sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Morreu o cantor belga Art Sullivan

Art Sullivan vendeu mais de dez milhões de discos nos anos 70 do século passado e foi um fenómeno de popularidade em Portugal.
O cantor morreu na noite do dia 26 de dezembro, de cancro do pâncreas, aos 69 anos. O músico belga teve vários sucessos nos anos 70 do século passado e vendeu mais de 10 milhões de discos. Se nem sempre foi reconhecido no seu país natal, houve outros que o adoptaram, como Portugal, a Alemanha ou a Polónia. Marc van Lidth de Jeude nasceu a 22 de Novembro de 1950, filhos de pais aristocratas — a mãe era prima da rainha Matilde. Descoberto pelo produtor belga Jacques Verdonck, editou a sua primeira canção em 1972, "Ensemble". Nos seis anos seguintes teve sucessos como "Petite fille aux yeux bleus", "Adieu sois heureuse", "Une larme d'amour" ou "Petite Demoiselle". Em 1978 pôs um ponto final na sua carreira, que só viria a retomar já neste século, mas sem editar música nova. Nos anos 1980 dedicou-se à produção audiovisual. Em 2010, numa entrevista à Lusa, quando lançou um álbum comemorativo de 35 anos de carreira, disse que deixou de cantar em 1978, por considerar “que não havia lugar” para a música que fazia. Sobre as suas canções, disse esperar que os mais novos as descobrissem e os mais velhos as recordassem. “Não tenho grandes pretensões culturais, faço música ligeira, canto uma canção simples que em três minutos faz sorrir e sonhar, e isso basta-me.
” Em 2013 explicou numa entrevista que voltou porque lhe pediram para editar as suas canções em CD. “Eu disse que sim, mas achava que ia vender 500 exemplares. Mas foi disco de ouro, de platina... Só em França vendeu 200.000 exemplares. Desde essa altura, voltei a fazer espectáculos e o meu público tem a possibilidade de regressar ao passado, de se projectar na sua adolescência.” Na mesma entrevista falou da sua relação com o público português e com o país: “Quando morrer, quero que as minhas cinzas sejam deitadas ao mar, em Cascais. Adoro Portugal, venho cá várias vezes por ano. Não é muito politicamente correcto, mas costumo dizer que a Bélgica é o meu amor e Portugal a minha amante.” Esteve em Portugal este Verão, num concerto na Expoeste, nas Caldas da Rainha. De acordo com a agência de notícias Belga, Art Sullivan contava festejar em 2020 os 45 anos de carreira, com dez “mega espetáculos”, em países como Argentina, Alemanha, Holanda e Polónia.

sábado, 14 de dezembro de 2019

Sobreviver no Mundo da Música...

A propósito do terceiro aniversário da morte de George Michael no próximo dia de Natal, dei comigo a observar a quantidade de estrelas da música já falecidas, o que aparentemente é normal pois todos havemos de morrer um dia, e quais as causas do seu falecimento. O que verificamos num primeiro olhar é que até à década de 1990, salvo raras excepções, a grande maioria morreu novo(a) tendo-se verificado que, a partir daí, andavam por cá mais uns anos. Por outro lado, as causas de morte até à mesma década eram invariavelmente atribuídas ao consumo excessivo de drogas, causando a típica overdose, sendo que a partir da década de 2000 as causas foram sendo essencialmente devido a problemas de saúde, com forte incidência no cancro. Transversal a todo o período de observação, da década de 1960 à actualidade, é a morte por problemas cardíacos, o que não é de estranhar devido ao estilo de vida que a grande maioria destes artistas tinha (têm).

Se fizermos a nossa observação por gerações, verificamos que na década de 1960 o obituário não foi muito grande uma vez que, para além do fenómeno da música à escala global estar a crescer, as grandes estrelas ainda usavam calções (ou saias), ou encontravam-se no início das suas carreiras, ou só mais tarde se viriam a revelar como tal. Ainda assim, figuras como Stuart Sutcliffe (21, baixista original dos Beatles), Patsy Cline (30), Bill Black (39, músico de Elvis Presley) ou Brian Jones (27, guitarrista dos Rolling Stones) faleceram por esta altura onde os acidentes eram frequentes e a medicina ainda estava a desenvolver conhecimento.

Já na década de 1970, muita coisa aconteceu. Se exceptuarmos a morte dos três elementos dos Lynyrd Skynyrd, Ronnie Van Zant (29) Steve Gaines (28) e Cassie Gaines (29) num acidente aéreo, e Elvis Presley por ataque cardíaco (apesar do abuso de drogas e barbitúricos), a lista de mortes por overdose é bastante extensa, estando nela incluídos grandes nomes da história do rock. Por ordem cronológica, começamos por três artistas pertencentes ao “Clube dos 27” (conjunto de artistas do panorama musical que faleceram com 27 anos de idade): Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, com a curiosidade de o nome de todos começar por J. Continuamos com  Gram Parsons (26, ex-guitarrista dos The Byrds), Paul Kossoff (25, guitarrista dos Free), Tommy Bolin (25, guitarrista dos Deep Purple), Keith Moon (32, baterista dos The Who) e Sid Vicious (21, baixista dos Sex Pistols), para além de muitos outros que se despediram deste mundo com uma overdose. Curiosa a morte de Leslie Harvey (27, guitarrista dos Stone the Crows) que foi electrocutado num microfone que não estava devidamente instalado, ou de Terry Kath (31, vocalista e guitarrista dos Chicago) que faleceu quando premiu o gatilho de uma pistola apontada à sua cabeça e que ele pensava estar…descarregada!

Durante a década de 1980 morreram figuras de grande vulto do mundo da música por motivos variados. Logo no início da década perdemos Bon Scott (33, vocalista dos AC/DC), Ian Curtis (23, vocalista dos Joy Division), John Bonham (32, baterista dos Led Zeppelin), John Lennon (40, vocalista e guitarrista dos Beatles), Bill Haley (55), Bob Marley (36) e James Honeyman-Scott (25, guitarrista dos The Pretenders). Todos eles só até ao final de 1982 e por razões variadas desde overdose, suicídio, doença ou assassinato. Em 1984 e 1987 morreram também Marvin Gaye (44) e Peter Tosh (42), ambos assassinados a tiro, um pelo próprio pai que estava com uma overdose… de álcool, e o outro durante uma tentativa de assalto, respectivamente. Andy Gibb (30, Bee Gees), Nico (49, vocalista dos Velvet Underground) e o grande Roy Orbison (52) deixaram-nos também nesta década, todos por motivos de saúde.

