quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Beatles lançaram "White Album" há 50 anos.

"White Album" foi editado a 22 de novembro de 1968.

"White Album", considerado o disco menos 'disciplinado' dos Beatles, foi lançado a 22 de novembro de 1968, há exatamente 50 anos. O álbum foi gravado entre maio e outubro e conta com canções compostas depois de "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band" (1967).
Originalmente, o álbum da banda britânica não se chamava  "White Album", mas apenas "The Beatles". Ao contrário dos discos anteriores, que mostravam os membros do grupo na fotografia, a capa deste álbum era apenas um fundo branco com um título em letras pequenas, passando a ser conhecido como "o álbum branco".
“The White Album” foi o primeiro álbum dos Beatles lançado pela própria editora do grupo, a Apple Records. O registo duplo tornou-se um êxito, que entrou diretamente para o primeiro lugar do top de vendas do Reino Unido, mantendo-se durante oito semanas na liderança.
O disco também entrou para o número um da tabela de vendas dos Estados Unidos, onde se manteve durante nove semanas. Nos EUA, o álbum conquistou 19 Galardões de Platina e no ano 2000 entrou para o Hall of Fame dos Grammys.
"Back in the U.S.A.", " Ob-La-Di, Ob-La-Da", canção escrita por Paul McCartney que se tornou num dos sucessos da banda, "Happiness is a Warm Gun", "Martha My Dear" e "Blackbird" são algumas das 30 canções que fazem parte de "White Album".
Uma das críticas frequentes ao disco é que seria demasiado longo. George Martin, falecido produtor e diretor musical dos Beatles, revelou que tentou agradar à banda. "Fiz uma seleção das melhores canções. Queria colocá-las num LP único, mas eles não quiseram saber", contou.
John Lennon, por exemplo, insistiu em incluir “Revolution 9”, uma colagem de ruídos e efeitos sonoros que o músico elaborou ao lado da sua companheira, Yoko Ono.
"Durante 50 anos, o 'The White Album' convidou os ouvintes a aventurarem-se e a explorar a amplitude e a ambição da sua música, deliciando e inspirando novas gerações', frisa a Universal Music, que lançou este mês uma  reedição especial do disco.
"Os 30 temas do álbum foram novamente misturados pelo produtor Giles Martin e pelo engenheiro de som Sam Okell em stereo e 5.1 surround áudio, juntamente com 27 maquetes acústicas e 50 sessões de estúdio, a maioria delas nunca editadas até hoje", explica a editora.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

QUEEN: A Night at the Opera [21 de novembro de 1975]

Há 43 anos, os Queen lançavam o álbum "A Night at the Opera".

O título foi "roubado" a uma comédia delirante dos irmãos Marx, que tem apenas uma coisa em comum com o álbum: a loucura e o espírito irreverente e desejoso de quebrar todas as convenções possíveis e imagináveis. O epíteto surgiu depois dos quatro terem visto o filme num dia de gravações, mas é completamente diferente, a "ópera" dos QUEEN: um misto de poesia, alucinações, drama, tragédia, comédia e farsa, que se tornou, à época, no disco mais caro de sempre, no que diz respeito ao seu budget. Mas os custos elevados foram recompensados: a obra foi um sucesso de público e de crítica, e hoje permanece, para a opinião especializada, como um dos trabalhos mais originais da banda. E com toda a razão. «A Night at the Opera» é um grandioso "vulcão em erupção", e um dos momentos mais fervilhantemente criativos de inspiração do grupo. Desde o princípio até ao fim que os QUEEN revelam outras máscaras do seu imaginário, elaborando ligações complexas com os álbuns anteriores, criando elos para o futuro e demarcando novas etapas artísticas que só ficariam registadas neste disco. O êxito percorreu os dois lados do Atlântico: tanto no Reino Unido, onde os QUEEN ganhavam um culto crescente, e nos EUA, num número de vendas que lhes proporcionou o primeiro disco de platina no país, as novas histórias e mensagens da banda chegavam aos fãs e a novos ouvintes que se deliciaram, pela primeira vez, com o estilo único e sempre surpreendente que caracteriza cada uma das 12 faixas do disco. Entre rock mais ou menos ligeiro e orquestral, e o pop de tendências mais ou menos surreais, surge um espectáculo operático como nunca se ouviu antes nem depois, misturado com baladas, danças e filosofias. Ouvimos melhor o talento de cada um dos quatro membros do grupo, já que existe uma maior diversidade na autoria das canções e não uma centralização mais notória na dupla May-Mercury.

«Death on Two Legs (Dedicated to...)» é uma música com uma intenção (pouco) subliminar, que os primeiros segundos em piano tentam esconder - mas que rapidamente desaparecem para dar lugar a outra tonalidade melodiosa. Percebemos que Freddie Mercury está a insultar alguém, com toda a mistura de sons, vozes e instrumentos que escutamos ao longo da canção, contagiante. É uma música surpreendente em que os artistas se vingam dos managers dos quais se tinham finalmente libertado, que trouxeram alguns problemas económicos e angústias aos QUEEN. Segue-se-lhe uma música completamente diferente (e neste álbum, cada tema pouco ou nada tem em comum com os que se lhe antecedem), «Lazing on a Sunday Afternoon», um tema com um certo toque vintage que faz lembrar certos divertimentos do mundo do espectáculo burlesco do século XX. «I'm in Love with My Car» é mais uma grande amostra do rock de Roger Taylor, e «You're My Best Friend», de John Deacon, é não só um dos temas mais emblemáticos do álbum como também um dos mais alegres e orelhudos. «'39», de Brian May, é uma música fabulosa, um hino que segue os moldes do estilo skiffle (proeminente nos EUA em inícios do século), com elementos espirituais e filosóficos, totalmente fora das "convenções" que os QUEEN criaram no seu estilo e que as pessoas imediatamente caracterizam - quem diria que esta música é dos mesmos fulanos que fizeram o «Killer Queen», perguntariam os ouvintes de 75?
Depois temos ainda espaço para os (grandes) divertimentos proporcionados por «Sweet Lady» e «Seaside Rendezvous», de May e Mercury respectivamente, que reflectem ideias menos desenvolvidas anteriormente com uma nova frescura e abordagem. Mas há dois épicos no disco: um deles é o mais notável (e já lá chegaremos), e o outro é o mais esquecido «The Prophet's Song», uma música de May com algo de  rock progressivo, apocalíptico e sci-fi que os múltiplos coros e a voz-protagonista de Mercury acentuam de uma maneira espectacular, com uma história própria e uma comparação notável entre as várias fases da mesma, flutuando entre o desespero da Humanidade e a esperança e a salvação trazida pelo tal profeta da cantiga. Uma canção brilhante e excepcional, que estabelece ligação com a melodia mais bonita do álbum: «Love of My Life», o tema de todos os apaixonados, ontem, hoje, e amanhã, uma poética composição de Mercury que reflecte as desilusões e contradições do amor e das relações humanas - e que se revelou num enorme êxito nos concertos da banda. Depois, há mais um tema "folião" e divertido, «Good Company», uma composição simples, mas não menos interessante, inspirada e encantadora, de Brian May, ao som de um ukulele.

