido por Hugh Padgham.

terça-feira, 16 de junho de 2015

‘Like a Rolling Stone’: meio século de um marco na música popular

Bob Dylan gravou a sua canção mais célebre há 50 anos, e marcou um antes e um depois.

Uma baqueta cai com força sobre uma caixa e ao mesmo tempo um pé pontapeia um bombo. É o que detona. Imediatamente se abre todo um universo, criado por uma absorvente atmosfera eléctrica e com um órgão colossal de fundo. Passam-se apenas alguns segundos até que uma voz circense diga quatro palavras mágicas, as quatro primeiras de um relato divino: “Once upon a time...” Como nos contos. “Era uma vez....”. É o começo de Like a Rolling Stone, a melhor composição da história do rock, segundo boa parte da crítica especializada, a canção com que Bob Dylan mudou definitivamente o curso da música popular no mundo, o tema que acaba de cumprir meio século desde que foi gravado, entre 15 e 16 de junho de 1965. Como disse o poeta norte-americano David Henderson, não se tratava de uma canção, mas de “uma epopeia”. Uma epopeia que narrava as emoções incontroláveis do seu autor, mas que também afectou para sempre a visão do rock e a alma de toda uma nação.
Em 1965, os Estados Unidos encontravam-se num dos períodos mais agitados da sua história, enquanto Bob Dylan começava a distanciar-se do seu papel de porta-voz geracional da música folk, que via como uma camisa de forças que o oprimia. Tinham-se passado apenas quatro anos desde a sua vinda do seu povoado de Minnesota em busca de Woody Guthrie, tinha começado a tocar nos clubes de Greenwich Village com os pilares do movimento folk nova-iorquino, como Pete Seeger, Ramblin' Jack Elliott e Dave Van Ronk. Tinha passado pouco mais de um ano desde o lançamento de The Times They Are A-Changin' e os tempos começavam a mudar para todos, incluindo Dylan, que, fascinado pelo vibrante aroma juvenil e descontraído que os Beatles e os Rolling Stones desprendiam, decidiu fazer o contrário do que se esperava dele.
O primeiro passo (enorme artisticamente) foi Bringing It All Back Home, divulgado algumas semanas antes da gravação de Like a Rolling Stone. Com essa dupla face, uma acústica e outra eléctrica, Bringing It All Back Home, uma obra-prima datada de março de 1965, foi o disco que inaugurou a mudança de Dylan, uma esplêndida fenda pela qual se divisava algo muito diferente do que se conhecia do autor de Blowin’ in the wind. E esse algo era isso que Dylan na época descrevia com estas palavras: “É esse som mercurial selvagem e fino. É metálico, dourado e brilhante”. Bringing It All Back Home foi a primeira parte do que se conhece como a trilogia mercurial de Dylan, formada também pelos álbuns Highway 61 Revisited e Blonde on Blonde. A trilogia do antes e do depois, pela qual se deu o caminho ao contrário: os Beatles, os Rolling Stones e, em definitivo, todos, se fixaram então em Dylan para saber por onde iriam os novos tempos. E Like a Rolling Stone foi, e continua a ser o máximo expoente desse som.

O crítico musical norte-americano Greil Marcus, um dos maiores estudiosos da obra de Bob Dylan, chama-o de “som total”. Um som que nasce do blues de Robert Johnson, mas que se expande em muitas direcções, como se contivesse um big-bang da música norte-americana dentro, entre os traços da guitarra rítmica e o baixo, a alta temperatura do órgão Hammond de Al Kooper, os potentes rastos da harmónica e a voz incisiva e desafiante de Bob Dylan. Como antes tinha acontecido com o canto apaixonado de That’s All Right de Elvis Presley, o som estridente de Tutti Frutti de Little Richard ou o riff de Johnny B. Goode de Chuck Berry, bastava essa estranha explosão sonora, essa conjunção de elementos vindos de todas as partes e de nenhuma, para reconhecer o inexplicável. Era uma forma de olhar para a frente sem esquecer os rastos deixados. Era inovação. Poderosa inovação com um mundo emocional próprio, mas também universal.
A sua avalanche sonora arrasta o ouvinte. Sem fôlego. Obriga a tomar partido. Like a Rolling Stone não é uma canção que se possa simplesmente ouvir. Não está concebida para ouvintes preguiçosos nem para turistas musicais. Convém recordar: uma baqueta cai sobre uma caixa e ao mesmo tempo um pé pontapeia o bombo e.., ¡boom! “Era uma vez…”. Como nos contos, o ouvinte é obrigado a adentrar o seu mundo, se não a canção expulsa-o. Como as grandes fábulas expulsam aqueles que só podem ver aquilo que os seus olhos alcançam.

