sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Frankie Goes To Hollywood

Berço dos Beatles, a cidade de Liverpool conheceu particular agitação em finais de 70, em plena ressaca do punk. Ali entraram em cena nomes como os Teardrop Explodes, Echo & The Bunnymen, OMD... Contudo, a banda da cidade de que mais se falaria na década de 80 não era então mais que uma discreta aventura local e encontrava nome num texto sobre Frank Sinatra numa edição da New Yorker, onde se lia "Frankie Goes To Hollywood"...
Ninguém deu por eles nos primeiros anos de vida. E vários foram os "nãos" que ouviram de algumas editoras... Em finais de 1982, John Peel convidou-os para uma sessão, na qual gravaram, entre outros, Two Tribes e Relax. Em inícios de 83, nova sessão. Na mesma altura, e ainda sem editora, são chamados a tocar na televisão, no programa The Tube. Trevor Horn (ex-Buggles), que acabara de abrir uma editora, desafiou-os a juntar-se à ZTT Records. E da noite para o dia a vida da banda mudava completamente.
A gravação do primeiro single gerou logo focos de tensão. "Cansado" de ouvir a banda tocar da forma como o faziam, como o vocalista Holly Johnson recordou mais tarde na sua autobiografia (A Bone In My Flute, 1994), Trevor Horn afastou a banda do estúdio. Preparou então uma nova base mais electrónica. Os três músicos da banda - Peter Gill (bateria), Mark O'Toole (baixo) e Brian Nash (guitarra), juntamente conhecidos como The Lads - foram então levados para uma piscina, onde J.J. Jeckzalic (dos Art Of Noise) os gravou a mergulhar. Esse som, manipulado, seria a sua única contribuição para o disco. Paul Rutherford, o quinto elemento, e tal como o vocalista abertamente gay, era a segunda voz. Assombrados pelo facto de estarem a trabalhar com Trevor Horn, nem protestaram. "Dizíamos que sim a tudo o que ele sugerisse", recorda Holly Johnson no livro. E perceberam, pelo contrato que tinham assinado, que a editora "tinha as cartas na mão".
Ao mesmo tempo, Paul Morley, jornalista musical e outro dos fundadores da ZTT, desenhava uma estratégia de lançamento para o grupo. Por um lado criando anúncios de imprensa com frases bombásticas. Depois, tomando três assuntos polémicos como cartões de visita para o grupo: sexo (via Relax), a guerra (em Two Tribes) e a religião (em The Power Of Love). Foi também Morley quem criou o slogan "Frankie Say... Relax", inicialmente usado numa T-shirt promocional, depois transportado para uma linha de merchandising. A relação da banda com as contribuições de Morley azedou com o tempo. Perante o impacte global de Relax (que em poucos meses chegaria ao número um), Holly Johnson recorda que "a ZTT chamou a si o crédito pelo sucesso da banda, justificando que era a forma como Morley havia citado a letra na capa que o teria causado".
A verdade é que a ideia que coordenou o lançamento da banda foi, juntamente com a força da música, infalível. Two Tribes (com um teledisco mostrando Reagan e Chernenko em cenas de luta numa arena) repetiu o fenómeno de Relax. E The Power Of Love garantiu-lhes um terceiro número um. O álbum de estreia, Welcome To The Pleasuredome, foi acolhido com entusiasmo pelo mercado e sob aclamação na crítica. Eram o fenómeno pop do ano. Mas saberiam resistir ao efeito da novidade?
Em 1985 editam um quarto single do primeiro álbum, mas "falha" o número um. Regressam em 1986 com um segundo álbum, Liverpool, claramente menor. Os singles dele retirados - Rage Hard, Warriors Of The Wastelands e Watching The Wildlife - reflectem uma progressiva queda de popularidade.
Entretanto as tensões internas avolumavam-se. Sobretudo entre o vocalista e os restantes músicos. Tanto que, terminada uma curta digressão, o grupo acaba mesmo por se separar. Após longa disputa legal com a ZTT, Holly Johnson inicia uma carreira a solo em 1989. Paul Rutherford segue igual caminho. Os outros três músicos chegam ainda a ter novas vidas na música, mas sem igual visibilidade.
Na sequência de uma tentativa frustrada de reunião para um programa do VH-1, alguns dos elementos do grupo (salvo Nash e Johnson) acabaram mesmo por voltar a tocar juntos. Há dois anos anunciaram novo nome (Forbidden Hollywood). Mas a coisa ainda não teve mais continuidade...

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