E eis que chegámos ao "outro" épico deste disco, e a música mais marcante, a nível cultural, social e popular, de «A Night at the Opera». O que se pode dizer sobre esta epopeia de dimensões cósmicas que não tenha já sido referido em milhentas outras ocasiões? É uma música que tem tudo e mais alguma coisa, e permanece uma das peças-chave do repertório dos QUEEN. É uma delícia para os ouvidos e uma viagem de descoberta "ultimate" pelas alucinações e devaneios de Freddie Mercury. Deu ao grupo prémios, honrarias e aclamações que ainda vão durar mais umas quantas décadas, influenciou muita gente e foi alvo de diversas "homenagens" (a mais popular da actualidade será a formidável recriação do videoclip original pelos Marretas). E por fim, temos «God Save the Queen», uma impecável versão rock instrumental do hino da Grã-Bretanha, que fecha uma saga de acontecimentos históricos e musicais maiores que o mundo... mas couberam todos num único disco.

Freddie Mercury dissera mais tarde que, em «A Night at the Opera», os QUEEN tiveram espaço para fazer coisas que não puderam concretizar em «QUEEN II» e «Sheer Heart Attack». "Fizemos coisas com a guitarra e com as vozes como nunca havíamos feito antes. Não houve qualquer limitação". A isto se juntou a inspiração elevada do grupo, que deu origem a várias composições - muitas delas presentes neste disco, e que são das mais refinadas da sua discografia, e outras acabaram por originar êxitos de álbuns posteriores (Mercury começava a pensar nessa altura num certo tema intitulado «We Are the Champions»). Foi o disco que trouxe à banda a grandiosidade, e definiu-os de uma vez por todas como uma das figuras mais marcantes da sua época na música. E todas estas condicionantes se reflectiram num álbum maravilhosamente construído, equilibrado, original, inovador e intemporal, que felizmente, continua tão forte, vivo, audaz e irresistível como há 43 anos. Nessa altura, todos estavam muito inspirados e contribuíram para este álbum genial de igual maneira. Surpreende a cada canção e a cada criação que os QUEEN transformam e retransformam em mil e uma metamorfoses, contradizendo-se constantemente nos seus temas e nas intenções de cada um - e isso, aqui, é algo muito importante, e incrível. Um disco imparável e excepcional, que marca o topo da primeira década de actividade dos QUEEN.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

The La’s lançam o seu primeiro e único álbum de título homónimo, no dia 01 de outubro de 1990

A história dos The La’s confunde-se com a do seu primeiro álbum. Exactamente por ter sido o seu único. The La’s, disco homónimo da banda de Liverpool, reeditado em 2001 com músicas extra, dá-nos a conhecer o projecto de um grupo tumultuoso que deveria ter continuado a escrever mais material, dada a qualidade significativa do seu primeiro e único disco.
Muitos poderão estar, neste momento, a comentar quem serão esses tais de La’s de quem podem nunca ter ouvido falar. Confesso que a primeira vez que ouvi falar desta banda inglesa foi na VH-1, quando este canal televisivo ainda tinha alguma qualidade, com o single «There She Goes». Esse mesmo que ouvimos há algum tempo, numa cover (mais uma) dos Sixpence None The Richer (copistas). «There She Goes» é o lado mais pop dos The La’s mas a sua qualidade é inequívoca.
Ao ouvirmos o álbum conseguimos ver de onde veio inspiração para algumas bandas britânicas, nomeadamente os Oasis de Noel e Liam Gallagher e The Coral, mais um grupo de Liverpool que conta já com três discos de grande qualidade.
Percebe-se, então, que os La’s tiveram um bom marco na história da música, apesar da sua curta carreira discográfica, um pouco ao estilo do que fizeram os Stone Roses com o seu primo álbum. Um chegar, ver e vencer e meter os papéis para a reforma. Fica-nos a sua música que, apesar de escassa, marcou uma série de bandas posteriores. Para fãs da Britpop e não só, recomenda-se a audição. Não se vão arrepender.

Morreu hoje Charles Aznavour (1924-2018)

