domingo, 11 de março de 2018

A 11 de março de 1970, Crosby, Stills, Nash & Young lançam "Déjà Vu"

De três passam a quarto. CSNY, um dos supergrupos mais voláteis da história do rock, assinam a sua obra-prima logo à primeira tentativa.
O final da década de 60 foi pródigo na génese de supergrupos. Um dos que apareceu com mais convicção nasceu da união de David Crosby (ex-Byrds) com Stephen Stills (ex-Buffalo Springfield) e Graham Nash (ex-Hollies). Um trio que sabia extrair (melhor do que ninguém) os ensinamentos da folk de Dylan cruzando as harmonias vocais dos Beach Boys.
Em 1969 gravavam o seu disco de estreia, meses depois davam o seu segundo concerto para quase meio milhão de pessoas no festival Woodstock. A ascensão meteórica do grupo confirmava-os como super estrelas de um novo rock “made in USA” alimentado de canções acústicas em pleno convívio com o psicadelismo hippie da época. No entanto, se o grupo não se sentia satisfeito com o excesso de egos, eis que Stills convida o seu antigo companheiro dos Buffalo Springfield, Neil Young, para dar um ar ainda mais pomposo e rock à coisa (dois guitarras-solo é sempre melhor que um).
Músico versátil e já com dois discos a solo no bolso, Young era a força que o trio inicial precisava para manter “as pernas a andar”. Multi-instrumentista, armado de guitarras elétricas e órgãos meio jazzy, meio psicadélicos, Neil Young veio dar inevitavelmente um empurrão para que Déjà Vu fosse considerado uma obra-prima do rock.
A sua influência em canções como “Helpless” ou a suite “Country Girl” (um medley de três canções contidas numa só) decididamente deram aos CSN&Y um novo som que contemplava ao mesmo tempo várias direcções como a country, o rock ou a folk. Estavam aqui as futuras pistas do soft-rock californiano que anos mais tarde foram exploradas a fundo por grupos como os Eagles, os America ou Flying Burrito Brothers.
Esta influência positiva do seu mais recente membro, inspirou os outros a construírem canções que ainda hoje permanecem como uma das melhores do seu longo catálogo (quer em grupo, quer a solo). Nash trouxe a sua influência british pop ao de cima para misturá-la com alguns requintes country com os hits “Teach Your Children” e “Our House”. Crosby, sempre perseguido pelos seus fantasmas da droga assina aqui um grande tema rock com “Almost Cut My Hair” e Stills faz de “Carry On” uma das melhores canções para se ouvir em plena auto-estrada.
Mas não se pense que esta é uma obra para dar ênfase apenas a talentos individuais. A faixa “Woodstock” (uma versão de Joni Mitchell) é um desses raros momentos porque a palavra super-grupo não devia ser um termo sujo na indústria pop. E honras também para o melhor tema roqueiro do disco – “Everybody I l Love You” – com os seus duelos de guitarra entre Young e Stills.
Déjà Vu acaba por ser assim dos discos mais equilibrados da história do rock. Não só porque dá espaço a toda a gente de tocar como tem um conjunto de canções muito fortes e que ainda resistem passados quase 50 anos. Pena é que este colectivo nunca tenha gravado mais nada com esta magnitude e inspiração. Egos a mais ditaram aquilo que poderia ser uma brilhante carreira em comum. No entanto há sempre este “Déjà Vu” para voltar a recordar a magia de um grupo inato de talentos.

terça-feira, 6 de março de 2018

David Gilmour lança "On an Island", o seu 3º álbum a solo, há 12 anos.

“Remember that Night…white sails in the Moonlight…”