A lista relativa à década de 1990 é extensa e nela figuram alguns nomes que ainda hoje recordamos com saudade. Foi em Novembro de 1991 que Freddie Mercury (45, vocalista dos Queen), de seu nome de baptismo Farrokh Bulsara, nos deixou, após lutar contra um vírus que hoje seria possível controlar, o HIV (SIDA). Também não podemos deixar de lembrar o espírito irreverente de Frank Zappa (52) que faleceu vítima de cancro da próstata ou Kurt Cobain (27, vocalista dos Nirvana) que decidiu pôr termo à sua vida com uma caçadeira. Tom Fogerty (48, guitarrista dos Creedence Clearwater Revival), Steve Clark (30, guitarrista dos Def Leppard), Eric Carr (41, baterista dos Kiss), Rory Gallagher (47), Jeff Buckley (30) e John Denver (53), entre outros partiram também deste mundo por razões variadas, mas ainda com uma forte incidência em overdoses e problemas de saúde. Não é possível terminar esta década sem recordar o australiano Michael Hutchence (37, vocalista dos INXS) que morreu vítima de enforcamento em circunstâncias que ainda hoje não são muito claras.


Também na década de 2000, nomes grandes da música nos deixaram, mais velhos e grande parte deles por causas naturais. Benjamin Orr (53, vocalista dos The Cars),  Joey Ramone (49, vocalista dos Ramones), John Lee Hooker (83), George Harrison (58, guitarrista e vocalista dos Beatles), Joe Strummer (50, vocalista dos The Clash), Maurice Gibb (53, vocalista dos Bee Gees), Johnny Cash (71), Ray Charles (73), Johnny Ramone (55, guitarrista dos Ramones), Syd Barrett (60, vocalista e guitarrista dos Pink Floyd), James Brown (73) e Richard Wright (65, teclista dos Pink Floyd) morreram todos de causas naturais. Morreram também Dee Dee Ramone (50, baterista dos Ramones) e Ike Turner (76), estes já por overdose (comprovadamente menos que nas décadas anteriores!). Mas, como se já não bastasse a lista impressionante de colossos da música que desapareceram durante este período, em Junho de 2009 recebemos atónitos a notícia da morte do “Rei da Pop”, Michael Jackson , com apenas 50 anos de idade. Ainda hoje os contornos da sua morte estão envolvidos em mistério, tendo sido dada como aceite a teoria de que o seu médico “abusou” na dose de substância médica (anestésico) que utilizava para o pôr a dormir. Foi uma década dura para os amantes de música.

E entramos na década que agora está prestes a terminar, sendo que as notícias não são muito mais animadoras! Nestes quase dez anos deixaram-nos figuras como Ronnie James Dio (67), Gary Moore (58), David Jones (67, vocalista dos The Monkees), Robin Gibb (62, vocalista dos Bee Gees), Ray Manzarek (74, teclista dos The Doors), Lou Reed (71), Tommy Ramone (65, baterista dos Ramones), Joe Cocker (70), B.B. King (89), David Bowie (69), Chuck Berry (90), Tom Petty (66) e Malcolm Young (guitarrista dos AC/DC), todos por causas naturais ou doença. Faleceu em Julho de 2011 mais uma menina do “Clube dos 27”, Amy Winehouse, vítima de complicações causadas pelo consumo abusivo de álcool. Uma pena. Temos que recordar também duas figuras contemporâneas que nos deixaram cedo demais, corria o ano de 2016. Uma em Abril e a outra no dia de Natal. Prince Rogers Nelson faleceu com 57 anos vítima de uma overdose de analgésicos. O seu espírito criativo e capacidade de músico multifacetado perdurará para sempre nos anais da história da música dos anos 1980 até ao presente. Georgios Kyriacos Panayiouto, mais conhecido por George Michael, faleceu no seu “Last Christmas” com 53 anos vítima de uma insuficiência cardíaca. Também ele nos deixa um legado de musical que, tal como Prince, compunha e produzia. Com o desaparecimento de todas estas figuras, esta é também uma década muito dura para todos os que amam música.

Da observação destes dados é possível verificar que a sobrevivência no mundo da música é hoje em dia cada vez mais prolongada e, com um jeitinho, é possível chegar a velho(a) com alguma distinção e respeito dos seus pares e do público. Salvo algumas excepções, a maioria dos músicos tem vindo a ser cada vez mais selectivo na vida que leva. É claro, hoje em dia, que o consumo de drogas de forma desregrada não resulta, pois mais vale beber uns copos em família. Para além disso é aconselhável ter o acompanhamento médico necessário e recorrer a tratamentos que possam evitar males maiores. Em suma, temos hoje músicos mais maduros, pois evitam comportamentos de risco, o que é bom para todos nós, pois permite-nos ouvi-los por mais tempo!

sábado, 30 de novembro de 2019

Pink Floyd: 40 anos de um muro nascido da alienação

40 anos após o seu lançamento, a 30 de novembro de 1979, relembramos um dos discos mais importantes do percurso dos Pink Floyd, composto numa altura da carreira dos britânicos em que tudo parecia estar a ruir à sua volta. O isolamento e o medo foram a base da sua construção, mas sobressai uma mensagem de esperança. Eis “The Wall”, numa época em que voltamos a falar de muros.

Hello?
Is there anybody in there?

Mas não estava. O mundo parecia, aos olhos de Roger Waters, um vazio imenso e inóspito para onde fora atirado em nome do estrelato, onde em cada esquina uma sanguessuga se dispunha a deixá-lo apenas ossos, onde a verdade havia sido substituída por uma década de luzes e de trips psicadélicas, de histórias sobre loucura e morte, de saudades de amizades passadas, de governos maquiavélicos. O mundo, para Roger Waters, deixara de ser um conforto. Pior ainda: o mundo era-lhe agora desconhecido.