Morreu, aos 94 anos, Charles Aznavour, figura maior da canção popular francesa, voz que cruzou gerações e autor a quem muitos outros deram novas vidas. Era muitas vezes comparado a Frank Sinatra pelo tom melancólico do seu canto e pelo charme que moldava a sua pose e imagem. Porém, ao invés de Sinatra, Charles Aznavour era um autor e, mesmo tendo interpretado alguns temas de outros autores, a esmagadora maioria da sua obra fez-se com gravações e interpretações em palco de canções que ele mesmo escreveu. Ao todo deverão ser na ordem das 1300 as composições que Charles Aznavour deixou e que constituem um importante corpo da história da canção popular francesa do século XX. Estava, porém, longe de pensar que um dia, voluntariamente, colocaria um ponto final numa carreira que ainda mantinha ativa uma agenda de palcos. Há dois anos, muitos certamente recordam a sua derradeira atuação portuguesa, no palco da Altice Arena. Agora tinha acabado de regressar de uma digressão pelo Japão e no último verão só não deu mais concertos porque uma queda lhe partiu um braço. O presidente francês Emmanuel Macron, depois de um primeiro tweet ter destacado as suas raízes arménias e o facto de “ter acompanhado as alegrias e dores de três gerações”, revelou já que o tinha convidado para atuar este mês em Erevan (na Arménia) no âmbito de um encontro de países francófonos…
A relação de Charles Aznavour com a música começou bem cedo quando, ainda bem pequeno, ainda sob o seu nome real Shahnourh Varinag Aznavourian, começou a cantar em pequenos espetáculos locais. Filho de emigrantes arménios, nasceu no bairro parisiense de Saint Germain des Près em 1924 e, durante a ocupação nazi, ele e a família ajudaram a esconder judeus no seu apartamento. Por essa altura tinha já desenvolvido uma admiração particular por nomes da canção francesa como Maurice Chevalier ou Charles Trenet. Tinha já um trabalho regular de escrita de canções (inicialmente em parceria com Pierre Roche) quando, depois da guerra, é notado por Edith Piaf que o chama para trabalhar a seu lado. Durante algum tempo Aznavour esteve sob a sua sombra, mas na década de 50 as canções que escreve para Gilbert Bécaud e as que ele mesmo começa a gravar nos seus discos dão-lhe visibilidade que o liberta e transporta para um espaço de protagonismo na música francesa que o acolhe como um dos grandes da segunda metade do século XX.
Grava inúmeros discos criando uma discografia que recua aos tempos dos 78 rotações e que acompanhou o LP quase desde os primeiros passos deste formato. Edita mais de cem álbuns e mais de 400 singles e EPs, construindo uma obra com dimensão internacional que, no plano das vendas, terá alcançado números na ordem dos 180 milhões de exemplares. Mas mais do que os números e a soma dos êxitos, a obra de Aznavour abriu caminhos importantes no plano das ideias. Foi dos primeiros a cantar questões de identidade num plano mainstream, colocando na sua voz as experiências de algumas minorias. Queria, como ele mesmo chegou a explicar, “quebrar tabus” como, por exemplo, o fez em Comme Iles Disent (originalmente incluído no álbum de 1972 Idiote Je T’Aime), onde canta sobre homofobia. A canção teria, nos anos 90, uma versão brilhante por Marc Almond, que a cantou em inglês (com o título What Makes a Man a Man) no concerto 12 Years Of Tears no Royal Albert Hall. Anos antes, em 1955, uma outra canção sua, Après L’Amour, tinha gerado um “caso” pelo modo como as palavras descreviam o ambiente entre um casal depois de um ato sexual.
A força das palavras, o fulgor do intérprete, são elementos na história de uma figura que talhou uma relação particular com Portugal através do seu relacionamento com Amália Rodrigues, para quem compôs Aïe Mourrir Pour Toi. As versões são parte de uma vasta história feita de canções, de discos, de filmes (que envolvem realizadores como Truffaut e Chabrol, entre outros), que fazem de Aznavour um daqueles seres maiores que a história da música não vai nunca esquecer.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

"Close To The Edge" dos YES, lançado a 13 de setembro de 1972

Rick Wakeman uma vez disse: “Quando gravamos esse álbum, os que já gostavam passaram a gostar mais…os restantes passaram a ter-nos um ódio de morte…” Uma frase que rotula perfeitamente a música dos Yes em particular, e o rock progressivo em geral. Quem detesta grandes demonstrações de virtuosismo e não suporta ouvir a voz angélica de Jon Anderson, sem ter no mínimo um ataque epiléptico…pode parar de ler por aqui. Os outros façam o favor de nos acompanhar até 1972, aos Advision Studios em Londres, onde cinco músicos de alto gabarito compunham um dos álbuns mais aventureiros da história do rock.
Jon Anderson, Steve Howe; Chris Squire; Rick Wakeman e Bill Bruford constituíam em 1972 a par dos Emerson Lake & Palmer; King Crimson e Genesis um dos maiores super-grupos do chamado Rock Sinfónico.
O disco abre com “Close to the Edge” uma suíte de quase 20 minutos, dividida em 4 movimentos. O som de pássaros misturado com uma poderosa entrada “jazz-rock” de bateria, baixo e guitarra dão “A Solid Time of Change” (1º movimento) uma das intros mais estranhas e poderosas de sempre. É sobre esta divagação multi-instrumental que Jon Anderson começa a cantar aos 5 minutos, no segundo movimento em “Total Mass Retain”. Somos imediatamente transportados para um universo para lá da via láctea, com letras inspiradas em povos e planetas já desaparecidos. A toada mantém-se num crescendo até “I Get Up, I Get Down”. Aqui descobrimos pela primeira vez um Wakeman inspiradíssimo que compõe uma sinfonia espacial em órgão de igreja acompanhado de um dos instrumentos que mais caracterizam o rock da época, o sintetizador Moog. O tema ganha uma proporção quase dramática interrompida subitamente pela secção rítmica de Bruford e Squire que nos introduz a última parte: “Seasons of a Man”. Os Yes voltam à carga com toda a força aproximando-se um pouco dos ambientes mais tarde criados pelos seus discípulos Dream Theater.
Em linguagem “viniliana“ acabava o lado A e começava o Lado B com “And You And I”. O grupo introduz-nos nas suas raízes folk, revelando-nos um Steve Howe bastante hábil nos temas acústicos que marcariam com sucesso o resto da carreira da banda. O tema evolui espantosamente para uma sinfonia que faz pensar o que seria se Stravinsky tivesse vivido dentro da cultura Hippie.
Em “Siberean Khatru” (último tema do disco) o grupo revela um lado mais bluesy e rockeiro com alguns ecos à moda de Jimi Hendrix. Menção honrosa aqui mais uma vez a Rick Wakeman, que consegue por o povo a “rock n rollar” ao som de um cravo do Séc. XVIII. Já não se fazem discos assim…

domingo, 26 de agosto de 2018

"Hey Jude" faz hoje 50 anos...

