domingo, 19 de outubro de 2014

Simon & Garfunkel. 50 anos de um par de ases.

Arriscaram primeiras canções anos antes, continuaram a fazer história juntos até 1970, mas foi a 19 de Outubro de 1964 que lançaram o primeiro álbum, "Wednesday Morning, 3 AM"

Estes dois fizeram o que todos os miúdos sonham em conseguir mas (quase) nunca conseguem: depois de amigos na escola, seguem pela adolescência adentro a escrever canções, gravam discos, conquistam público em doses raras de ver, atropelam-se um no outro e no sucesso, separam-se, reúnem-se, separam-se outra vez (repetir esta dinâmica sempre que necessário) e ficam na história ainda a tempo de a gozarem por eles próprios e de a relatar a quem os segue. Tudo graças a uma mão cheia de discos gravados entre 1964 e 1969, com ponto de partida na edição que se fez às lojas neste mesmo 19 de Outubro mas contando 50 anos para trás. "Wednesday Morning, 3 AM", o primeiro álbum da dupla Simon & Garfunkel, começou isto tudo. Não foi o que mais vendeu, nem sequer é feito apenas de canções originais, mas em pouco mais de meia hora - seis temas para cada lado do disco - já ameaçava, já dizia "cuidado que nada será como antes". Não foi.

Para Paul Simon e para Art Garfunkel (hoje com 73 e 72 anos), a história cantada começou antes. Garfunkel era o puto maravilha que cantava em concursos de talentos, na rua, na escola, onde calhasse. E depois havia Simon, entalado entre Elvis Presley e os Everly Brothers. O rock'n'roll e as harmonias vocais moldara-lhe as primeiras ideias criativas (tirando isso só havia tempo para o baseball). Os dois acabariam por juntar ideias e gravar primeiras canções ("The Girl For Me" ou "Hey Schoolgirl"), usaram nomes como Tom & Jerry e nunca viram reconhecimento chegar-lhes perto. Nada de mais. Era só preciso mais tempo, mais espaço (Paul Simon haveria de levar guitarra e canções até Londres, em busca de outros cenários) e mais inspiração - sobretudo vinda do revivalismo folk que Nova Iorque acolheu no início dos anos 60.

Em Março de 64, esta rapaziada entra no estúdio onde Tom Wilson mandava - Wilson, o mesmo que já tinha inscrito o nome em discos de Sun Ra ou Bob Dylan (e que haveria de trabalhar com revolucionários como Frank Zappa ou os Velvet Underground). A Columbia gosta do que por ali se passa e arrisca-se a editar um primeiro álbum para a dupla que ainda não tinha nome. Ficar-se-iam pelos apelidos, à falta de ideia melhor e para que existissem dúvidas sobre o que acontecia naquelas gravações: Simon & Garfunkel, dois tipos, duas vozes, uma guitarra. Tanto em disco como em palco, que os primeiros concertos depois da estreia nos álbuns faziam-se de duas horas em palco. Dizia quem viu que não fazia falta mais nada.

A "Wednesaday Morning, 3 AM" faltavam ainda detalhes que fizeram a diferença a partir de 66 (sobretudo com "Parsley, Sage, Rosemary and Thyme"). Ficou em disco o cruzamento possível entre as duas realidades maiores da musicalidade de Simon & Garfunkel, a relação possível entre as paixões que descobriram nos anos 50 e o novo encanto que a simplicidade folk lhes despertava. E, assim sendo, nem a identidade que haveriam de criar estava ainda no ponto nem a magnífica capacidade de Paul Simon enquanto compositor estava já refinada coisa que chegasse para um longa duração de génio, do princípio ao fim. Mas já lá estava o sentido harmónico impossível de repetir fosse por quem fosse, já lá estava "The Sounds of Silence" a explicar que dali não vinham só cartas de namoro cantadas. Haveria mais e melhor, até "Bridge Over Trouble Water", de 1970, o último disco, que serviu de despedida antes de se tornar um dos álbuns mais vendidos de sempre. Simon & Garfunkel passaram tempo a mais juntos, relações assim têm sempre um prazo de validade e com estes dois não foi diferente.

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