O culpado, o muro. Não um muro físico, mas um muro psicológico, mental, que o escondia numa tentativa de o fazer sobreviver, mesmo que essa perspetiva fosse, a cada dia, menos gloriosa. Waters, e os Pink Floyd, tinham chegado às posições cimeiras a que todas as bandas almejam; mas o resultado, como num pacto faustiano, não veio sem os seus sacrifícios. A perda de Syd Barrett em 1968 fora a primeira. As dívidas excessivas vieram a seguir. O isolamento dos membros do grupo, que progressivamente o deixaram de ser na verdadeira aceção de “grupo”, teimavam em rasgar a pele e os corações. E Waters, que tomou as rédeas dos Pink Floyd na era pós-Barrett, mostrava-se cada vez menos disposto a abrir-se ao mundo, a abrir mão da sua criatividade para a juntar às dos outros.

É certo que este isolamento nos deu obras ainda hoje canónicas dentro do rock: “Dark Side of the Moon” (1973), “Wish You Were Here” (1975) e “Animals” (1977) são peças fundamentais para perceber o quão revolucionários foram os Pink Floyd, e Roger Waters, dentro da história do género. Mas também nos deu uma outra, dolorosa, por se assemelhar tanto ao diário que o baixista poderia ter mantido ao longo dessa década de 70, sob a forma de uma alegoria: “The Wall”.

A história começa com o muro e o muro começou a ser construído muito antes dos Pink Floyd. Em 1944, com apenas cinco meses de idade, Waters perderia o pai na II Grande Guerra, durante a chamada Operação Shingle, na Itália, onde mais de 43 mil soldados Aliados perderam a vida. O trauma cresceria durante a infância e seria figura omnipresente ao longo de quase toda a sua vida. Um trauma que depressa se transformaria num sentimento de traição. Eric Fletcher Waters, o pai, tinha-se declarado objetor de consciência no período da Guerra, mudando as suas posições pacifistas mais tarde e juntando-se ao exército britânico. A traição sentida está precisamente nisso: no facto de Eric ter abandonado os seus ideais, apenas para, em última análise, morrer.
Não foi a única traição. No final dos anos 70, os Pink Floyd estavam no topo do mundo – nem a explosão punk os conseguiu tirar do pedestal – mas o sucesso, como comprovado vezes sem conta, é uma faca de dois gumes. Mais discos e mais concertos esgotados significavam mais pessoas, mas não necessariamente uma compreensão da mensagem (filosófica, política) que os Pink Floyd e Waters tentavam fazer passar. Os britânicos tinham uma audiência, mas esta era surda. E o ponto de ebulição foi atingido em 1977, durante um concerto no Estádio Olímpico de Montreal, parte da digressão “In the Flesh”, na qual os Pink Floyd tocaram pela primeira vez em estádios.

«Odiei, porque [os concertos] se tinham transformado num evento social, e não numa relação normal e controlada entre músicos e o público. As filas da frente gritavam, abanavam, não prestavam de facto atenção ao que ouviam. Quem estava mais atrás, não conseguia ver nada...»

A alienação sentida entre Waters e público, derivada desta mesma ideia – que parece soar tão verdadeira ainda hoje... – levou o músico a fazer algo que até então seria impensável: cuspir num dos seus próprios fãs, uma espécie de equivalente musical do famoso pontapé de Eric Cantona num adepto do Crystal Palace. E, ao contrário do que pensavam os punks de 1977, sempre dispostos a escarrar para o palco, a saliva não era de todo um elogio. Waters terminava a construção do seu muro, a antítese da ideia de humanidade: ela não existe se nos isolarmos dos humanos. Mas havia que deitá-lo abaixo, voltar a subir à tona de água para respirar.

O primeiro passo, de forma algo paradoxal, foi o de reconstruir esse muro, musical e literariamente. “The Wall” é sobretudo a história de Roger Waters e de como ele foi sofrendo até não aguentar mais, ao longo da sua carreira. História essa que é personificada por Pink, artista rock que vê o pai morrer na Guerra, que sofre bullying por parte dos seus professores primários, que se torna numa estrela amante de todo o tipo de deboches e que se isola do mundo em agonia misantropa, imaginando-se fascista e genocida, até um julgamento criado na sua própria cabeça o levar a descobrir que (ainda) há verde na Terra.

Já nos Pink Floyd, havia o vermelho: em 1978, as finanças do grupo estavam de tal forma sumidas que era necessário compor imediatamente um disco. Culpa do Norton Warburg Group, empresa de gestão financeira a quem os britânicos haviam confiado o seu dinheiro e que o perdeu em diversos investimentos de risco. Não fosse por “The Wall” e os Pink Floyd poderiam muito bem decretado falência e terminado logo ali, há 40 anos. Mas compô-lo poderia ser uma tarefa complicada sem alguém que lhes mostrasse o caminho. E esse alguém foi o produtor Bob Ezrin, que havia trabalhado com nomes como Alice Cooper ou Lou Reed e que ajudou a banda, e Waters, a encontrarem-se.
O resultado é uma das obras mais densas da carreira dos Pink Floyd, e o disco a que commumente associamos a expressão “ópera rock” (mesmo que “Tommy”, dos Who, o preceda em dez anos). Uma hora e vinte minutos de magia e soberba musical, agrupando vários estilos distintos: rock espacial ('In the Flesh?'), pós-rock antes de o termo ser cunhado ('Another Brick in the Wall, Part 1'), disco ('Another Brick in the Wall, Part 2'), abordagens folk ('Mother'), ópera propriamente dita ('The Trial') e, claro, o lamento elétrico de 'Comfortably Numn', onde os solos de guitarra de David Gilmour tomam a dianteira e elevam todo “The Wall” ao estatuto de culto.

Para além do som, a imagem – não só a que era criada em cada ouvinte com recurso aos poemas de Waters, mas também a que, em 1982, chegou aos cinemas pela mão de Alan Parker e Gerald Scarfe, com Bob Geldof no papel principal. “The Wall”, o filme, foi três anos após o disco um enorme sucesso a nível da crítica, e quiçá o “culpado” de ainda hoje falarmos da música com tanto respeito e carinho. A fusão perfeita entre todos os modos de criação. Uma obra de arte total.

