quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Beatles lançaram "White Album" há 50 anos.

"White Album" foi editado a 22 de novembro de 1968.

"White Album", considerado o disco menos 'disciplinado' dos Beatles, foi lançado a 22 de novembro de 1968, há exatamente 50 anos. O álbum foi gravado entre maio e outubro e conta com canções compostas depois de "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band" (1967).
Originalmente, o álbum da banda britânica não se chamava  "White Album", mas apenas "The Beatles". Ao contrário dos discos anteriores, que mostravam os membros do grupo na fotografia, a capa deste álbum era apenas um fundo branco com um título em letras pequenas, passando a ser conhecido como "o álbum branco".
“The White Album” foi o primeiro álbum dos Beatles lançado pela própria editora do grupo, a Apple Records. O registo duplo tornou-se um êxito, que entrou diretamente para o primeiro lugar do top de vendas do Reino Unido, mantendo-se durante oito semanas na liderança.
O disco também entrou para o número um da tabela de vendas dos Estados Unidos, onde se manteve durante nove semanas. Nos EUA, o álbum conquistou 19 Galardões de Platina e no ano 2000 entrou para o Hall of Fame dos Grammys.
"Back in the U.S.A.", " Ob-La-Di, Ob-La-Da", canção escrita por Paul McCartney que se tornou num dos sucessos da banda, "Happiness is a Warm Gun", "Martha My Dear" e "Blackbird" são algumas das 30 canções que fazem parte de "White Album".
Uma das críticas frequentes ao disco é que seria demasiado longo. George Martin, falecido produtor e diretor musical dos Beatles, revelou que tentou agradar à banda. "Fiz uma seleção das melhores canções. Queria colocá-las num LP único, mas eles não quiseram saber", contou.
John Lennon, por exemplo, insistiu em incluir “Revolution 9”, uma colagem de ruídos e efeitos sonoros que o músico elaborou ao lado da sua companheira, Yoko Ono.
"Durante 50 anos, o 'The White Album' convidou os ouvintes a aventurarem-se e a explorar a amplitude e a ambição da sua música, deliciando e inspirando novas gerações', frisa a Universal Music, que lançou este mês uma  reedição especial do disco.
"Os 30 temas do álbum foram novamente misturados pelo produtor Giles Martin e pelo engenheiro de som Sam Okell em stereo e 5.1 surround áudio, juntamente com 27 maquetes acústicas e 50 sessões de estúdio, a maioria delas nunca editadas até hoje", explica a editora.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

QUEEN: A Night at the Opera [21 de novembro de 1975]

Há 43 anos, os Queen lançavam o álbum "A Night at the Opera".

O título foi "roubado" a uma comédia delirante dos irmãos Marx, que tem apenas uma coisa em comum com o álbum: a loucura e o espírito irreverente e desejoso de quebrar todas as convenções possíveis e imagináveis. O epíteto surgiu depois dos quatro terem visto o filme num dia de gravações, mas é completamente diferente, a "ópera" dos QUEEN: um misto de poesia, alucinações, drama, tragédia, comédia e farsa, que se tornou, à época, no disco mais caro de sempre, no que diz respeito ao seu budget. Mas os custos elevados foram recompensados: a obra foi um sucesso de público e de crítica, e hoje permanece, para a opinião especializada, como um dos trabalhos mais originais da banda. E com toda a razão. «A Night at the Opera» é um grandioso "vulcão em erupção", e um dos momentos mais fervilhantemente criativos de inspiração do grupo. Desde o princípio até ao fim que os QUEEN revelam outras máscaras do seu imaginário, elaborando ligações complexas com os álbuns anteriores, criando elos para o futuro e demarcando novas etapas artísticas que só ficariam registadas neste disco. O êxito percorreu os dois lados do Atlântico: tanto no Reino Unido, onde os QUEEN ganhavam um culto crescente, e nos EUA, num número de vendas que lhes proporcionou o primeiro disco de platina no país, as novas histórias e mensagens da banda chegavam aos fãs e a novos ouvintes que se deliciaram, pela primeira vez, com o estilo único e sempre surpreendente que caracteriza cada uma das 12 faixas do disco. Entre rock mais ou menos ligeiro e orquestral, e o pop de tendências mais ou menos surreais, surge um espectáculo operático como nunca se ouviu antes nem depois, misturado com baladas, danças e filosofias. Ouvimos melhor o talento de cada um dos quatro membros do grupo, já que existe uma maior diversidade na autoria das canções e não uma centralização mais notória na dupla May-Mercury.