Essa epopeia chamada Like a Rolling Stone, gravada nos estúdios da Colúmbia em Nova York, era um desafio para o ouvinte, mas também para a época. Os seus seis minutos de duração, com essa enxurrada instrumental, rompiam os esquemas das emissoras de rádio. Era a antítese do single, mas era de tudo ao mesmo tempo. Porque a canção mais pop de Dylan até então, era o menos pop de 1965. O seu criador dava passagem, com essa composição, a toda uma marca pessoal de canções que começaram no alto. Ou seja, aos primeiros compassos, já toda a banda estava no ápice sonoro e a partir daí não havia nem um respiro nem um passo em falso nesse fluxo incontrolável, até que se desvanecia. Isso aconteceria noutra canção célebre, como Hurricane e em várias outras. Como afirmou Greil Marcus, Dylan procurava com Like a Rolling Stone conquistar um território. E conseguiu. Era o território artístico e sentimental dos agitados anos sessenta, da ruptura geracional e do rock’n’roll. Quando a canção foi gravada nos Estados Unidos, embevecidos pelo beat dos Beatles e demais seguidores, fervilhavam todo o tipo de revoltas e confrontos. Em pleno conflito bélico no Vietname, a paranóia da Guerra Fria e corrida espacial com os russos, havia ocorrido o célebre Domingo Sangrento em Selma, depois das investidas policiais contra os manifestantes pelos direitos civis, e Martin Luther King tinha passado pela prisão enquanto o presidente Lyndon Johnson tentava mitigar tudo com a base para a lei que daria o voto aos negros. E a mídia não perdia um detalhe do processo contra Richard Hickock e Perry Smith (protagonistas do livro A Sangue Frio, de Truman Capote), presos por assassinar quatro membros da família de Herbert Clutter em Holcomb (Kansas), que acabaram enforcados. E em 1965 todos, e não só a rapariga da canção que antes se vestia tão bem e falava bem alto, pareciam pedras rolando na encruzilhada de sua própria história. Todos pareciam fazer-se a mesma pergunta do refrão: “How does it feel? (Como se sente?)”. Também Dylan, que estava imerso no seu próprio turbilhão de acontecimentos e problemas sentimentais.
Like a Rolling Stone completa meio século. Com toda a urgência e o seu orgulho ferido, a canção foi um marco. E continuará sendo. Porque, muitos anos depois da sua criação, já em outro século, continua a ser abrasiva. O seu fogo está intacto depois de se ouvir como aquela baqueta cai e um pé pontapeia um bombo. Howard Dounes conta na sua biografia sobre Bob Dylan, uma história ilustrativa a respeito. Durante esses dias de gravação, Dylan esteve numa festa e a cantora e compositora Maria Muldaur convidou-o a dançar quando o viu sentado sozinho a um canto, com as pernas cruzadas a mexer-se com nervosismo. Já lhe começavam a chover críticas na comunidade folk pela sua experimentação sonora, e por isso receberia o apelido de “Judas”, enquanto outros viam nele um Messias político que solucionaria todos os desajustes do país. Diante da proposta de Muldaur para dançar, Dylan levantou os olhos na direcção dela e respondeu: “Dançaria contigo, Maria, mas as minhas mãos ardem”. Essas mãos foram as mãos que criaram Like a Rolling Stone, uma canção para a história.

domingo, 14 de junho de 2015

‘Yesterday’ faz 50 anos

A canção de Paul McCartney para os Beatles é recordista em número de versões na história.
Tudo começou numa manhã de Maio de 1965. Paul McCartney ficou com uma melodia na cabeça após um sonho e já não conseguiu esquecê-la. O que parecia ser uma brincadeira da sua mente, transformou-se numa das melodias mais conhecidas da história da pop pelas mãos dos The Beatles. Segundo palavras do próprio, era como uma velha melodia de jazz, como as que o seu pai costumava cantar e que o fazia regressar ao passado.
Já a letra, foi outra história. Conta a lenda que o seu autor cantarolava como primeiro verso “scrambled eggs, oh baby, how I love your legs” (“Ovos mexidos; oh meu amor, como gosto das tuas pernas”). Repetiu esta frase durante dias, mas no final, durante uma viagem a Portugal com a sua namorada daquela altura, Jane Asher, compôs os versos certos.

A canção foi finalmente gravada a 14 de Junho de 1965. Depois de uma passagem com John Lennon no órgão Hammond, o produtor George Martin sugeriu a McCartney usar um quarteto de cordas. McCartney inicialmente resistiu e respondeu: “Não quero ser um Mantovani – em referência ao compositor de música instrumental italiano, que costumava tocar naquela época em auditórios de Londres –“. Mas o certo é que sem esses acertos, a canção não teria sido a mesma.