À altura, nem foi visto dessa forma: muitos críticos insurgiram-se contra o maximalismo e o pretensiosismo da obra (convenhamos que, no final dos anos 70, o punk olhava dessa forma para tudo o que não fosse feito a partir de três acordes), que só começou a ganhar um estatuto canónico nas décadas seguintes ao seu lançamento. Mas o que a crítica não via, via-o o público, que o levou ao número um das tabelas de vendas durante várias semanas. Ao álbum, e à canção que com o passar do tempo granjeou um estatuto ainda maior que o do álbum: 'Another Brick in the Wall, Part 2', que fora do seu contexto passou a ser interpretada por milhões de gargantas por todo o mundo como canção de protesto. We don't need no thoughts control...

Para além de todo o existencialismo presente na obra, e se calhar é essa a sua maior virtude, está o facto de também transmitir uma mensagem de esperança aliada a um conselho precioso: quanto mais nos isolamos do mundo, quantos mais muros construímos, mais abrimos espaço ao ódio quando deveríamos fazê-lo com o amor. O disco termina e começa com uma frase cortada a meio – Não foi por aqui que viemos? – atestando à natureza cíclica dos muros, um loop imenso de depressão e apatia. Mas essas podem ser vencidas, e os muros podem ser derrubados, e as lutas podem ser constantes e eternas para nos lembrar de que estamos vivos. A grande lição de um disco como “The Wall”, relembrando sempre que um muro físico nos tolda o senso comum (seja em Berlim, seja em Israel, seja nos Estados Unidos), é a de que a fragilidade e o medo existem para serem vencidos. 40 anos depois, não olvidemos essa mensagem.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

WOODSTOCK - TRÊS DIAS DE PAZ, MÚSICA E AMOR


No verão do hemisfério norte de 1969, os mais representativos cantores e músicos da juventude da época, subiram ao palco improvisado de uma fazenda próxima ao vilarejo de Woodstock, na cidade rural de Bethel, próxima de Nova York. O evento, criado para gerar divisas para os organizadores, recebeu perto de 500 mil pessoas, que quebraram as cercas isolantes da fazenda e dos costumes, fazendo do festival a imagem de uma geração mergulhada na contracultura e na essência do seu tempo. Mais do que um festival de música popular, Woodstock foi um grito aos costumes, às guerras e a um sistema velho e pernicioso que oprimia e matava em nome da ideologia limitada da Guerra Fria.
Em 1969, a disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética pela hegemonia ideológica do planeta levou o homem a pisar a lua. A internet foi inventada para garantir a espionagem no mundo. Uma carnificina humana era travada nos campos do Vietname. A pílula, símbolo da liberdade corporal da mulher e da sua opção entre a maternidade e o prazer, era condenada pelo papa Paulo VI. O amor livre, uma descoberta recente, que ia além dos princípios da procriação catequizadora, pulsava na sexualidade dos jovens. As velhas ideologias e costumes já não condiziam com a revolução sociológica que acontecia no mundo. Os costumes morais ocidentais entraram em colapso diante da hipocrisia que o sustentava. Em 1968, gritos de contestação assolaram o mundo, de Paris a Praga, fazendo tremer as ideologias da Guerra Fria.
Foi diante da quebra de costumes e tabus, que surgiram os hippies, herdeiros da Geração Beat, que com as suas barbas e cabelos longos, pregavam a paz no mundo, o culto ao amor livre, à contracultura e à plenitude da alma humana, traduzida na essência psicadélica da música e no misticismo importado da divindade e gurus orientais.
Em Woodstock, do dia 15 a 18 de agosto de 1969, 500 mil jovens puderam viver a essência do comportamento hippie e o seu apogeu. Regados a drogas que se legitimaram durante o festival, ouvindo a música dos seus ídolos, dançaram nus, fizeram amor, conviveram pacificamente. Durante quatro dias tudo foi permitido, 500 mil pessoas fizeram de Woodstock o maior e mais mítico dos festivais da história da música no planeta. Era o apogeu do movimento hippie, e também o seu grande final, o último fôlego de um sonho que mergulharia no psicadelismo do inicio dos anos setenta, tendo vários dos seus ídolos tragados pela droga. Várias foram as vezes que se tentou repetir o festival, mas Woodstock foi único, ficou preso nos sonhos daqueles jovens cabeludos de roupas coloridas ou nus, que debaixo de chuva e lama, conseguiram fazer dos homens de ideais velhos, senhores de corações novos.

Da Geração Beat aos Hippies

A contracultura, que assolaria a segunda metade do século XX, teve o seu início demarcado pela publicação do poema “Howl”, de Allen Ginsberg, em 1956. Ginsberg foi o representante máximo do que ficou conhecido como a beat generation (geração beat) e pode ser considerado um dos progenitores do movimento hippie.
Os Beats usavam as palavras de forma que exprimissem as frustrações quotidianas e existenciais, servindo de protesto contra aquilo que consideravam estar errado no mundo. O movimento cresceu nos últimos anos da década de 1950, expandindo-se por clubes e cafés de jazz, onde os seus componentes se juntavam para longas tertúlias e declamação de poesia. Neste ambiente de espaços intelectuais emergentes, homens de barbas, vestindo roupas informais caracterizadas, conhecidas como shabby; usando óculos escuros a qualquer hora do dia, passaram a ser conhecidos como os “Beatniks”.
Os beatniks tinham uma expressão frequente com a qual se apresentavam: “I’m hip”. Com o seu modo “hip” de expressão, passaram a ser chamados de “hipsters”, de onde teria evoluído para o termo “hippies”, conforme o movimento entrava em decadência e fora dos modismos.
Nascido nos Estados Unidos, o movimento hippie espalhou-se pelo mundo, levando a contracultura aos jovens de todo o planeta nos últimos anos da década de 1960. A contracultura hippie atingia na sua essência, os jovens estudantes das universidades, que reprimidos entre os velhos costumes e conceitos judaico-cristãos da sociedade em que se inseriam, entre a ameaça de se ter que lutar e morrer pelos ideais da Guerra Fria nas batalhas do Vietname; assumiam a utopia da paz, a contestação das funções da sexualidade, trocando o vazio deixado pelos preceitos falidos da igreja cristã pelo misticismo de crenças milenares de deuses hinduístas.

