sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Morreu o cantor belga Art Sullivan

Art Sullivan vendeu mais de dez milhões de discos nos anos 70 do século passado e foi um fenómeno de popularidade em Portugal.
O cantor morreu na noite do dia 26 de dezembro, de cancro do pâncreas, aos 69 anos. O músico belga teve vários sucessos nos anos 70 do século passado e vendeu mais de 10 milhões de discos. Se nem sempre foi reconhecido no seu país natal, houve outros que o adoptaram, como Portugal, a Alemanha ou a Polónia. Marc van Lidth de Jeude nasceu a 22 de Novembro de 1950, filhos de pais aristocratas — a mãe era prima da rainha Matilde. Descoberto pelo produtor belga Jacques Verdonck, editou a sua primeira canção em 1972, "Ensemble". Nos seis anos seguintes teve sucessos como "Petite fille aux yeux bleus", "Adieu sois heureuse", "Une larme d'amour" ou "Petite Demoiselle". Em 1978 pôs um ponto final na sua carreira, que só viria a retomar já neste século, mas sem editar música nova. Nos anos 1980 dedicou-se à produção audiovisual. Em 2010, numa entrevista à Lusa, quando lançou um álbum comemorativo de 35 anos de carreira, disse que deixou de cantar em 1978, por considerar “que não havia lugar” para a música que fazia. Sobre as suas canções, disse esperar que os mais novos as descobrissem e os mais velhos as recordassem. “Não tenho grandes pretensões culturais, faço música ligeira, canto uma canção simples que em três minutos faz sorrir e sonhar, e isso basta-me.
” Em 2013 explicou numa entrevista que voltou porque lhe pediram para editar as suas canções em CD. “Eu disse que sim, mas achava que ia vender 500 exemplares. Mas foi disco de ouro, de platina... Só em França vendeu 200.000 exemplares. Desde essa altura, voltei a fazer espectáculos e o meu público tem a possibilidade de regressar ao passado, de se projectar na sua adolescência.” Na mesma entrevista falou da sua relação com o público português e com o país: “Quando morrer, quero que as minhas cinzas sejam deitadas ao mar, em Cascais. Adoro Portugal, venho cá várias vezes por ano. Não é muito politicamente correcto, mas costumo dizer que a Bélgica é o meu amor e Portugal a minha amante.” Esteve em Portugal este Verão, num concerto na Expoeste, nas Caldas da Rainha. De acordo com a agência de notícias Belga, Art Sullivan contava festejar em 2020 os 45 anos de carreira, com dez “mega espetáculos”, em países como Argentina, Alemanha, Holanda e Polónia.

sábado, 14 de dezembro de 2019

Sobreviver no Mundo da Música...

A propósito do terceiro aniversário da morte de George Michael no próximo dia de Natal, dei comigo a observar a quantidade de estrelas da música já falecidas, o que aparentemente é normal pois todos havemos de morrer um dia, e quais as causas do seu falecimento. O que verificamos num primeiro olhar é que até à década de 1990, salvo raras excepções, a grande maioria morreu novo(a) tendo-se verificado que, a partir daí, andavam por cá mais uns anos. Por outro lado, as causas de morte até à mesma década eram invariavelmente atribuídas ao consumo excessivo de drogas, causando a típica overdose, sendo que a partir da década de 2000 as causas foram sendo essencialmente devido a problemas de saúde, com forte incidência no cancro. Transversal a todo o período de observação, da década de 1960 à actualidade, é a morte por problemas cardíacos, o que não é de estranhar devido ao estilo de vida que a grande maioria destes artistas tinha (têm).

Se fizermos a nossa observação por gerações, verificamos que na década de 1960 o obituário não foi muito grande uma vez que, para além do fenómeno da música à escala global estar a crescer, as grandes estrelas ainda usavam calções (ou saias), ou encontravam-se no início das suas carreiras, ou só mais tarde se viriam a revelar como tal. Ainda assim, figuras como Stuart Sutcliffe (21, baixista original dos Beatles), Patsy Cline (30), Bill Black (39, músico de Elvis Presley) ou Brian Jones (27, guitarrista dos Rolling Stones) faleceram por esta altura onde os acidentes eram frequentes e a medicina ainda estava a desenvolver conhecimento.

Já na década de 1970, muita coisa aconteceu. Se exceptuarmos a morte dos três elementos dos Lynyrd Skynyrd, Ronnie Van Zant (29) Steve Gaines (28) e Cassie Gaines (29) num acidente aéreo, e Elvis Presley por ataque cardíaco (apesar do abuso de drogas e barbitúricos), a lista de mortes por overdose é bastante extensa, estando nela incluídos grandes nomes da história do rock. Por ordem cronológica, começamos por três artistas pertencentes ao “Clube dos 27” (conjunto de artistas do panorama musical que faleceram com 27 anos de idade): Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, com a curiosidade de o nome de todos começar por J. Continuamos com  Gram Parsons (26, ex-guitarrista dos The Byrds), Paul Kossoff (25, guitarrista dos Free), Tommy Bolin (25, guitarrista dos Deep Purple), Keith Moon (32, baterista dos The Who) e Sid Vicious (21, baixista dos Sex Pistols), para além de muitos outros que se despediram deste mundo com uma overdose. Curiosa a morte de Leslie Harvey (27, guitarrista dos Stone the Crows) que foi electrocutado num microfone que não estava devidamente instalado, ou de Terry Kath (31, vocalista e guitarrista dos Chicago) que faleceu quando premiu o gatilho de uma pistola apontada à sua cabeça e que ele pensava estar…descarregada!