Yesterday foi lançada no álbum Help!. Tem a honra de ser a canção com mais versões da história, de acordo com o Livro Guinness dos recordes. Entre as suas mais de 1.500 versões, são famosas as cantadas por Frank Sinatra, Aretha Franklin, Elvis Presley e Willie Nelson. Esse monólogo interior de McCartney tem uma melancolia mágica. É quase impossível não ser seduzido por ela.

Estas são cinco das versões mais célebres de todos os tempos:

1. ELVIS PRESLEY

O Rei do rock nunca se entendeu com os Beatles, os quais via como o fruto de uma geração, a da contra-cultura, com a qual não sintonizava. De facto, o encontro entre os Fab Four e Presley não foi frutífero, nada parecido com o que tiveram com Bob Dylan. Presley, entretanto, gostava de criar versões de algumas das baladas dos Beatles, ideais para a sua garganta galáctica.

2. WILLIE NELSON

O pai dos fora-da-lei do country traz Yesterday ao seu campo, fazendo uma das versões mais emocionantes de todos os tempos. Com a sua voz profunda e pletórica, Nelson coloca jeans na balada de McCartney, substituindo as cordas por uma guitarra simples, mas efectiva, como se tivesse sido escrita para ser cantada numa cantina do Texas.

3. FRANK SINATRA

A Voz sempre renegou o rock e afirmava que este ritmo corrompia os jovens. Mas não pôde resistir a cantar uma canção que estava no topo de todo um movimento musical. Com a sua grande roupagem pop, Yesterday era uma balada intergeracional e Sinatra soube conservar a sua poderosa carga melancólica na sua proposta de jazz vocal. As cordas continuam a ter um papel essencial, mas, nesta ocasião, desdobram-se num sentido jazzístico mais sugestivo e lento.

4. ARETHA FRANKLIN

A mais espectacular voz feminina da soul e, possivelmente, de toda a história da música popular, não podia deixar de colocar o seu espírito nesta canção eterna. Com o seu timbre divino e penetrante, Aretha Franklin veste Yesterday com as suas roupas de gala vocais. Entre o jazz e a soul, a sua versão é talvez a mais nostálgica de todas as gravadas por qualquer outro artista.

5. RAY CHARLES

Um dos pilares da música afro-americana deu à música o seu essencial toque ao piano, ao qual acrescentou o seu modo particular de cantar, muito mais lento.

Uma canção eterna....

terça-feira, 2 de junho de 2015

Bruce Springsteen - Darkness On The Edge Of Town... já lá vão 37 anos!

Ano: 1978

Faixas

Lado 1
"Badlands" – 4:01
"Adam Raised a Cain" – 4:32
"Something in the Night" – 5:11
"Candy's Room" – 2:51
"Racing in the Street" – 6:53

Lado 2
"The Promised Land" – 4:33
"Factory" – 2:17
"Streets of Fire" – 4:09
"Prove It All Night" – 3:56
"Darkness on the Edge of Town" – 4:30

Todas as músicas escritas por Bruce Springsteen.

História

Depois do enorme sucesso do álbum Born To Run de 1975, a expectativa era grande para saber o que é que Bruce Springsteen tinha na manga para o 4º álbum. No entanto os meses passavam, Bruce andava na estrada, estreando alguns temas novos e não havia notícias sobre o novo álbum...

O problema estava num contrato que ele tinha assinado em 1972 com o manager Mike Appel, num parque de estacionamento em New Jersey, sem sequer o ler. Este contracto estipulava que Bruce recebesse uma ínfima parte dos direitos de autor das músicas dos primeiros 3 álbuns e que os direitos de publicação fossem exclusivamente da editora. Assim, só em 1976, quando Jon Landau começou a estar envolvido nas decisões artísticas de Bruce e o aconselhou a analisar este contracto, Bruce se apercebeu do que tinha feito. Na sequência, Bruce despede Mike Appel e dão início a uma longa batalha jurídica que se arrastou pelos tribunais até 1977, sem que Bruce pudesse voltar ao estúdio, uma vez que Mike o tinha impedido de gravar com Landau.

Entretanto, Bruce era obrigado a continuar na estrada a dar concertos com a E Street Band, a sua única verdadeira fonte de rendimento. Em contrapartida, foi neste período que Bruce Springsteen e a E Street Band aperfeiçoaram as suas perfomances ao vivo, eventualmente ganhando a reputação de uma das melhores bandas rock ao vivo da história (facto que pude confirmar este ano em Santiago de Compostela, onde assisti a um dos melhores concertos da minha vida).