Faz Amor, Não Faças Guerra

Jovens hippies abandonavam o conforto dos seus lares, que se revelava opressivo, rumando para os centros urbanos, principalmente para São Francisco, na Califórnia. A cidade da costa californiana tornara-se o maior centro do movimento hippie, onde se concentrou um imenso número de comunidades hippies. Foi em São Francisco que, em 1967, Scott McKenzie gravou a canção “San Francisco”, de John Phillips, que se tornou o grande hino do movimento. A canção dizia, nos seus versos de melodia suave e doce, para os que rumavam à cidade dos hippies: “Be sure to wear some flowers in your hair” (“Não te esqueças de usar algumas flores no teu cabelo”). Estava estabelecido o estilo hippie, os seus integrantes vestiam-se com túnicas e roupas coloridas, traziam sandálias, cabelos compridos (homens e mulheres) e barba (homens). A flor passou a ser um dos símbolos do movimento, sendo chamado por alguns de movimento “Flower Power”.
Os hippies opunham-se às guerras; defendiam a paz e o amor no mundo; o amor livre e de todas as formas, quer no sentido de amar o próximo e na forma mais libertária de praticar o sexo. Tudo era partilhado, os bens materiais, a comida, os companheiros, ninguém era de ninguém. A palavra de ordem do movimento ecoou pelo mundo: “Make Love Not War” (Faz Amor, Não a Guerra).
Seguidores das filosofias orientais e pacifistas de Ghandi, as comunidades hippies utilizavam-se do consumo de drogas, em especial do então recém descoberto LSD, que na época não era considerado perigoso, não tendo o seu uso proibido. Através das drogas, os hippies achavam que a mente era aberta mais rapidamente.
Era através da música pop e do rock, movidas por baladas melodiosas e ritmos frenéticos, que a cultura hippie alcançava a sua expressão máxima. Feitas sob o efeito das drogas, as músicas que traduziam a filosofia hippie eram ouvidas por todos, que também drogados, assimilavam nas canções o princípio da mente sem amarras, libertada. Este momento lúdico produzido por químicos, foi chamado de psicadélico. O clima psicadélico estendeu-se da música para a arte, evidenciando-se na composição das capas dos discos e dos cartazes, muito coloridos, com letras fluídas e deformadas, com desenhos caleidoscópicos, reproduzindo a deformação e o alongamento de imagens que se reflectiam durante o efeito de certas drogas. 

O professor universitário Timothy Leary tornou-se o grande líder espiritual do movimento hippie, resumindo os principais aspectos da contracultura daquela geração no slogan: “Turn On, Tune In, Drop Out”.
Turn On (ligar), significava, através do consumo das drogas, ligar a luz da mente, tornando-a uma grande dimensão libertária.
Tune In (sintonizar), era estar atento ao mundo e ao rompimento com o estabelecido, aderindo ao estilo de vida hippie.
Drop Out (sair, abandonar), era a palavra de ordem do movimento para que se abandonasse o estilo de vida tradicional, rompendo com os costumes morais da família, com as expectativas das carreiras estabelecidas. Foi nos meandros da filosofia drop out que se estabeleceu o movimento do desbunde no Brasil do início dos anos 1970.
Foram cerca de 500 mil desses jovens hippies que, no dia 15 de agosto, rumaram para o interior de Nova York, atrás de um festival de música que se intitulava como “Uma Exposição Aquariana”. Lá, quebraram as cercas da fazenda e, em um momento lúdico da expressão hippie e da música popular, entraram para a história com o mítico festival de Woodstock.

Projetando o Festival

Em 1969, John P. Roberts e Joel Rosenman, empresários em busca de um negócio que lhes trouxesse lucro, puseram um anúncio no “New York Times” e no “Wall Street Jounal”, sob o nome de Challenge International, Lda, que dizia: “Jovens com capital ilimitado buscam oportunidades legítimas e interessantes de investimento e propostas de negócio”. Michael Lang e Artie Kornfeld responderam ao anúncio. Estava formado o quarteto que iria realizar o lendário festival de Woodstock.
Após reunirem-se, Michael Lang, John P. Roberts, Joel Rosenman e Artie Kornfeld pensaram na criação de um estúdio de gravação em Woodstock. Aos poucos, a idéia foi sendo abandonada, evoluindo para a de um festival de verão de música e arte ao ar livre. Vencidas as dúvidas de Roberts, que procurava investir em um projeto lucrativo, e ao ludismo de Lang, que queria criar um evento atrativo e de diferente proposta juvenil, foram erguidas as bases para que se realizasse um festival de música ao ar livre no verão daquele ano.
Longe dos princípios da contracultura hippie, o projeto de Woodstock, embora arriscado, concebia um festival com fins lucrativos a favorecer quem o empresariasse. Para financiá-lo, foi criada a empresa “Woodstock Ventures”.
Inicialmente, foi agendado um concerto para ser realizado no Parque Industrial de Wallkill, Orange County, no nordeste de Middletown. O local chegou a ser alugado pela Woodstock Ventures durante a primavera, por cem mil dólares. Mas os moradores do lugar fizeram forte oposição, e as autoridades de Wallkill proibiram o concerto em julho de 1969.
Com a proibição, entrou em cena Eliot Tiber, que ofereceu a sala 80 do El Mônaco Motel, em White Like, Bethel, Nova York, para que o festival fosse realizado. Mas a idéia ficou inviável diante do tamanho do local. Tiber foi quem apresentou os produtores ao fazendeiro Max Yasgur, que concordou, em 20 de julho de 1969, em alugar, por setenta e cinco mil dólares, seiscentos acres da sua fazenda de produção leiteira, situada na vila rural de Bethel, em Sullivan County, a sudoeste do vilarejo de Woodstock, Nova York.
Estava definido o local que receberia o grande festival, inicialmente programado para um público máximo de duzentas mil pessoas.