«Death on Two Legs (Dedicated to...)» é uma música com uma intenção (pouco) subliminar, que os primeiros segundos em piano tentam esconder - mas que rapidamente desaparecem para dar lugar a outra tonalidade melodiosa. Percebemos que Freddie Mercury está a insultar alguém, com toda a mistura de sons, vozes e instrumentos que escutamos ao longo da canção, contagiante. É uma música surpreendente em que os artistas se vingam dos managers dos quais se tinham finalmente libertado, que trouxeram alguns problemas económicos e angústias aos QUEEN. Segue-se-lhe uma música completamente diferente (e neste álbum, cada tema pouco ou nada tem em comum com os que se lhe antecedem), «Lazing on a Sunday Afternoon», um tema com um certo toque vintage que faz lembrar certos divertimentos do mundo do espectáculo burlesco do século XX. «I'm in Love with My Car» é mais uma grande amostra do rock de Roger Taylor, e «You're My Best Friend», de John Deacon, é não só um dos temas mais emblemáticos do álbum como também um dos mais alegres e orelhudos. «'39», de Brian May, é uma música fabulosa, um hino que segue os moldes do estilo skiffle (proeminente nos EUA em inícios do século), com elementos espirituais e filosóficos, totalmente fora das "convenções" que os QUEEN criaram no seu estilo e que as pessoas imediatamente caracterizam - quem diria que esta música é dos mesmos fulanos que fizeram o «Killer Queen», perguntariam os ouvintes de 75?
Depois temos ainda espaço para os (grandes) divertimentos proporcionados por «Sweet Lady» e «Seaside Rendezvous», de May e Mercury respectivamente, que reflectem ideias menos desenvolvidas anteriormente com uma nova frescura e abordagem. Mas há dois épicos no disco: um deles é o mais notável (e já lá chegaremos), e o outro é o mais esquecido «The Prophet's Song», uma música de May com algo de  rock progressivo, apocalíptico e sci-fi que os múltiplos coros e a voz-protagonista de Mercury acentuam de uma maneira espectacular, com uma história própria e uma comparação notável entre as várias fases da mesma, flutuando entre o desespero da Humanidade e a esperança e a salvação trazida pelo tal profeta da cantiga. Uma canção brilhante e excepcional, que estabelece ligação com a melodia mais bonita do álbum: «Love of My Life», o tema de todos os apaixonados, ontem, hoje, e amanhã, uma poética composição de Mercury que reflecte as desilusões e contradições do amor e das relações humanas - e que se revelou num enorme êxito nos concertos da banda. Depois, há mais um tema "folião" e divertido, «Good Company», uma composição simples, mas não menos interessante, inspirada e encantadora, de Brian May, ao som de um ukulele.

E eis que chegámos ao "outro" épico deste disco, e a música mais marcante, a nível cultural, social e popular, de «A Night at the Opera». O que se pode dizer sobre esta epopeia de dimensões cósmicas que não tenha já sido referido em milhentas outras ocasiões? É uma música que tem tudo e mais alguma coisa, e permanece uma das peças-chave do repertório dos QUEEN. É uma delícia para os ouvidos e uma viagem de descoberta "ultimate" pelas alucinações e devaneios de Freddie Mercury. Deu ao grupo prémios, honrarias e aclamações que ainda vão durar mais umas quantas décadas, influenciou muita gente e foi alvo de diversas "homenagens" (a mais popular da actualidade será a formidável recriação do videoclip original pelos Marretas). E por fim, temos «God Save the Queen», uma impecável versão rock instrumental do hino da Grã-Bretanha, que fecha uma saga de acontecimentos históricos e musicais maiores que o mundo... mas couberam todos num único disco.

Freddie Mercury dissera mais tarde que, em «A Night at the Opera», os QUEEN tiveram espaço para fazer coisas que não puderam concretizar em «QUEEN II» e «Sheer Heart Attack». "Fizemos coisas com a guitarra e com as vozes como nunca havíamos feito antes. Não houve qualquer limitação". A isto se juntou a inspiração elevada do grupo, que deu origem a várias composições - muitas delas presentes neste disco, e que são das mais refinadas da sua discografia, e outras acabaram por originar êxitos de álbuns posteriores (Mercury começava a pensar nessa altura num certo tema intitulado «We Are the Champions»). Foi o disco que trouxe à banda a grandiosidade, e definiu-os de uma vez por todas como uma das figuras mais marcantes da sua época na música. E todas estas condicionantes se reflectiram num álbum maravilhosamente construído, equilibrado, original, inovador e intemporal, que felizmente, continua tão forte, vivo, audaz e irresistível como há 43 anos. Nessa altura, todos estavam muito inspirados e contribuíram para este álbum genial de igual maneira. Surpreende a cada canção e a cada criação que os QUEEN transformam e retransformam em mil e uma metamorfoses, contradizendo-se constantemente nos seus temas e nas intenções de cada um - e isso, aqui, é algo muito importante, e incrível. Um disco imparável e excepcional, que marca o topo da primeira década de actividade dos QUEEN.