Já lá vão 24 anos desde o último disco de estúdio dos Pink Floyd – “The Division Bell”!
David Gilmour, ao contrário do que muitos pensaram, decidiu não prolongar por muito mais tempo a carreira do grupo “post- Roger Waters”.
Nos sete anos seguintes, a carreira musical ficou para trás. Montou uma empresa de aviões, casou-se, teve filhos e ajudou as mais diversas causas humanitárias pelo mundo fora. E foi precisamente por essas causas, que Gilmour voltou acidentalmente ao activo.
Estávamos em Julho de 2005. Bob Geldof organizador do “Live 8” consegue convencer os Pink Floyd (Gilmour, Mason e Wright) a juntarem-se a Roger Waters para uma actuação única e histórica em Hyde Park.
O grupo conseguiu não só convencer os mais cépticos (que nunca acreditariam em tal reunião), como também uma geração nova de fãs, ávidos de voltar a ver os Pink Floyd ao vivo. Nos meses seguintes, gerou-se uma enorme expectativa sobre o regresso dos Floyd à ribalta. Contudo, David Gilmour (detentor legal sobre os direitos de utilização do nome do grupo) optou por negar todos os rumores e pôs um ponto final na carreira da banda de Dark Side of the Moon.
"On an Island" foi o terceiro disco a solo de Gilmour, depois de "David Gilmour" (1978) e "About Face" (1984). A acompanhar o guitarrista, está um elenco de luxo: Rick Wright, teclista dos Pink Floyd; Guy Pratt, baixista das últimas digressões dos Pink Floyd; Robert Wyatt, vocalista e baterista dos Soft Machine e Phil Manzanera, guitarrista dos Roxy Music e co-produtor do álbum.
Musicalmente, o álbum é irrepreensível e transporta-nos imediatamente para os ambientes de nostalgia “Floydiana”. Basta escutar o primeiro tema, “Castellorizon” e está lá tudo. Os solos de guitarra imaculados, os teclados ambientais a juntar aos efeitos sonoros tão característicos da história da banda.
A voz de Gilmour continua fresca, no tema “On an Island” encontram-se afinidades com “Echoes” (de Meddle, 1971) e “Fat Old Sun” (de Atom Heart Mother, 1970). Liricamente é o melhor tema do álbum, com as vocalizações de Graham Nash e David Crosby a brilhar por entre os olhares do céu estrelado e viagens perdidas no meio do Oceano.
A nostalgia do tempo que já passou (“Pocket Full of Stones”), as pressões da meia idade (“Take a Breathe”) acabam por afectar a maré de um álbum, onde as letras a atirar para o Phil Collins, são o ponto menos bem aproveitado do disco (escute-se “This Heaven” ou “Smile”).
Polly Samson, jornalista e mulher de Gilmour, não tem certamente a visão “newtoniana” e inspirativa de um Roger Waters ou a alucinação criativa de um Syd Barrett. Não é propriamente um disco dos Pink Floyd, mas não anda longe. 

sábado, 3 de março de 2018

"Master of Puppets" dos Metallica, lançado a 3 de março de 1986.

Depois da evolução visível de Kill’m’All para Ride the Lightning, Metallica eram os Messias do Metal. A energia que Lars Ulrich, Kirk Hammett, Cliff Burton e James Hetfield transmitiam nos seus temas era algo como nunca dantes se tinha visto.
Em 1986 o auge era atingido. Para muitos o ponto máximo do Heavy Metal - Master of Puppets vinha a público.

Até à data álbuns de culto tinham sido lançados como Number of the Beast , Ace of Spades , Paranoid, British Steel, etc… Mas o mundo mesmo assim não estava preparado para a carga pesada do álbum que viria a ser de culto do Trash-Metal. Se Ride the Lightning pregava a partida aos ouvintes com a famosa introdução de «Fight Fire With Fire», «Battery» demonstra que este tipo de estrutura viria a ditar alguns dos temas mais pesados da carreira da banda ( «Blackened» de …And Justice For All por exemplo).Uma introdução pouco comum aos restantes mortais do metal dos anos 80, prova o estatuto de Deuses. Toquem o que tocarem sai sempre bem!Um dos melhores temas da banda ao vivo, “ cannot kill the battery” dita a velocidade de Lars Ulrich, possivelmente no seu melhor. Um tema que relembra os tempos de Kill’m’All mas que revela a experiência ganha com o crescimento mediático da banda.O momento mais do que obrigatório, a par de «Seek And Destroy», é daqueles temas que consegue por em comunhão fans old-school com os curiosos ouvintes do radiofónico Black Album – dando nome ao álbum, «Master of Puppets» é a maior epopeia da história do metal!Um Riff arrebatador logo ao passar dos primeiros segundos impossibilita qualquer ser humano que se preze de se tornar um autentico selvagem! Air guitar, mosh, crowd surf, circle pit, slam dancing, headbanging- meu deus! - dá para tudo!! James Hetfields diz ao publico para obedecermos ao nosso mestre - Assim o faremos! Mais do que viciante, sem dúvida um dos melhores temas da banda de San Francisco! A par do solo inicial de «One», este tema consegue encaixar na perfeição um momento de génio de Kirk Hammond. Se alguém ainda punha em causa a saída de Dave Mustaine, penso que agora Kirk acimentava o seu lugar na banda. É belo, é poético, é sentido. Como é que alguém se dá ao luxo de misturar tamanha delicadeza com tamanha violência?!8 minutos sensivelmente, e penso que ninguém seria capaz de tirar um segundo que fosse. Um final a trezentos á hora. «Creeping Death» ditava algo deste género mas mesmo assim, «Master of Puppets» consegue ainda deixar-me de queixo caído.A par de «Harvester of Sorrow», este tema seguinde prime pela importância dada ao peso e não á velocidade que tanto marca a cena Trash-metal.«The Thing That Should Not Be» é claustrofóbico, é diferente, é único. Da primeira vez que ouvi esta música confesso que fiquei confuso, o sentimento que me transmitiu não era óbvio ao ponto de conseguir formar uma opinião de seguida. A complexidade deste tema é subtil, não aparenta mas é um tema que não está lá para encher chouriços.É a primeira quebra do ritmo alucinante que os primeiros temas deixam como cauda dum meteorito gigantesco.
Carregando no Foward encontraremos um dos momentos mais tocantes da discografia dos Metallica. Para além de ícones do Metal, a banda será para a eternidade lembrada pelas suas baladas de fast pace. Depois de «Fade to Black» e abrindo caminho para «One», «Welcome Home (Sanatarium)» leva-nos para um mundo que ninguém está interessado em conhecer de perto. Um mundo onde “ The time stands still”, um mundo de medos e receios.O sentimento de abandono total.Os primeiros toques do sr. Hetfield nos agudos da sua guitarra marcam um compasso de nostalgia total. A raiva crescente culmina num sentido – “ just leave me alone!”. Mais um clássico da banda, que de forma alguma poderá ser esquecido no tempo. O solo final, o break de bateria – Metallica - está carimbado ! Ainda hoje podemos encontrar esta estrutura característica em temas como «The Day That Never Comes» do recente Death Magnetic.