Quase Meio Milhão de Pessoas Rumam para o Festival

Definido o local do festival, foram postos à venda antecipadamente, cerca de cento e oitenta mil bilhetes, vendidos em lojas de discos e na zona metropolitana de Nova York, ou ainda, através de uma caixa postal. Custavam dezoito dólares comprados antecipadamente e, vinte e quatro dólares adquiridos no dia nos portões do evento. Os cartazes anunciavam os três dias do festival 15, 16 e 17 de agosto de 1969, como um evento de música e arte de “Uma Exposição Aquariana” (An Aquarian Exposition).
As expectativas de juntar uma platéia de duzentas mil pessoas, foram absolutamente superadas, quando, imprevisivelmente acederam ao local cerca de quinhentas mil pessoas. Com eles vinha o furor da juventude hippie, os sonhos e os ideais da geração “Flower Power”, e todas as licitudes do que dantes parecia ser proibido.
Assim, no dia 15 de agosto de 1969, uma sexta-feira de verão no hemisfério norte, uma legião de jovens cabeludos assolou a fazenda de Max Yasgur. A primeira regra a ser quebrada foram as cercas da fazenda que ladeavam o
palco, postas abaixo, tornando o evento gratuito. Mediante o acesso de tantas pessoas, as vias que ligavam Nova York ao local tornaram-se caóticas, intransitáveis, com um dos maiores congestionamentos da história da cidade. Bethel foi transformada em área de calamidade pública, diante da deficiência na infraestrutura logística, que não comportava tanta gente. Milhares de pessoas viram-se sem instalações sanitárias, preparos para que se efetuassem os primeiros socorros médicos a quem necessitasse, comida para todos, e, para piorar a situação, o local sofreu com uma grande tempestade, que fez do chão um rio de lama. As pessoas tiveram que enfrentar a fragilidade da higiene local, a chuva que caia sem perdão, e ainda racionar a comida.
Mesmo diante de uma catástrofe iminente, o festival trouxe um encontro pacífico, com jovens a enfrentar não somente as adversidades climáticas e de infraestrutura, como aos preconceitos e aos costumes da sociedade da sua época. Vestidos ou nus, receberam com um calor jamais repetido, aos ídolos que marcaram com brilho o nome da música popular do século XX. Entre a chuva e a música, jovens em busca de um sonho e de um tempo novo, derrubavam os costumes, faziam amor entre si, envoltos na psicodelia das suas mentes, que se abriam através da farta quantidade de drogas ingeridas e do prazer em quebrar os tabus.
No final do festival, após o susto da possível catástrofe, apenas duzentas pessoas foram presas no local, por ofensas menores e sem gravidades, profundamente minimizadas diante do estado incontestável do efeito das drogas por eles ingeridas. No meio da multidão, apenas duas mortes foram registradas, sendo uma delas em conseqüência de uma overdose de heroína; a outra envolveu um atropelamento de uma pessoa por um trator. No meio da psicodelia do festival, quatro abortos foram provocados; e dois partos foram efetuados, um dentro de um helicóptero de resgate, outro dentro de um carro preso ao grande congestionamento da principal via que conduzia a Nova York.
O festival entraria para a história não pelas pequenas catástrofes, quase insignificantes diante de meio milhão de pessoas juntadas em um local com condições precárias, mas pela empatia entre o artista e o público, que juntos acalentavam a ideologia contestadora dos anos de 1960, que quando consumada, traria aos costumes novos e definitivos códigos morais. A sexualidade seria desbravada, trazendo uma liberdade ao corpo que só seria freada com o surgimento da Aids no início da década de 1980. Mais do que um dos encontros mais ricos de grandes artistas da música, Woodstock desenhou um quadro de pintura realista diante de uma utopia, diante de um comportamento social de um público que por quatro dias, cumpriu com uma harmonia arrebatadora os seus sonhos de juventude e de um novo mundo.

O Festival e os Seus Bastidores

Grandes nomes compuseram o um mítico espetáculo, entre eles Jimi Hendrix, Richie Havens, Joan Baez, John Sebastian, The Who, Joe Cocker.
Alguns nomes históricos da música internacional ficaram de fora, muitos por motivos pessoais, como os The Doors, que inicialmente concordaram em fazer parte do festival. Conversas de bastidores apontam para o cancelamento de ultima hora da banda em razão de o espetáculo não ter sido feito no Central Park, e sim em um local rural. Outros dizem que foi devido ao medo de Jim Morrison, vocalista da banda, em cantar ao ar livre, pois a sua voz sairia inexpressiva. Há ainda a versão de que o vocalista, acometido por uma paranóia psicodélica, entrou em pânico, com medo de ser morto em público. Anteriormente, Morrison tinha sido preso em um show por postura indecente. Da mítica banda ausente, John Densmore, seu guitarrista, foi o único que compareceu ao festival.
Os Beatles não compareceram ao festival devido à produção não chegar a um acordo com John Lennon. Para levar a banda inglesa, Lennon exigiu que a Plastic Ono Band, da sua mulher Yoko Ono, também tocasse. A recusa dos produtores invalidou a presença dos Beatles.
Outra banda que declinou ao convite de última hora foi a canadense Lighthouse, pois temeram que o evento pudesse denegrir a sua imagem. Mais tarde, diante das evidências históricas do festival, alguns membros da banda declararam-se arrependidos de não terem ido.
Led Zeppelin também foi convidada para tocar no festival, mas Peter Grant, empresário da banda, declinou ao convite, por pensar que a apresentação não lhes traria lucros ou visibilidade, pois seriam mais um em uma extensa lista. Decidiram seguir em turnê.
O mesmo aconteceu a Frank Zappa e The Mothers of Ivention, que alegaram haver muita lama em Woodstock. The Jeff Beck Group teve que cancelar a sua apresentação, pois a banda terminou uma semana antes do festival. Os Iron Butterfly ficaram presos no aeroporto.
Assim, seja qual tenha sido a razão pela qual algumas bandas ou cantores declinaram de tocar em Woodstock, maior foi o arrependimento de não ter participado de um evento considerado como um daqueles que mudaram a história do rock.

