domingo, 30 de março de 2014

SADE...

Helen Folsade Adu nasceu em 1959, na Nigéria, filha de pai africano e mãe inglesa. Da mistura genética e cultural (Sade cresceu em Londres) resultou uma daz vozes mais quentes e sensuais da música. Envolvente, apaziguadora e, acima de tudo, muito cool. Descobri Sade com "Smooth Operator", que fazia parte de uma das compilações - estilo Jackpot ou Polystar - que eu, em meados dos anos 80, recebia de presente no Natal . Perdida algures entre "Take Me Up" dos Scotch e "Lavender" dos Marillion, lá estava o single que deu a conhecer este portento ao mundo. Na altura, aos 12/14 anos, eu andava mais virado para os Queen e para Bruce, o "Boss", e avançava furiosamente a cassete quando esta chegava à canção de Sade, com quase tanta convicção como o fazia quando chegava ao inenarrável "Vladimir Ilitch", de Michel Sardou. Anos mais tarde vim a descobrir "No Ordinary Love", belíssima canção, inebriante para além de todos os adjectivos já supra reportados à magnífica Sade. Daqui parti para descobrir o resto da sua obra, incluindo "Smooth Operator". Muito recomendável.

sábado, 29 de março de 2014

U2 - The Joshua's Tree




U2
The Joshua's Tree
1987 - Island

"Boy", "War" e "The Unforgettable Fire" eram já grandes discos, mas o breakthrough dos U2 foi dado com "The Joshua's Tree", editado em Portugal como "A Árvore de Joshua" e com os títulos das canções traduzidos para português (!). É um concentrado de super canções: desde "Where The Streets Have No Name" até "I Still Haven't Found What I'm Looking For", passando por "With Or Without You", e faz parte da discografia básica do pop/rock.
Hoje em dia, os U2 estão a perder a dimensão que criaram, estão a ser um pouco apagados pelo tempo. A seguir a "Joshua's Tree" tiveram mais um momento de inspiração com "Achtung Baby", de 1991, e fora esse... Isto para concluir que a banda que de há uns anos para cá tem sido olhada como aquela que vai conquistar um lugar na história ao nível dos Beatles ou dos Rolling Stones não tem feito muito por isso. Basta ouvir "All That You Can't Leave Behind" ou "How To Dismantle An Atomic Bomb"... Agora, "The Joshua's Tree" é um disco maior.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Dinastia Shankar...

Ravi Shankar, nascido na India em 1920, mestre da sítara e guru, entre outros, de George Harrisson (foi o responsável pelas divagações orientais que tão bem ficaram no "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band"), teve, entre outras, duas filhas famosas, cada uma delas educada de acordo com a cultura da respectiva mãe.

 
Anoushka Shankar, nascida em Londres, em 1981, formada pelo seu pai com quem tocou sítara desde cedo, já com cinco discos de originais editados, o primeiro aos 17 anos e o último este ano.

Norah Jones, nascida em 1979, em Nova Iorque, com nome mais do que feito na prateleira do "adult contemporary", no seguimento do caminha aberto por Diana Krall e trilhado, entre outros por Jamie Cullum ou Katie Melua.

terça-feira, 25 de março de 2014

A Nouvelle-Vaguização...

É um facto inegável que desde 24 de Setembro de 1991, data em que foi lançado "Nevermind", que nada de novo se faz na música. O que não quer dizer que há 23 anos que não se faz música de qualidade. O que não se faz é qualquer coisa que não seja uma reciclagem do que já existia. O fabuloso Ben Harper é um Marvin Gaye dos tempos modernos, os White Stripes são uns Zeppelin-Clash hodiernos e a Diana Krall uma Carmen McRae, e por aí fora.
Entre todas as recriações, umas mais evidentes e assumidas, outras dissimuladas ou menos presentes, surgiram os Nouvelle Vague.
Os Nouvelle Vague são um colectivo francês que re-interpreta em ambiente bossanova uma diversidade de canções do imaginário pop-rock, numa estética muito bem conseguida. Dos Stones a Billy Idol, passando por U2 e Blondie, tudo é recriado em lounge, mas bem.
Como é hábito, todo e qualquer sucesso na música dá azo ao aparecimento dos copycat's, ou em bom português, macaquinhos de imitação. Desde Petra Magoni, que também o faz bem, até às compilações alemãs "Jazz & the 80´s", "Jazz & the 90's" e "Jazz & the 00's". Até já ouvi, em português, uma recriação de "Asas" dos GNR em bossanova... O que é demais, cansa um bocadinho! E o que pensaria Ian Curtis, se levantasse cabeça?