«Disposable Heroes» marca uma vertente menos utópica, digna do imaginário do mundo do Metal, e toma contornos políticos. Heróis descartáveis, é assim que os Metallica representam soldados a mando, carne para canhão.Ridicularizam as causas da guerra e não temem a caracterização violenta de tais cenários. Os primeiros segundos deste tema elevam-nos a um caos total. “Are you out there?” pergunta repetidamente James nos concertos antes de abrir caminho a um dos riffs mais elementares de trash. Kirk Hammond e Lars Ulrich tomam as rédeas.” …bodies fill the fields i see…” Assim começa a letra só por si pesada.
Confesso que este tema é dos meus favoritos, tendo só uma vez o privilégio de o assistir uma vez apenas, em 2007 no festival Super Bock Super Rock.
É inevitável fazer mais uma vez o reparo, Lars no topo de forma, quer a nível de velocidade como de criatividade – nem sempre bem aceite.

Quando o momento mais fraco de todo um álbum continua a estar ao nível, é porque estamos na presença de algo único. «Lepper Messiah» diz-nos que é tempo de “kiss your ass good-bye”. Mas primeiro damos graças a algo superior por nos ter ofertado o trabalho de Cliff Burton. «Orion» recorda-nos o potencial do melhor baixista da história do Heavy-Metal.Ainda hoje um momento celebrizado por Rob Trujillo, assim como Jason Newsted o fazia em honra do seu antecessor. Um trabalho de baixo distorcido como só Burton se atrevera a explorar. O instrumental com maior carga emotiva, celebrizado a quando do fatal acidente que vitimara o seu autor.Ao vivo, e os fans mais atentos certamente confirmarão, a banda de San Francisco aproveita para dar uma falsa partida de palco aquando do infernal «Master of Puppets» dando tempo a soltar um dos temas com introdução como anteriormente expliquei… Pois bem, não temam por mais alto na música que se segue. Este tema fez-se para homens de barba rija, é pesado, é rápido, é violento. Não foi feito para parecer harmonioso ou com uma certa complexidade de estrutura. Foi feito para celebrar o caos total.«Damage Inc» tem um dos melhores compassos de bateria que poderão ouvir ao longo da vossa vida! “ Blood will follow blood!” faz temer os pais de todo o jovem adolescente que berra tais palavras no seu quarto como senão houvesse amanhã! E o solo final? Estaria Kirk Hammond em Ecstasy? A velocidade desde solo é fenomenal, que dupla infalível! Lars sempre ao ataque deve dar graças ao facto de não acabar com uma trombose tal é a velocidade das suas batidas! Sem dúvida alguma um dos temas mais pesados dos Metallica que fecham assim o álbum mais respeitado da história do Trash-Metal.