O Primeiro Dia, 15 de Agosto (Sexta-Feira)
Assim, com uma platéia de cerca de quinhentas mil pessoas, com o som projetado por Bill Hanley, naquela tarde de verão de 1969, às 17h00, Richie Havens abria oficialmente o festival de Woodstock.
O primeiro dia teve como característica a apresentação de um elenco de músicos mais leves, em que se subiu ao palco a maior parte dos artistas folks convidados. Após a apresentação de Richie Havens, Swami Satchidananda deu a invocação ao festival. Country Joe McDonald tocou separado da sua banda, os The Fish.
Uma chuva incessante começou a cair durante a atuação de Ravi Shankar, que apresentou um repertório de cinco músicas debaixo da água. Joan Baez, grávida de seis meses, foi quem fechou o primeiro dia do festival.
Naquele dia apresentaram-se:

Richie Havens 


1 High Flyin’ Bird
2 I Can’t Make it Any More
3 With a Little Help from My Friends
4 Strawberry Fields Forever
5 Hey Jude
6 I Had a Woman
7 Handsome Johnny
8 Freedom / Sometimes I Feel Like a Motherless Child

Swami Satchidananda (invocação)

Country Joe McDonald

1 I Find Myself Missing You
2 Rockin All Around the World
3 Flyin’ High All Over the World
4 Seen a Rocket Flyin’
5 The Fish Cheer / I Feel Like I’m Fixin’ To Die Rag

John Sebastian

1 How Have You Been
2 Rainbows Over Your Blues
3 I Had a Dream
4 Darlin’ Be Home Soon
5 Younger Generation

Sweetwater

1 What’s Wrong
2 Motherless Child
3 Look Out
4 For Pete’s Sake
5 Day Song
6 Crystal Spider 

7 Two Worlds
8 Why Oh Why

The Incredible String Band

1 Invocation
2 The Letter
3 This Moment
4 When You Find Out Who You Are

Bert Sommer

1 Jennifer
2 The Road to Travel
3 I Wondered Where You Be
4 She’s Gone
5 Things are Going My Way
6 And When it’s Over
7 Jeanette
8 America
9 A Note that Read
10 Smile

Tim Hardin

1 If I Were a Carpenter
2 Misty Roses

Ravi Shankar

1 Raga Puriya-Dhanashri / Gat in Sawarital
2 Tabla Solo In Jhaptal
3 Raga Manj Kmahaj
4 Iap Jor
5 Dhun In Kaharwa Tal 


Melanie
1 Tuning My Guitar
2 Johnny Boy
3 Beautiful People

Arlo Guthrie

1 Coming Into Los Angeles
2 Walking Down the Line
3 Story About Moses and the Brownies
4 Amazing Grace

Joan Baez

1 Story About How the Federal Marshals Came to Take David Harris Into Custody
2 Joe Hill
3 Sweet Sir Galahad
4 Drugstore Truck Driving Man
5 Sweet Sunny South
6 Warm and Tender Love
7 Swing Low, Sweet Chariot
8 We Shall Overcome

O Segundo Dia, 16 de Agosto (Sábado)
No segundo dia, o festival foi aberto às 12h15 da tarde, com a banda Quill. A característica desse dia de sábado foi marcada pela apresentação dos principais artistas psicodélicos e de rock do festival.
Destaque para a apresentação da banda Grateful Dead, que enfrentaram problemas técnicos, como um pedaço do palco com o chão defeituoso. A banda tocou debaixo de chuva, o que levou dois dos seus integrantes, Jerry Garcia e Bob Weir a sofrerem com choques constantes todas às vezes que se encostavam às guitarras. Phil Lesh, o baixo, diz ter ouvido o rádio de transmissão de um helicóptero através do amplificador do contrabaixo enquanto tocava.
No seu repertório de uma hora, Moutain incluiu “Theme For Na Imaginary Western”, de Jack Bruce. Janis Joplin voltou em dois bis, “Piece of My Heart” e “Ball & Chain”.
As apresentações entraram pela madrugada. Os The Who começaram a tocar às 4h00 da madrugada, trazendo no seu repertório a ópera rock “Tommy”. O dia foi encerrado com a apresentação da banda Jefferson Airplane, que subiram ao palco às 6h00 da manhã, com oito músicas.
No sábado apresentaram-se:

Quill 

1 They Live the Life
2 BBY
3 Waitin’ for You
4 Jam

Keef Hartley Band

1 Spanish Fly
2 Believe in You
3 Rock me Baby
4 Medley
5 Leavin’ Trunk
6 Sinnin’ for Yoy

Santana
1 Waiting
2 You Just Don’t Care
3 Savor
4 Jingo
5 Persuasion
6 Soul Sacrifice
7 Fried Neckbones

Country Joe McDonald

1 The Fish Cheer

Canned Heat

1 A Change is Gonna Come / Leaving this Town
2 Going Up the Country
3 Let’s Work Together
4 Woodstock Boogie

Mountain 

1 Blood of the Sun
2 Stormy Monday
3 Long Red
4 Who Am I But You and the Sun
5 Beside the Sea
6 For Yasgur’s Farm
7 You and Me
8 Theme for an Imaginary Western
9 Waiting to Take You Away
10 Dreams of Milk and Honey
11 Blind Man
12 Blue Suede Shoes
13 Southbound Train

Janis Joplin

1 Raise Your Hand
2 As Good as You’ve Been to this World
3 To Love Somebody
4 Summertime
5 Try (Just a Little Bit Harder)
6 Kosmic Blues
7 Can’t Turn You Loose
8 Work me Lord
9 Piece of My Heart
10 Ball & Chain

Grateful Dead

1 St. Stephen
2 Mama Tried
3 Dark Star / High Time
4 Turn on Your Love Light

Creedence Clearwater Revival 


1 Born on the Bayou
2 Green River
3 Ninety-Nine and a Half (Won’t Do)
4 Commotion
5 Bootleg
6 Bad Moon Rising
7 Proud Mary
8 I Put a Spell On You
9 Night Time is the Right Time
10 Keep on Chooglin’
11 Suzy Q

Sly & The Family Stone

1 M’Lady
2 Sing a Simple Song
3 You Can Make it if Your Try
4 Everyday People
5 Dance to the Music
6 I Want to Take You Higher
7 Love City
8 Stand!