É uma das mais conhecidas canções dos Beatles e uma das melhores composições de Paul McCartney. Esta é a sua história e como Lennon admitiu ser a melhor canção de Paul.
"Nahnahnahnahnahnahnahnahnah, hey Jude". Faz este domingo 50 anos que os Beatles lançaram Hey Jude, uma das suas canções mais reconhecíveis e um dos primeiros hinos de estádio da história.
Saída da cabeça de Paul McCartney – nesta altura já eram raras as composições que juntavam os esforços de John Lennon e Paul McCartney desde o início -, a canção serve inúmeros propósitos, desde canções no final de festas académicas, canções escolhidas em karaokes, viagens de carro e para acabar noites em discotecas onde o saudosismo é rei. Ah! E para ouvir apenas e simplesmente porque sim.
Mas olhemos para o carácter inovador de Hey Jude. Milhões de pessoas desde o século XIX conseguem trautear a melodia do quarto movimento da nona sinfonia de Beethoven (comummente apelidado de Hino da Alegria). Mas não serão assim tantos aqueles que sabem as palavras do poema cantado pelo coro de cor. E mesmo temas mais recentes como "We Are The Champions" ou "We Will Rock You" (ambos dos Queen) são mundialmente conhecidos e entoados em eventos que juntam milhares. Mas também não serão todos os que sabem de cor a letra destas canções. Os Beatles aliaram a simples melodia do Hey Jude com um factor diferenciador: os "nananananas". Esta sílaba facilmente pode ser repetida por pessoas do mundo inteiro, o que torna mais fácil entoar o tema dos Fab Four. Mas daí advém uma ironia. Embora seja provavelmente a mais fácil canção dos Beatles de entoar por milhares de fãs em uníssono, nunca foi tocada ao vivo. Composta em 1968, a canção foi editada nesse mesmo ano, já depois dos Beatles se terem retirado dos concertos ao vivo, alegadamente, por não se conseguirem ouvir a eles mesmos devido aos gritos dos fãs.

Composição a três
A canção "surgiu" a McCartney  como aconteceu com tantas outras dezenas. Uma melodia simples, com um tom luminoso. Acordes ao piano e a voz do músico para começar um tema que era dedicado ao filho de John Lennon, Julian Lennon. O pai tinha deixado Cynthia para se juntar a Yoko Ono e McCartney brincava muito com a criança.
Como lembra o jornal The Guardian, o facto de ir a conduzir obrigou McCartney a manter o tema simples, sem complicar demasiado a melodia, que acabaria por ficar, apesar do nome original da canção ter sofrido alterações: de Hey Jules para Hey Jude.
Embora já não compusessem juntos, Lennon e McCartney depositavam ainda um no outro a confiança para mostrar os temas. Se Lennon compunha algo, mostrava a Paul e vice-versa. E curiosidade, quando Hey Jude foi tocada pela primeira vez a Lennon, este terá afirmado de imediato: "É sobre mim!", ao que McCartney terá respondido: "Não, é sobre mim!". Afinal a canção já não era apenas para Julien.
Foi já depois de a canção ter passado pelo crivo de Lennon que foi mostrada aos restantes Beatles e, em vez de uma simples melodia ao piano passara a ser uma longa canção (com mais de sete minutos, um dos temas mais longos da carreira dos Beatles) com um crescendo instrumental e vocal, bateria e instrumentos musicais.
O produtor George Martin – o quinto Beatle por excelência – mostrou preocupações pela duração da canção, argumentando que os radialistas não a iriam passar até ao fim. "Passam se formos nós", respondeu Lennon. E estava certo, como provou a história.
Mas Martin não se iria calar e acabou mesmo por introduzir as suas ideias no tema: contratou uma orquestra e transformou uma canção "simples" num tema onde participaram mais de 40 pessoas (quatro Beatles e 36 membros de orquestra).
Será Hey Jude a melhor canção dos Beatles? É impossível afirmá-lo, numa banda que tem temas tão icónicos como Yesterday, In My Life, Tomorrow Never Knows ou Let it Be.
No Spotify, a canção mais ouvida da banda no dia 26 de Agosto de 2018 era Here Comes the Sun (tema de Harrison). O mesmo acontece no Apple Music. Mas a canção Hey Jude (duas vezes maior do que o tema de Harrison) aparece em quarto e quinto lugar, respectivamente, mostrando que é apreciada muito mais que QB. Já no YouTube, Here Comes the Sun soma mais de 14 milhões de visualizações no vídeo mais visto da gravação feita pela banda – a versão de Nina Simone tem 17 milhões -, enquanto Hey Jude tem mais de 119 milhões de visualizações.
Mas tomando como certa a opinião de um dos melhores compositores populares do século XX – John Lennon -, Hey Jude é a melhor canção de Paul McCartney. E isso não é dizer pouco.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

AC/DC publicam "Back in Black" no dia 25 de julho de 1980.

AC/DC passados mais de 30 anos continuam na linha da frente, esgotam estádios e atingem os tops mundiais. Quantos exemplos de bandas temos como esta que para além de sobreviver á trágica morte do seu vocalista consegue ainda atingir novos patamares?Esse patamar chama-se Back in Black. Depois de Let There Be Rock, Powerage e Highway to Hell nada fazia prever o auge de vendas que este iria obter. Hoje é um dos álbuns mais vendidos de sempre a par de Dark Side of The Moon de Pink Floyd e do famoso Thriller do falecido Rei da Pop- Michael Jackson.Vamos esquecer os números. Back in Black é o ponto de viragem na carreira dos AC/DC. A trágica morte de Bon Scott deu lugar a Brian Johnson e as semelhanças vocais foram bem aceites. A irmandade Young mais uma vez fez o resto.A capa marca o luto, «Hells Bells» toma uma dimensão épica nunca dantes visível na banda. Assim se abrem as hostes dum álbum bem mais maduro que o anterior.Ao som de sinos se abre este incrível tema, ainda hoje celebrado ao vivo com o famoso sino da banda.

«Shoot to Thrill» tira as dúvidas do primeiro tema, não eles não ficaram frouxos dum dia para o outro, o Rock’n’Roll que os distingue e que nos dá vontade de fazer air-guitar ainda continua de pé! Sem piedade no “…Pull the Trigger..” Angus Young dá uso á sua Gibson criando uma mistura de Riffs que não deixa criar saudades dos tempos de T.N.T.! Parabéns, estamos ainda no segundo tema e temos mais dois clássicos!O solo final é simplesmente majestoso!

O que fazem por dinheiro estes rapazes? Por incrível que pareça fazem música de qualidade! É com a rima «What do You Do For Money, Honey?» que se faz o refrão deste mesmo tema.«Givin’ The Dog a Bone» dá continuidade. Isto é AC/DC! Rock’n’Roll no seu estado mais puro.