Durante a década de 1980 morreram figuras de grande vulto do mundo da música por motivos variados. Logo no início da década perdemos Bon Scott (33, vocalista dos AC/DC), Ian Curtis (23, vocalista dos Joy Division), John Bonham (32, baterista dos Led Zeppelin), John Lennon (40, vocalista e guitarrista dos Beatles), Bill Haley (55), Bob Marley (36) e James Honeyman-Scott (25, guitarrista dos The Pretenders). Todos eles só até ao final de 1982 e por razões variadas desde overdose, suicídio, doença ou assassinato. Em 1984 e 1987 morreram também Marvin Gaye (44) e Peter Tosh (42), ambos assassinados a tiro, um pelo próprio pai que estava com uma overdose… de álcool, e o outro durante uma tentativa de assalto, respectivamente. Andy Gibb (30, Bee Gees), Nico (49, vocalista dos Velvet Underground) e o grande Roy Orbison (52) deixaram-nos também nesta década, todos por motivos de saúde.

A lista relativa à década de 1990 é extensa e nela figuram alguns nomes que ainda hoje recordamos com saudade. Foi em Novembro de 1991 que Freddie Mercury (45, vocalista dos Queen), de seu nome de baptismo Farrokh Bulsara, nos deixou, após lutar contra um vírus que hoje seria possível controlar, o HIV (SIDA). Também não podemos deixar de lembrar o espírito irreverente de Frank Zappa (52) que faleceu vítima de cancro da próstata ou Kurt Cobain (27, vocalista dos Nirvana) que decidiu pôr termo à sua vida com uma caçadeira. Tom Fogerty (48, guitarrista dos Creedence Clearwater Revival), Steve Clark (30, guitarrista dos Def Leppard), Eric Carr (41, baterista dos Kiss), Rory Gallagher (47), Jeff Buckley (30) e John Denver (53), entre outros partiram também deste mundo por razões variadas, mas ainda com uma forte incidência em overdoses e problemas de saúde. Não é possível terminar esta década sem recordar o australiano Michael Hutchence (37, vocalista dos INXS) que morreu vítima de enforcamento em circunstâncias que ainda hoje não são muito claras.


Também na década de 2000, nomes grandes da música nos deixaram, mais velhos e grande parte deles por causas naturais. Benjamin Orr (53, vocalista dos The Cars),  Joey Ramone (49, vocalista dos Ramones), John Lee Hooker (83), George Harrison (58, guitarrista e vocalista dos Beatles), Joe Strummer (50, vocalista dos The Clash), Maurice Gibb (53, vocalista dos Bee Gees), Johnny Cash (71), Ray Charles (73), Johnny Ramone (55, guitarrista dos Ramones), Syd Barrett (60, vocalista e guitarrista dos Pink Floyd), James Brown (73) e Richard Wright (65, teclista dos Pink Floyd) morreram todos de causas naturais. Morreram também Dee Dee Ramone (50, baterista dos Ramones) e Ike Turner (76), estes já por overdose (comprovadamente menos que nas décadas anteriores!). Mas, como se já não bastasse a lista impressionante de colossos da música que desapareceram durante este período, em Junho de 2009 recebemos atónitos a notícia da morte do “Rei da Pop”, Michael Jackson , com apenas 50 anos de idade. Ainda hoje os contornos da sua morte estão envolvidos em mistério, tendo sido dada como aceite a teoria de que o seu médico “abusou” na dose de substância médica (anestésico) que utilizava para o pôr a dormir. Foi uma década dura para os amantes de música.

E entramos na década que agora está prestes a terminar, sendo que as notícias não são muito mais animadoras! Nestes quase dez anos deixaram-nos figuras como Ronnie James Dio (67), Gary Moore (58), David Jones (67, vocalista dos The Monkees), Robin Gibb (62, vocalista dos Bee Gees), Ray Manzarek (74, teclista dos The Doors), Lou Reed (71), Tommy Ramone (65, baterista dos Ramones), Joe Cocker (70), B.B. King (89), David Bowie (69), Chuck Berry (90), Tom Petty (66) e Malcolm Young (guitarrista dos AC/DC), todos por causas naturais ou doença. Faleceu em Julho de 2011 mais uma menina do “Clube dos 27”, Amy Winehouse, vítima de complicações causadas pelo consumo abusivo de álcool. Uma pena. Temos que recordar também duas figuras contemporâneas que nos deixaram cedo demais, corria o ano de 2016. Uma em Abril e a outra no dia de Natal. Prince Rogers Nelson faleceu com 57 anos vítima de uma overdose de analgésicos. O seu espírito criativo e capacidade de músico multifacetado perdurará para sempre nos anais da história da música dos anos 1980 até ao presente. Georgios Kyriacos Panayiouto, mais conhecido por George Michael, faleceu no seu “Last Christmas” com 53 anos vítima de uma insuficiência cardíaca. Também ele nos deixa um legado de musical que, tal como Prince, compunha e produzia. Com o desaparecimento de todas estas figuras, esta é também uma década muito dura para todos os que amam música.

Da observação destes dados é possível verificar que a sobrevivência no mundo da música é hoje em dia cada vez mais prolongada e, com um jeitinho, é possível chegar a velho(a) com alguma distinção e respeito dos seus pares e do público. Salvo algumas excepções, a maioria dos músicos tem vindo a ser cada vez mais selectivo na vida que leva. É claro, hoje em dia, que o consumo de drogas de forma desregrada não resulta, pois mais vale beber uns copos em família. Para além disso é aconselhável ter o acompanhamento médico necessário e recorrer a tratamentos que possam evitar males maiores. Em suma, temos hoje músicos mais maduros, pois evitam comportamentos de risco, o que é bom para todos nós, pois permite-nos ouvi-los por mais tempo!