The Who

1 Heaven and Hell
2 I Can’t Explain
3 It’s a Boy
4 1921
5 Amazing Journey
6 Sparks
7 Eyesight to the Blind
8 Christmas
9 Tommy Can You Hear Me?
10 Acid Queen
11 Pinball Wizard
12 Abbie Hoffman Incidente
13 Do You Think It’s Alright? 

14 Fiddle About
15 There’s a Doctor
16 Go to the Mirror
17 Smash the Mirror
18 I’m Free
19 Tommy’s Holiday Camp
20 We’re Not Gonna Take It
21 See Me, Feel Me
22 Summertime Blues
23 Shakin’ All Over
24 My Generation
25 Naked Eye

Jefferson Airplane

1 Volunteers
2 Somebody to Love
3 The Other Side of This Life
4 Plastic Fantastic Lover
5 Won’t You Try / Saturday Afternoon
6 Eskimo Blue Day
7 Uncle Sam’s Blues
8 White Rabbit

O Terceiro Dia, 17 de Agosto (Domingo)

Programado para ser o último dia do festival, os eventos sofreriam um atraso de nove horas, o que fez com que as apresentações continuassem pela madrugada do dia 18, alcançando o pôr do sol, apesar da maioria do público já ter ido embora.
O festival abriu o dia às 14h00, com a apresentação antológica de Joe Cocker, que cantou entre outras músicas, o hino lisérgico “Let’s Go Get Stoned”. Após a apresentação de Joe Cocker, iniciou-se um forte temporal, o que levou à interrupção do festival por várias horas, só sendo reiniciado às 18h00, com a apresentação de Country Joe And The Fish.
Entre as curiosidades daquele dia, destaca-se a apresentação de Johnny Winter, que trouxe o irmão Edgard Winter a participar de duas canções. Crosby, Stills, Nash & Young começaram a apresentação por volta das 3h00 da manhã, com um set acústico e outro set elétrico, separados.
Mas o grande destaque do dia foi Jimi Hendrix, que fechou o festival. Graças aos imprevistos que levaram ao atraso das apresentações, Hendrix só pôde tocar na manhã da segunda-feira, para um público restante de apenas trinta e cinco mil pessoas. Durante a execução de “Red House”, uma corda da guitarra do artista quebrou, mas ele continuou a tocar com apenas cinco cordas.
No último dia, de 17 para 18 de agosto, apresentaram-se:

Joe Cocker 


1 Dear Landlord
2 Something Comin’ On
3 Do I Still Figure In Your Life
4 Feelin’ Alright
5 Just Like a Woman
6 Let’s Go Get Stoned
7 I Don’t Need a Doctor
8 I Shall Be Released
9 With a Little Help From My Friends

Country Joe And The Fish

1 Rock and Soul Music
2 Thing Called Love
3 Love Machine
4 The Fish Cheer / I Feel Like I’m Fixin’ To Die Rag

Ten Years After

1 Good Morning Little Schoolgirl
2 I Can’t Keep From Crying Sometimes
3 I May Be Wrong, But I Won’t Be Wrong Always
4 Hear me Calling
5 I’m Going Home

The Band
1 Chest Fever
2 Tears of Rage
3 We Can Talk
4 Don’t You Tell Henry
5 Don’t Do It 

6 Ain’t No More Cane
7 Long Black Veil
8 This Wheel’s on Fire
9 I Shall Be Released
10 The Weight
11 Loving You is Sweeter Than Ever

Blood, Sweat & Tears

1 More and More
2 I Love You More Than You’ll Ever Know
3 Spinning Wheel
4 I Stand Accused
5 Something Comin’ On

Johnny Winter

1 Mama, Talk to Your Daughter
2 To Tell the Truth
3 Johnny B. Goode
4 Six Feet in the Ground
5 Leland Mississippi Blues / Rock me Baby
6 Mean Mistreater
7 I Can’t Stand It – Com Edgard Winter
8 Tobacco Road – Com Edgard Winter
9 Mean Town Blues

Crosby, Stills, Nash &Young

Set Acústico

1 Suite: Judy Blue Eyes 
2 Blackbird
3 Helplessly Hoping
4 Guinnevere
5 Marrakesh Express
6 4 + 20
7 Mr. Soul
8 Wonderin’
9 You Don’t Have To Cry

Set Elétrico

1 Pre-Road Downs
2 Long Time Gone
3 Bluebird
4 Sea of Madness
5 Wooden Ships
6 Find the Cost of Freedom
7 49 Bye-Byes

Paul Butterfield Blues Band

1 Everything’s Gonna Be Alright
2 Driftin’
3 Born Under a Bad Sign
4 Morning Sunrise
5 Love March

Sha-Na-Na

1 Na Na Theme
2 Yakety Yak
3 Teen Angel
4 Jailhouse Rock
5 Wipe Out
6 Book of Love
7 Duke of Earl
8 At the Hop 
9 Na Na Theme

Jimi Hendrix

1 Message to Love
2 Hear My Train a Comin’
3 Spanish Castle Magic
4 Red House
5 Mastermind – Cantada por Larry Lee
6 Lover Man
7 Foxy Lady
8 Jam Back At the House
9 Izabella
10 Fire
11 Gypsy Woman / Aware of Love - Medley cantado por Larry Lee
12 Voodoo Child (Slight Return) / Stepping Stone
13 The Star-Spangled Banner
14 Purple Haze
15 Woodstock Improvisation / Villanova Junction
16 Hey Joe

Jimi Hendrix encerrava com chave de ouro o mítico festival. O cantor teria, brevemente, a vida ceifada pela droga. Outros, como Janis Joplin, seguiriam o mesmo destino trágico.
As imagens históricas do evento foram transformadas em um documentário, “Woodstock”, lançado no ano seguinte, em 1970. O evento também foi registrado em disco, numa trilha sonora dos melhores momentos. Quatro décadas depois de ter ocorrido, Woodstock representa um movimento que se extinguiu, mas que deixou uma marca indelével nos costumes morais e sociais da sociedade que se construiu nos últimos anos do século XX.