O tema seguinte pede-nos algo desnecessário «Let Me Put My Love Into You» é algo que estes Australianos em 1980 já não precisavam! Um dos compassos mais conhecidos do mundo, par do Riff e da coreografia de Angus (Duck Walk), é sem dúvida o do tema que dá nome ao álbum. Como poderei descrevê-lo? – Como um dos temas mais marcantes da história do Rock! Sem sombra de dúvidas um dos melhores solos da carreira de Angus! Este que por sua vez é por vezes referenciado injustamente como o sr. dos três acordes, esquecendo o guitar hero dentro da farda colegial.

É impressionante como neste álbum os 7 minutos e 45 segundos da 6ª e 7ª música marcam toda uma geração! De «Back in Black» passamos para o grande êxito radiofónico dos anos 80- «You Shook Me All Night Long». Não há nada melhor do que fazer aquelas viagens pelas nacionais deste país, no meio do nada numa manhã de Verão, janela aberta, e AC/DC bem alto!Este é o tema que conquistou muitos corações á banda. Arrisco-me a dizer que era isto que faltava para completar o seu sucesso mediático.Dos metaleiros ás adolescentes com posters de Bon Jovi e Van Halen, AC/DC era uma referência. Hoje é um icon.

«Have a Drink on Me» não destoaria em nenhum bar de motards que se preze. «Shake A Leg» obriga o ouvinte a bater o pé. Sabem que mais? Aqui podemos encontrar diamante em bruto, o facto de temas como este ficarem para trás em concertos das banda só demonstra a fabulosa discografia da banda, é de facto um desperdício!Back in Black provou ser uma fábula, uma daquelas que nos transporta para um mundo de maravilhas. Mas fábula que se preze têm um final feliz seguido duma mensagem pedagógica- «Rock and Roll Ain’t Noise Pollution»- alguém quer melhor do que isto?
Fazendo trocadilho passo a explicar o sucesso de Back in Black :

AC/DC Ain’t Noise Pollution!!

terça-feira, 24 de julho de 2018

Pantera lançam "Cowboys From Hell" a 24 de julho de 1990.

Em 1990 o mundo do Rock estava mais do que abalado. Várias correntes musicais alternativas vinham ao de cima com especial para o movimento de Seattle – o grunge.
Será impossível fazer referência a este género sem passar pela formação de Kurt Cobain, Dave Grohl e Kris Novelic. Alguns anos mais tarde, um grupo de privilegiados podia-se gabar de ter assistido a um momento único no antigo Dramático de Cascais, o único concerto de Nirvana no nosso país. Outro grupo, possivelmente alguns coincidentes, pôde se gabar de ter assistido a outro marco da história do Rock. Nirvana estava para o movimento de rock alternativo como os Pantera estavam para o Metal - foram pioneiros e símbolos de culto, ainda hoje nos dias que correm.

No início da ultima década do Século XX, Phill Anselmo dava ao mundo uma das melhores vozes do heavy metal a par da oferta de riffs incríveis de Dimebag Darrel.
Cowboys From Hell , assim ficarão conhecidos na eternidade, e assim começava a sua caminhada, curta demais.
São casos raros os de bandas que conseguem um álbum de estreia completo ao nível da sua estrutura. Lembro-me de casos como Ten dos Pearl Jam e Appetite for Destrution dos Guns’n’Roses que ainda hoje fazem jus ao seu estatuto.
A minha introdução deixa uma ideia simples no ar, se Nirvana não tivesse existido, Pantera certamente não deixaria espaço em vazio para os adolescentes da altura, sedentos de Rock puro e sentido.
Vulgar Display of Power poderá ser o Nevermind dos Pantera, mas sem Cowboys From Hell nada disto seria possível.

Dimebag arrasa tudo e todos com um incrível riff em «Cowboys From Hell», energético e cheio de garra- “ here we go” avisavam.
Quem passa de Black Sabbath para Lamb of God certamente não encontrará uma ligação directa, pois bem, se temos de apontar o dedo estes serão certamente os culpados da maioria do metal que se faz hoje em dia.
Este tema faz-me recordar, a cada audição que faço, o momento único de Monsters of Rock em Moscovo onde se verifica a garra do conjunto em palco.

«Primal Concrete Sledge» dá um cheirinho de Hardcore á cena, o segredo está nos breaks de bateria, louvado seja o pedal duplo! “Oh Yeah!”- exclama repetidamente Anselmo. O público adere, hoje aos Down, mas Pantera na altura foram mais do que uma lufada de ar fresco! “ It’s time to set my demons free”, esta é uma das frase que descreve todo o sentimento de se ouvir estes temas com o volume alto a par do bass violento - «Phsyco Holiday» dá uma certa progressividade ao trash-metal directo e sem espinhas que os temas anteriores apresentavam. Dimebag não se demonstra nada humilde neste incrível solo, e nós? Nós agradecemos!A estrutura de guitarra de «Heresy» é a planta do hardcore e de algum metal que se pratica hoje, o riff é fantástico na sua simplicidade, Anselmo prova que rapazes como Corey Taylor ainda têm muito a provar ao mundo no que toca a puxar pelos cordõezitos vocais.
Todos sabemos que não é qualquer banda que se atreve a escrever power-balads, muito menos no álbum de estreia, muito menos com a carga emotiva de «Cemetary Gates»…
Certamente a crítica apontará para este tema com um momento incontornável no curriculum da banda, um tema para se cantar até as lágrimas escorrerem e as veias envolventes á traqueia rebentarem. Um dos temas mais «pesados» da banda em termos de letra, facilmente mal interpretado, mas sejamos realistas, neste mundo o que não falta é preconceito, relembro «A Tout le Monde» de Megadeth e «Fade To Black» de Metallica, temas lindíssimos associados a mensagens explicitas e incentivadoras ao suicido (“…pass the cemetary gates…”).Preparados para serem dominados? Até este sexto tema não consigo excluir um único duma compilação ao estilo antologia / Best-of. «Domination» não fica para trás na corrida, é impossível não deixar de fazer referencia a Dimebag a cada compasso! O mundo perdeu um guitarrista ícone, um verdadeiro Metal God (penso que os Judas Priest não se importarão que use a musica deles como caracterização). Do visual pesado, e sem as parolices que outras bandas se sujeitaram, ás guitarras com formatos únicos, e eternamente associados à banda que fazia sonhar a juventude mais alienada.
A primeira metade do álbum será para sempre o maior destaque de Cowboys From Hell, mas temas como «Shattered» não ficam atrás de «Heresy» mas com uma introdução de pedal duplo on-fire para ensurdecer qualquer fan do mundo mais pesado do Rock. Neste tema eu arriscaria em dizer que British Steel ou outros álbuns de Judas Priest andaram a rodar na aparelhagem da banda! As referencias vocais de Rob Halford são evidentes.