Don McLean - American Pie (Parte III)

Continuando a dissecar o "American Pie", cá vão mais umas linhas...

"So...
Bye bye Miss American Pie,
Drove my Chevy to the levee but the levee was dry
Them good ol' boys were drinkin whiskey and rye
Singing "This'll be the day that I die,
This'll be the day that I die."

Eis-nos chegados ao refrão.
Até hoje, ainda ninguém avançou com uma explicação válida para o título e McLean, apesar de todas as insistências, continua sem explicar. A interpretação mais disparatada que já li é a que diz que Don McLean, à data, mantinha uma relação com uma Miss América. Havia quem dissesse que o nome do avião era “American Pie”, mas o avião não tinha nome. Na minha opinião, é uma metáfora. A torta de maçã, a “American Pie” é um ícone da cultura americana e McLean assim qualificava também os três músicos falecidos, sobretudo Holly e Valens. Com a morte destes morre também a música modelo norte-americana, so bye bye miss American Pie.
A frase seguinte é simples, e corrobora o parágrafo anterior. Depois do acidente, McLean foi à fonte buscar inspiração mas a fonte estava seca.
De seguida, temos um salto na narrativa, passando das queixas de McLean para o acidente de avião. Idilicamente, são os músicos imaginados em festa, e beber uns copos e a cantar… com toda a pertinência, This'll be the day that I die, uma corruptela de That’ll be the day, canção de Buddy Holly.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Don McLean - American Pie (Parte II)

A long, long time ago...

I can still remember

How that music used to make me smile.
And I knew if I had my chance
That I could make those people dance
And, maybe, they’d be happy for a while.


Fala-se, no primeiro verso, em "a long, long time ago..." porque, não obstante o acidente tenha ocorrido em 1959, a canção veio a ser composta ao longo da segunda metada de década de 60 e editada em 1971. A estrofe seguinte introduz o leitmotiv da canção, a referência, em tom saudoso, à música estereotipada por Buddy Holly, um pop-folk de singer-songwriter, ritmado e dançável, que enchia as medidas de McLean e que cujo declínio comercial se vinha revelando ao tempo em que "American Pie" foi escrita.

But february made me shiver
With every paper I’d deliver.
Bad news on the doorstep;
I couldn’t take one more step.


Ao tempo do inusitado acidente, em Fevereiro de 1959, McLean acumulava a carreira de músico com a distribuição de jornais ao domicílio. Estrofe simples mas eficaz.

I can’t remember if I cried
When I read about his widowed bride,
But something touched me deep inside
The day the music died.


Holly deixou uma noiva, grávida, que perdeu o filho no seguimento do trauma causado pelo acidente.
Remata McLean a estrofe com a ideia chave subjacente ao poema: the day the music died. Partiu aquele que representava a última esperança na continuidade da música que McLean via ameaçada, Buddy Holly, e, ainda para mais, levou consigo o seu mais fiel seguidor, Ricardo Valenzuela, que dava os primeiros passos numa promissora carreira sob o nome artístico Richie Valens.

Don McLean - American Pie (Parte I)

Hoje falamos de "o dia em que a música morreu"... "American Pie", de Don McLean. E porque há muito para dizer, dividimos em duas partes...
Escrita com pretensões épicas e revelando-se um compêndio de raiva contra o estado da indústria musical, não obstante o bom feeling da melodia, foi o single de apresentação do disco homónimo, editado em 1971. O tema da canção é a morte de Buddy Holly, Richie Valens e The Big Bopper, num acidente de aviação, em 3 de Fevereiro de 1959, dia a que McLean chama "the day the music died", com a queda do avião onde os três seguiam.

Mal-grado as tentativas assassínio da canção, perpetradas designadamente por Garth Brooks e Madonna, bem pode McLean orgulhar-se de ter criado uma canção que é um marco da cultura americana do Século XX, nela metaforizada na emblemática torta de maçã eternizada no título.

Estrofe a estrofe, hoje inicio um percurso pela Road 66 do folk norte-americano, ao som de Dylan, Waits, Springsteen e Ryan Adams.

sábado, 22 de março de 2014

My Sweet Lord... A história definitiva do plágio (Parte II)

He's So Fine é uma composição de 1963, do compositor Ronnie Mack – já falecido - e gravada pelo grupo negro americano, The Chiffons. Ninguém se deve sentir mal por não as conhecer. A música não foi um hit e, curiosamente, ganhou até mais notoriedade e execução depois da acusação de plágio envolvendo My Sweet Lord. Os direitos autorais pertenciam à Bright Tunes Editora.
The Chiffons
Nem de longe, nem de perto se pode comparar "He's So Fine" com "My Sweet Lord", em termos de qualidade da composição. George sentiu o drama ao escutá-la. Compreendeu com clareza que tinha copiado algumas notas da canção das Chiffons, e percebeu que teria problemas. Sobretudo, considerando o êxito que My Sweet Lord teve. O caso ganhou repercussão, e a Editora Bright Tunes entrou com uma acção na justiça. George veio a público e defendeu-se. Admitia o plágio, embora julgasse que o mesmo não era intencional. Penitenciou-se em programas de rádio e TV, alegando que, se tivesse estado mais atento, teria promovido pequenas modificações nos arranjos, o que evitaria as comparações e complicações. 