Resolvida a questão legal, no Verão de 1977 Bruce Springsteen avançou determinado para o estúdio com a E Street Band para gravar o seu novo álbum American Madness, nome que daria lugar ao mais apropriado Darkness On The Edge Of Town, lançado em 2 de Junho de 1978. Só que desta vez a determinação de Bruce Springsteen era bem diferente de Born To Run. Enquanto Born To Run era uma ode ao optimismo, à esperança e à mudança para um lugar e para tempos melhores (a metáfora nova-iorquina de “passar para o lado de lá do rio”); Darkness representa a percepção que afinal o lugar e os tempos para onde se mudou também têm os seus problemas e que a vida é isso mesmo: podemos andar a vida inteira à espera de um momento (Badlands), ou a perseguir um sonho (Something In The Night), mas no fim de contas os problemas com que nascemos (Adam Raised A Cain) vão acompanhar-nos para sempre.

Em suma, o optimismo e romantismo de Born To Run, dá lugar à desilusão e isolamento de Darkness On The Edge Of Town. O resultado foi um álbum bem menos comercial e com sucesso bem mais reduzido. Mas isso não incomodou Bruce Springsteen, uma vez que a sua motivação para este álbum era criar algo verdadeiramente seu, inserido nas experiências que estava a viver. A prova de que Bruce Springsteen não procurava o sucesso mainstream com este álbum é a escolha das músicas. Alegadamente, foram gravadas 25 músicas que não chegaram à versão final do álbum; algumas delas seriam oferecidas a outras artistas e resultaram em grandes êxitos (por exemplo, Because The Night a Patti Smith e Fire às Pointer Sisters); algumas delas apareceriam no álbum seguinte, o duplo The River; outras só chegariam na caixa de 1998 Tracks e outras ficariam pelas performances ao vivo.

E foi mesmo ao vivo que este álbum ganhou outra dimensão. A digressão de Darkness On The Edge Of Town ainda hoje é recordada como uma das mais intensas e lendárias da história do rock. A banda tinha chegado ao seu ponto alto, aperfeiçoando a performance dos temas novos e antigos. Mais que isso, alguns temas foram alongados, mais conhecidamente Prove It All Night, cuja versão no álbum durava 3:56, mas que ao vivo por vezes passava a marca dos 10 minutos. Aqui fica a interpretação ao vivo em Phoenix deste tema:
Desde 2008 que está planeada uma reedição alargada deste álbum, de onde se espera finalmente encontrar material áudio e vídeo da famosa digressão de 1978, nomeadamente o concerto em vídeo de Phoenix. Contudo, dos bootlegs que conheço, o melhor é sem dúvida o de 1978-09-19 - Passaic, New Jersey (que em vídeo só existe em qualidade bastante inferior a Phoenix).

Análise

Por me estar associado pessoalmente, Darkness On The Edge Of Town de Bruce Springsteen foi a primeira escolha para dissecação neste blog. No futuro, raramente um álbum terá um tratamento tão exaustivo com este. Este tratamento exaustivo deve-se não só ao facto de ser o primeiro álbum a aser analisado, como também por ter muito para contar.

A E Street Band está neste álbum “on fire”, principalmente com um Bruce Springsteen a tocar guitarra como se estivesse a defender a sua vida, um Roy Bittain a levar as emoções às teclas do piano e um poderoso Clarence Clemons nos solos de saxofone em Badlands, The Promised Land e Prove It All Night.

The Promised Land em Landover (1978-08-15):
É importante referir que se há dois álbuns de Bruce Springsteen que são essenciais, eles são Born To Run e Darkness On The Edge Of Town. Como já referi, são dois álbuns com um vibe completamente diferente, mas é esta dicotomia que os faz tão especiais. Ambos os álbuns são extremamente sólidos, isto é, estabelecem uma bitola alta de qualidade que raramente é rebaixada.

O álbum começa com um estrondoso Badlands (que ainda denota algum optimismo) e depois continua até ao fim do “Lado 1” com uma das sequências mais fantásticas num álbum rock: Adam Raised A Cain, Something In The Night, Candy's Room e Racing In The Street. É difícil escolher momentos altos ou baixos no Lado 1 deste álbum, devido à sua solidez.

No Lado 2, mais uma vez começa com um raio de optimismo em The Promised Land e também aqui prossegue com temas que transmitem dificuldades: Factory, Streets Of Fire, Prove It All Night e, no fim, quando já perdeu tudo, Darkness on the Edge of Town. Aqui, voltamos a ter uma selecção muito forte, com a excepção de Factory, que fica claramente num nível abaixo dos restantes temas. Para além disso, tanto Prove It All Night (com solos adicionais no início e no fim), como The Promised Land, Streets Of Fire e Darkness on the Edge of Town resultam melhor ao vivo do que no disco original.
Fica aqui o tema título Darkness on the Edge of Town, mais uma vez ao vivo em Passaic, New Jersey. Sublinhe-se que na introdução Bruce dedica a música a um amigo em dificuldades e tem a seguinte frase lapidar:

"At one time or another, everybody's gotta drive through the darkness on the edge of town"