Machine Head nunca esconderam ao mundo a sua paixão pelos Pantera, seja feita justiça ao incrível tema de The Blackening «Aesthetics of Hate» dedicado ao falecido Dimebag. «Clash With Reality» poderia muito bem ser um tema dos candidatos ao estatuto de «novos Metallica» ( a par de projectos como Trivium e Mastodon onde muitos põem as esperanças).

«Medicine Man» demonstra um ar menos agressivo mas mais obscuro. É daqueles temas que funciona muito bem em álbum, mas que dificilmente não baixaria de nível ao vivo. O momento mais estável de um álbum cheio de pontos altos deixa o ouvinte repor o fôlego.
«Message in Blood» faz-me lembrar dos autores de Blood Mountain ao nível da guitarra na introdução, no entanto a estrutura musical tem semelhanças com o que hoje se faz no rock mais industrial como é o caso de Nine Inch Nails. Uma palavra descreve este solo- dramático!

Penso que a vontade de entrar num mosh-pit e fazer crowd surf é crescente, mas está na hora de «The Sleep», certamente um esboço da obra-prima que é «Cemetary Gates», este tema está feito para algum air-guitar. A harmonia da guitarra ritmo desta vez é tão ou mais importante na estrutura do tema, encaixam na perfeição. Premindo pelo instrumental acima do vocal, trata-se mais duma despedida da banda aos milhares de fans que rodam ainda hoje este Cowboys From Hell, possivelmente mais em mp3’s do que em CD’s.

Se «The Sleep» concluía o álbum, «The Art of Shredding» é o adeus em formato de encore arrebatador, deixando tudo e todos com vontade de mais! Mais Pantera! Considerados pela crítica como a melhor banda ao vivo, dentro do género obviamente, começam o seu trabalho logo no estúdio criando um seguimento na sua playlist ao que facilmente poderíamos apontar como setlist. 12 temas o compõe, e de forma pessoal aponto pelo menos 7 como temas obrigatórios!Todos temos uma década ao nível cultural em que nos identificamos, a minha será sem dúvida a de 90, e este pedaço de «barulho» é algo do que se fez de melhor nessa altura!É incrível como apenas 4 anos depois de Master of Puppets o Metal tenha mudado desta forma!

quarta-feira, 16 de maio de 2018

"Pet Sounds" dos Beach Boys, lançado a 16 de maio de 1966

Para todos aqueles que pensam que Beach Boys é apenas e só Barbara-Ann, Surfin’ USA e outras músicas a puxar para o teen dos early 60’s aqui fica a prova de que esta banda norte-americana, liderada por Brian Wilson, também teve os seus momentos geniais, e que momentos! Pet Sounds é a melhor resposta do outro lado do Atlântico ao fenómeno Beatles que arrasava os anos 60 de uma maneira inequívoca. Na altura o quarteto de Liverpool tinha lançado "Revolver", mais outro marco na história musical, sendo a partir daí que se dá uma mítica competição entre Brian Wilson e Paul McCartney, que leva ao aparecimento de álbuns como Pet Sounds, Smile (só editado em 2004 por Brian Wilson) por parte dos Beach Boys e Sgt Pepper’s (1967) por parte dos Beatles. Para quem esta época da música ainda é uma névoa, aqui fica o meu conselho: Oiçam tudo o que de melhor há, pois é provavelmente das melhores coisas que ouvirão certamente.
Factos históricos à parte, Pet Sounds é, de facto, delicioso. Aqui vemos os Beach Boys realmente no seu máximo, apenas suplantados pelo fantástico Smile apenas editado em 2004, mas isso é um assunto que fica para depois. Os habituais coros e as vozes bem trabalhadas são misturadas com uma panóplia de instrumentos e arranjos tão diversificados que impossibilitavam que discos como estes fossem tocados ao vivo. Estávamos realmente em tempos diferentes, tudo se fazia pela originalidade, coisa que muitas vezes não se encontra nos dias de hoje.
Há qualquer coisa que nos Beach Boys nos faz sempre sorrir e penso ser essa uma das grandes características e qualidades das suas músicas, “God Only Knows”, “Wouldn’t It Be Nice”, “Sloop John B”, “I’m Waiting For The Day” ou “Here Today” são exemplos disso.
Para quem apenas conhece Beach Boys pelos seus Best Of e não são poucos, realmente aconselho a ouvirem Pet Sounds, um dos melhores álbuns dos anos 60 e um dos melhores de sempre da música Pop/Rock.

domingo, 11 de março de 2018

A 11 de março de 1970, Crosby, Stills, Nash & Young lançam "Déjà Vu"

