sábado, 6 de fevereiro de 2016

Os R.E.M. nos anos 80

Quase todos conhecemos a carreira dos REM desde Out of Time. Singles como Losing My Religion, Shiny Happy People, Near Wild Heaven ou Radio Song tornaram-se tão populares que praticamente só nos lembramos da banda de Michael Stipe a partir do início dos Anos 90. O sucesso dos álbuns seguintes, em especial Automatic for the People, reforçaria a ideia que os REM eram de facto uma banda dos Anos 90.

Nada mais errado! Quando se tornaram estrelas à escala mundial levavam já na bagagem onze anos de carreira e seis álbuns editados. Os poucos que conheciam o percurso eighties destes veteranos podem ter sentido que a banda se vendera aos milhões da Warner, por outro lado, os novos fãs pouco conheciam do passado da banda.

É certo que algo mudou desde que deixaram a independente IRS, mas os REM souberam adaptar-se e criar uma sonoridade mais eclética de forma a chegar a uma audiência mais vasta, sem nunca abdicarem no essencial da sonoridade que os caracterizou desde o início.

Apesar do sucesso decrescente nos últimos anos, o reconhecimento do valor e importância da banda nunca foram postos em causa, sendo ainda hoje considerada uma das mais importantes da história do rock e fazendo parte do" Rock and Roll Hall of Fame ", prova de que o culto ainda está vivo. A revista Rolling Stone atribuíra-lhes já o título de " Melhor Banda Rock da América ". Vamos então recuar até ao início dos Anos 80 e ver por onde andavam...

Os REM formaram-se em 1980 na cidade de Athens, Geórgia, berço de outra popular banda americana, os The B-52`s. O quarteto era então composto por Bill Berry (bateria), Peter Buck (guitarra eléctrica), Mike Milss (guitarra-baixo) e Michael Stipe (voz).

O percurso inicial dos REM foi semelhante ao de muitas bandas de garagem: tocavam em pequenos clubes e liceus, sendo especialmente apreciados por estudantes. Editam o primeiro single Radio Free Europe um ano depois, que depressa se tornou num smash hit do circuito alternativo. Ao contrário de muitas bandas indie , os REM queriam ir mais longe sem perderem esse espírito.

Deste modo a sua sonoridade procurava conciliar o moderno com as raízes da música tradicional americana, demarcando-se da violência do punk e do rock mais pesado, mais associados a um espírito contra-corrente. Os REM de certa forma também queriam sê-lo, embora adoptando uma linguagem mais pop.
Depois de Radio Free Europe, veio o EP Chronic Town.

O primeiro álbum Murmur, já na independente IRS, é então editado em 1983 e incluía no alinhamento o single de estreia, bem como Perfect Circle eTalk About the Passion. Aclamado pela crítica, estava dado o mote para uma carreira discreta mas feita de passos seguros até 1987, ano de lançamento de Document.

Pelo meio foram editados três álbuns, Reckoning (84), Fables of the Reconstruction (85) e Lifes Reach Pageant (86), sem beliscar os créditos colhidos no primeiro álbum. Temas como (Don`t Go Back to) Rockville, 7 Chinese Brothers, Pretty Pressuasion, Can`t Get There from Here ou Fall on Me eram de passagem obrigatória nas rádios de escola.

Os REM podiam não ser conhecidos do grande público mas tinham muitos fãs no meio estudantil que garantiam audiência nos seus espectáculos, geralmente realizados em pequenas salas.

Apesar da crítica favorável as vendas não deslumbravam e para uma sociedade conservadora como a norte-americana, o envolvimento de Michael Stipe em questões políticas e ambientais contrárias à administração republicana, um pouco à semelhança de Morrissey contra as instituições inglesas, dificultava a chegada ao palco maior. Rotulados de banda contra-corrente parecia que as luzes da ribalta estavam longe para os REM e o lançamento de Document em 1987 estava destinado a ser uma espécie de evolução na continuidade, puro engano.

Deste álbum sairiam dois singles (The One I Love e It`s the End of the World...) que dariam à banda o impulso que tinha faltado nos álbuns anteriores. Já não eram apenas alternativos ou independentes como começavam a chegar já a um público mais vasto não só nos Estados Unidos como também na Europa.

A popularidade crescente não passou despercebida à Warner e, um ano depois, assinam um contrato milionário com a multinacional. Estava dado o salto que permitiria à banda dispor dos recursos até então fora do seu alcance. Para muitos era o fim do espírito independente mas, ao mesmo tempo, um novo desafio e novas oportunidades.

Ainda nesse ano é lançado Green, sexto álbum de originais que revela uns REM mais ecléticos. Apesar do sucesso dos singles Pop Song 89, Stand e Orange Crush, a crítica classifica o álbum de incoerente. Para tal muito terá contribuído Stand, orelhudo e delicioso para uns, descartável para outros.

A extrema regularidade com que editavam álbuns (de 83 a 88, um por ano) foi quebrada depois de Green. Pela primeira vez os REM estavam sem gravar mais de um ano e a espera durou até 1991, ano do lançamento de Out of Time. Mas a espera revelar-se-ia proveitosa...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

José Cid, uma lenda viva, fez hoje 74 anos.

Há mais de  quarenta anos a encantar as massas, José Cid é um dos mais acarinhados artistas da música ligeira portuguesa. Ao longo da sua carreira participou em diversas bandas, mas foi como vocalista e teclista do Quarteto 1111, que encontrou a popularidade que o perseguiu no seu trajecto a solo, até aos dias de hoje. 