De três passam a quarto. CSNY, um dos supergrupos mais voláteis da história do rock, assinam a sua obra-prima logo à primeira tentativa.
O final da década de 60 foi pródigo na génese de supergrupos. Um dos que apareceu com mais convicção nasceu da união de David Crosby (ex-Byrds) com Stephen Stills (ex-Buffalo Springfield) e Graham Nash (ex-Hollies). Um trio que sabia extrair (melhor do que ninguém) os ensinamentos da folk de Dylan cruzando as harmonias vocais dos Beach Boys.
Em 1969 gravavam o seu disco de estreia, meses depois davam o seu segundo concerto para quase meio milhão de pessoas no festival Woodstock. A ascensão meteórica do grupo confirmava-os como super estrelas de um novo rock “made in USA” alimentado de canções acústicas em pleno convívio com o psicadelismo hippie da época. No entanto, se o grupo não se sentia satisfeito com o excesso de egos, eis que Stills convida o seu antigo companheiro dos Buffalo Springfield, Neil Young, para dar um ar ainda mais pomposo e rock à coisa (dois guitarras-solo é sempre melhor que um).
Músico versátil e já com dois discos a solo no bolso, Young era a força que o trio inicial precisava para manter “as pernas a andar”. Multi-instrumentista, armado de guitarras elétricas e órgãos meio jazzy, meio psicadélicos, Neil Young veio dar inevitavelmente um empurrão para que Déjà Vu fosse considerado uma obra-prima do rock.
A sua influência em canções como “Helpless” ou a suite “Country Girl” (um medley de três canções contidas numa só) decididamente deram aos CSN&Y um novo som que contemplava ao mesmo tempo várias direcções como a country, o rock ou a folk. Estavam aqui as futuras pistas do soft-rock californiano que anos mais tarde foram exploradas a fundo por grupos como os Eagles, os America ou Flying Burrito Brothers.
Esta influência positiva do seu mais recente membro, inspirou os outros a construírem canções que ainda hoje permanecem como uma das melhores do seu longo catálogo (quer em grupo, quer a solo). Nash trouxe a sua influência british pop ao de cima para misturá-la com alguns requintes country com os hits “Teach Your Children” e “Our House”. Crosby, sempre perseguido pelos seus fantasmas da droga assina aqui um grande tema rock com “Almost Cut My Hair” e Stills faz de “Carry On” uma das melhores canções para se ouvir em plena auto-estrada.
Mas não se pense que esta é uma obra para dar ênfase apenas a talentos individuais. A faixa “Woodstock” (uma versão de Joni Mitchell) é um desses raros momentos porque a palavra super-grupo não devia ser um termo sujo na indústria pop. E honras também para o melhor tema roqueiro do disco – “Everybody I l Love You” – com os seus duelos de guitarra entre Young e Stills.
Déjà Vu acaba por ser assim dos discos mais equilibrados da história do rock. Não só porque dá espaço a toda a gente de tocar como tem um conjunto de canções muito fortes e que ainda resistem passados quase 50 anos. Pena é que este colectivo nunca tenha gravado mais nada com esta magnitude e inspiração. Egos a mais ditaram aquilo que poderia ser uma brilhante carreira em comum. No entanto há sempre este “Déjà Vu” para voltar a recordar a magia de um grupo inato de talentos.

terça-feira, 6 de março de 2018

David Gilmour lança "On an Island", o seu 3º álbum a solo, há 12 anos.

“Remember that Night…white sails in the Moonlight…”

Já lá vão 24 anos desde o último disco de estúdio dos Pink Floyd – “The Division Bell”!
David Gilmour, ao contrário do que muitos pensaram, decidiu não prolongar por muito mais tempo a carreira do grupo “post- Roger Waters”.
Nos sete anos seguintes, a carreira musical ficou para trás. Montou uma empresa de aviões, casou-se, teve filhos e ajudou as mais diversas causas humanitárias pelo mundo fora. E foi precisamente por essas causas, que Gilmour voltou acidentalmente ao activo.
Estávamos em Julho de 2005. Bob Geldof organizador do “Live 8” consegue convencer os Pink Floyd (Gilmour, Mason e Wright) a juntarem-se a Roger Waters para uma actuação única e histórica em Hyde Park.
O grupo conseguiu não só convencer os mais cépticos (que nunca acreditariam em tal reunião), como também uma geração nova de fãs, ávidos de voltar a ver os Pink Floyd ao vivo. Nos meses seguintes, gerou-se uma enorme expectativa sobre o regresso dos Floyd à ribalta. Contudo, David Gilmour (detentor legal sobre os direitos de utilização do nome do grupo) optou por negar todos os rumores e pôs um ponto final na carreira da banda de Dark Side of the Moon.
"On an Island" foi o terceiro disco a solo de Gilmour, depois de "David Gilmour" (1978) e "About Face" (1984). A acompanhar o guitarrista, está um elenco de luxo: Rick Wright, teclista dos Pink Floyd; Guy Pratt, baixista das últimas digressões dos Pink Floyd; Robert Wyatt, vocalista e baterista dos Soft Machine e Phil Manzanera, guitarrista dos Roxy Music e co-produtor do álbum.
Musicalmente, o álbum é irrepreensível e transporta-nos imediatamente para os ambientes de nostalgia “Floydiana”. Basta escutar o primeiro tema, “Castellorizon” e está lá tudo. Os solos de guitarra imaculados, os teclados ambientais a juntar aos efeitos sonoros tão característicos da história da banda.
A voz de Gilmour continua fresca, no tema “On an Island” encontram-se afinidades com “Echoes” (de Meddle, 1971) e “Fat Old Sun” (de Atom Heart Mother, 1970). Liricamente é o melhor tema do álbum, com as vocalizações de Graham Nash e David Crosby a brilhar por entre os olhares do céu estrelado e viagens perdidas no meio do Oceano.
A nostalgia do tempo que já passou (“Pocket Full of Stones”), as pressões da meia idade (“Take a Breathe”) acabam por afectar a maré de um álbum, onde as letras a atirar para o Phil Collins, são o ponto menos bem aproveitado do disco (escute-se “This Heaven” ou “Smile”).
Polly Samson, jornalista e mulher de Gilmour, não tem certamente a visão “newtoniana” e inspirativa de um Roger Waters ou a alucinação criativa de um Syd Barrett. Não é propriamente um disco dos Pink Floyd, mas não anda longe. 

sábado, 3 de março de 2018

"Master of Puppets" dos Metallica, lançado a 3 de março de 1986.

Depois da evolução visível de Kill’m’All para Ride the Lightning, Metallica eram os Messias do Metal. A energia que Lars Ulrich, Kirk Hammett, Cliff Burton e James Hetfield transmitiam nos seus temas era algo como nunca dantes se tinha visto.
Em 1986 o auge era atingido. Para muitos o ponto máximo do Heavy Metal - Master of Puppets vinha a público.

Até à data álbuns de culto tinham sido lançados como Number of the Beast , Ace of Spades , Paranoid, British Steel, etc… Mas o mundo mesmo assim não estava preparado para a carga pesada do álbum que viria a ser de culto do Trash-Metal. Se Ride the Lightning pregava a partida aos ouvintes com a famosa introdução de «Fight Fire With Fire», «Battery» demonstra que este tipo de estrutura viria a ditar alguns dos temas mais pesados da carreira da banda ( «Blackened» de …And Justice For All por exemplo).Uma introdução pouco comum aos restantes mortais do metal dos anos 80, prova o estatuto de Deuses. Toquem o que tocarem sai sempre bem!Um dos melhores temas da banda ao vivo, “ cannot kill the battery” dita a velocidade de Lars Ulrich, possivelmente no seu melhor. Um tema que relembra os tempos de Kill’m’All mas que revela a experiência ganha com o crescimento mediático da banda.O momento mais do que obrigatório, a par de «Seek And Destroy», é daqueles temas que consegue por em comunhão fans old-school com os curiosos ouvintes do radiofónico Black Album – dando nome ao álbum, «Master of Puppets» é a maior epopeia da história do metal!Um Riff arrebatador logo ao passar dos primeiros segundos impossibilita qualquer ser humano que se preze de se tornar um autentico selvagem! Air guitar, mosh, crowd surf, circle pit, slam dancing, headbanging- meu deus! - dá para tudo!! James Hetfields diz ao publico para obedecermos ao nosso mestre - Assim o faremos! Mais do que viciante, sem dúvida um dos melhores temas da banda de San Francisco! A par do solo inicial de «One», este tema consegue encaixar na perfeição um momento de génio de Kirk Hammond. Se alguém ainda punha em causa a saída de Dave Mustaine, penso que agora Kirk acimentava o seu lugar na banda. É belo, é poético, é sentido. Como é que alguém se dá ao luxo de misturar tamanha delicadeza com tamanha violência?!8 minutos sensivelmente, e penso que ninguém seria capaz de tirar um segundo que fosse. Um final a trezentos á hora. «Creeping Death» ditava algo deste género mas mesmo assim, «Master of Puppets» consegue ainda deixar-me de queixo caído.A par de «Harvester of Sorrow», este tema seguinde prime pela importância dada ao peso e não á velocidade que tanto marca a cena Trash-metal.«The Thing That Should Not Be» é claustrofóbico, é diferente, é único. Da primeira vez que ouvi esta música confesso que fiquei confuso, o sentimento que me transmitiu não era óbvio ao ponto de conseguir formar uma opinião de seguida. A complexidade deste tema é subtil, não aparenta mas é um tema que não está lá para encher chouriços.É a primeira quebra do ritmo alucinante que os primeiros temas deixam como cauda dum meteorito gigantesco.
Carregando no Foward encontraremos um dos momentos mais tocantes da discografia dos Metallica. Para além de ícones do Metal, a banda será para a eternidade lembrada pelas suas baladas de fast pace. Depois de «Fade to Black» e abrindo caminho para «One», «Welcome Home (Sanatarium)» leva-nos para um mundo que ninguém está interessado em conhecer de perto. Um mundo onde “ The time stands still”, um mundo de medos e receios.O sentimento de abandono total.Os primeiros toques do sr. Hetfield nos agudos da sua guitarra marcam um compasso de nostalgia total. A raiva crescente culmina num sentido – “ just leave me alone!”. Mais um clássico da banda, que de forma alguma poderá ser esquecido no tempo. O solo final, o break de bateria – Metallica - está carimbado ! Ainda hoje podemos encontrar esta estrutura característica em temas como «The Day That Never Comes» do recente Death Magnetic.

«Disposable Heroes» marca uma vertente menos utópica, digna do imaginário do mundo do Metal, e toma contornos políticos. Heróis descartáveis, é assim que os Metallica representam soldados a mando, carne para canhão.Ridicularizam as causas da guerra e não temem a caracterização violenta de tais cenários. Os primeiros segundos deste tema elevam-nos a um caos total. “Are you out there?” pergunta repetidamente James nos concertos antes de abrir caminho a um dos riffs mais elementares de trash. Kirk Hammond e Lars Ulrich tomam as rédeas.” …bodies fill the fields i see…” Assim começa a letra só por si pesada.
Confesso que este tema é dos meus favoritos, tendo só uma vez o privilégio de o assistir uma vez apenas, em 2007 no festival Super Bock Super Rock.
É inevitável fazer mais uma vez o reparo, Lars no topo de forma, quer a nível de velocidade como de criatividade – nem sempre bem aceite.

Quando o momento mais fraco de todo um álbum continua a estar ao nível, é porque estamos na presença de algo único. «Lepper Messiah» diz-nos que é tempo de “kiss your ass good-bye”. Mas primeiro damos graças a algo superior por nos ter ofertado o trabalho de Cliff Burton. «Orion» recorda-nos o potencial do melhor baixista da história do Heavy-Metal.Ainda hoje um momento celebrizado por Rob Trujillo, assim como Jason Newsted o fazia em honra do seu antecessor. Um trabalho de baixo distorcido como só Burton se atrevera a explorar. O instrumental com maior carga emotiva, celebrizado a quando do fatal acidente que vitimara o seu autor.Ao vivo, e os fans mais atentos certamente confirmarão, a banda de San Francisco aproveita para dar uma falsa partida de palco aquando do infernal «Master of Puppets» dando tempo a soltar um dos temas com introdução como anteriormente expliquei… Pois bem, não temam por mais alto na música que se segue. Este tema fez-se para homens de barba rija, é pesado, é rápido, é violento. Não foi feito para parecer harmonioso ou com uma certa complexidade de estrutura. Foi feito para celebrar o caos total.«Damage Inc» tem um dos melhores compassos de bateria que poderão ouvir ao longo da vossa vida! “ Blood will follow blood!” faz temer os pais de todo o jovem adolescente que berra tais palavras no seu quarto como senão houvesse amanhã! E o solo final? Estaria Kirk Hammond em Ecstasy? A velocidade desde solo é fenomenal, que dupla infalível! Lars sempre ao ataque deve dar graças ao facto de não acabar com uma trombose tal é a velocidade das suas batidas! Sem dúvida alguma um dos temas mais pesados dos Metallica que fecham assim o álbum mais respeitado da história do Trash-Metal.