Corria o ano de 1967 quando o Quarteto 1111 imortalizou D. Sebastião, num tema inovador e arrojado para a época, “A lenda de El-Rei D. Sebastião”. Tal foi o sucesso, que no ano seguinte concorreram ao Festival da Canção com a música “Balada para D. Inês”. Os dados estavam lançados e a edição de um álbum seria o passo seguinte. Porém, em pleno regime ditatorial o disco homónimo foi silenciado pela censura política, uma vez que abordava questões sociais como a emigração e o colonialismo.
Em 1971, José Cid editou o seu primeiro álbum a solo, ao mesmo tempo que se mantinha na estrada com o Quarteto que o conduziu ao estrelato. Mas a criatividade musical era muita, e além dos diversos EP’s que foi lançando, atirou-se a um novo projecto e surgiram os Green Windows, uma banda paralela ao Quarteto 1111, com a mesma formação, mas que apostava em temas mais comerciais.

Com esta banda surgiram os concursos nacionais e internacionais. Eram presença assídua no Festival da Canção, chegando a serem galardoados em 1975 no Festival de Tóquio, com o tema “Ontem, Hoje e Amanhã”. 

Nesse mesmo ano despediu-se no Quarteto 1111, e em 1978 editou um dos melhores discos de rock progressivo de sempre “10.000 Anos Depois entre Vénus e Marte”, obtendo grande reconhecimento a nível internacional, e chegando a estar no top 100 dos melhores álbuns de rock progressivo da revista “Billboard”.
A década de 80 ficou marcada com a obtenção do primeiro lugar no Festival da Canção com o tema “Um Grande Grande Amor”, seguindo-se a gravação de temas que marcaram a música nacional, como “Portuguesa Bonita” ou “Como o Macaco Gosta de Bananas”. Mesmo ao virar da década foi a estrela do programa musical da RTP “Natal com José Cid”.

Nos dez anos seguintes José Cid editou vários álbuns, mas a sua imagem viria a ficar associada a uma foto que surgiu na imprensa, de protesto contra as rádios nacionais. A sua irreverência fê-lo pousar nú para uma revista social, como forma de protesto em relação ao facto das rádios nacionais privilegiarem os intérpretes estrangeiros, em detrimento dos portugueses.

Em 2000 editou um livro de poesia, intitulado “Tantos Anos de Poesia”, e após o lançamento de mais alguns álbuns, em 2006 actuou na mítica e renovada sala de Lisboa, “Cabaret Maxime” em duas noites completamente esgotadas. Foi a rampa de lançamento para actuações ao vivo, participações em programas televisivos e a conquista de uma camada mais jovem de fãs.

No final de 2009 editou um novo registo de originais, “Coisas do Amor e do Mar”, que contou com a colaboração de músicos, entre os quais Luís Represas e André Sardet. Ao cair do pano, foi ainda galardoado com o prémio de consagração de carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores, tendo sido o primeiro músico português a ser distinguido com este prémio.

Lenda viva, génio criativo, ou artista excêntrico e irreverente. O que é certo, é que José Cid anda há mais de 40 anos a dar cartas no panorama da música nacional. Não deixa ninguém indiferente por onde passa, e seguramente, ainda tem muito para dar e mostrar.

Para recordar fica o vídeo da música vencedora do Festival da Canção de 1980, “Um Grande Grande Amor”:

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Morreu Maurice White, dos Earth, Wind & Fire

O compositor principal da banda faleceu aos 74 anos.

Maurice White, fundador e compositor principal dos Earth, Wind & Fire, morreu hoje aos 74 anos.
O cantor, diagnosticado com Parkinson desde 1992, deixara as digressões devido à agressividade da doença. De acordo com a TMZ, a condição de Maurice White piorou nos últimos meses.
Foi White o responsável pela formação do grupo. Em 1969, pegou em Wade Flemons e Don Whitehead para criar um grupo de compositores chamado Salty Peppers. Foi recrutando músicos, incluindo o irmão, Verdine, e gradualmente foi-se apercebendo que tinha uma banda inteira na mãos. Eis a criação dos Earth, Wind & Fire. Com o álbum homónimo seguido de “The Need Of Love”, o grupo de soul e R&B atingiu sucesso imediato.
Durante o resto dos anos 70, a formação da banda foi alterando, sendo Maurice, o irmão e Wade Flemons, os únicos membros constantes desde a formação original. Foi também nessa década que ganharam o seu primeiro Grammy, na categoria de Best R&B Performance com a música “That’s The Way Of The World”. Entre 1970 e 1980, venderam mais de 90 milhões de álbuns por esse mundo.
No início dos anos 80, ajudaram a construir a cena disco, com singles como  “September”, “In the Stone”, “After the Love Has Gone”, “Boogie Wonderland”, “Let’s Groove”, e “Wanna Be with You”.
A banda entrou em hiato em 1983, mas White manteve-se activo como produtor para artistas como Barbra Streisand, Neil Diamond, e Cher. Em 85, lançou o seu primeiro álbum a solo.
Já os anos 90 mostraram-se fatais para os membros da banda. O saxofonista, Phoenix Horns, foi baleado em Los Angeles, em 1993. Wade Flemons morreu, vítima de cancro, no ano seguinte. Foi nesse mesmo ano que Maurice White decdiu reformar-se devido à sua luta constante com a doença de Parkinson.
Os Earth, Wind & Fire, arrecadaram 20 nomeações para os Grammys, seis das quais venceram, e venderam cerca de 100 milhões de álbuns em todo o mundo
Em 2000, foram condecorados no Rock and Roll Hall of Fame.