George também explicava que My Sweet Lord era uma western song que adaptava para o popular, o "Maha Mantra" cântico sagrado que ele costumava entoar nas suas meditações. A 07 de setembro de 1976 aconteceu o desenlace em torno do caso. Irritadíssimo, George Harrison teve que ir a tribunal defender-se das acusações de plágio. No seu livro "I Me Mine", ele revela sarcasticamente que o juiz que cuidou do caso dividiu a questão em duas partes: "Motif A and Motif B." O tal "Motivo A" indicava plágio nas notas iniciais e no trecho onde canta, "my sweet Lord." O "Motivo B" apontava plágio em cerca de cinco notas do trecho em que canta, "really want to see you." 

George contou que se fartou de ouvir em tribunal repetidas vezes as gravações de "My Sweet Lord" e "He's So Fine" para comparações. Em sua defesa, o ex-beatle chegou a dizer ao juiz que, 99 por cento da música popular vinha de uma ou outra nota ou acorde que já tinha sido criado. De nada serviu e foi condenado por plágio não consciente. Valor da indemnização, 587 mil dólares. George recorreu para não pagar, e o caso estendeu-se durante alguns anos nos tribunais. Todas as batalhas foram perdidas, e a 26 de fevereiro de 1981, quase dez anos após o lançamento de My Sweet Lord, a indemnização foi finalmente paga.

sexta-feira, 21 de março de 2014

My Sweet Lord... A história definitiva do plágio (Parte I)

My Sweet Lord tornou-se um clássico assim que chegou às tabelas de êxitos e lojas de discos por esse mundo fora. Não aconteceu por acaso. O seu arranjo simples, vigoroso e envolvente, aliado à mensagem pacifista e divina que transmite, arrebatou um mundo que assistia ao final de um doce sonho. 

A canção chegou num momento em que as lágrimas teimavam em não secar. Chorávamos a morte de Jimmy Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin, ao mesmo tempo em que lamentávamos o the end da maior de todas as bandas, Os Beatles. Estaria também o rock and roll a agonizar? Indagavam os pessimistas... 

My Sweet Lord veio como uma resposta e um lamento. A inspiração chegou a George Harrison ao ouvir atentamente o trabalho do grupo Edwin Hawkins Singers para "Oh! Happy Day". Naquela composição o ponto central estava nos vocais gospel. George foi compondo ao seu estilo, munido de uma viola. Com a letra alinhavada, passou a avaliar como o mundo iria receber uma canção que falasse de Deus. Temia reações negativas, porque nunca compunha virado para esse tema. 

O que o instigava era a necessidade de levar aquilo em que acreditava, para o seu público. Harrison sabia que quando My Sweet Lord chegasse ao mercado, mudaria algo na sua carreira. E estava certíssimo. 

Quando o trabalho de estúdio teve inicio, George Harrison alterou a letra original – que falava só em "aleluia." O ex-beatle incluiu o termo "hare krishna" por acreditar que ambas expressões tinham o mesmo significado. O produtor Phill Spector e os músicos que participaram na gravação, disseram a George que aquele seria um hit mundial. Embora também pensasse dessa forma, George Harrison foi desapegado o suficiente, ao ponto de entregar o seu maior êxito a solo a Billy Preston. E Preston, por incrível que pareça, lançou My Sweet Lord antes dele! Felizmente para George, nada aconteceu com o compacto editado por Billy Preston, que fez uma versão equivocada da grande composição. 

Quando a música se fez ouvir nas estações de rádio, o êxito foi esse que conhecemos. Sucesso no mundo inteiro, número '1' em dezenas de países, e foi o grande trampolim para as vendas do super-álbum triplo All Things Must Pass. 

Porém, não tardou o início do drama paralelo à maciça aceitação de My Sweet Lord. A cabeça de George Harrison passou a ser martelada com informações que partiram inicialmente de amigos, e que depois chegou à mídia: a famosa composição, era plágio. E era mesmo.


quinta-feira, 20 de março de 2014

All Saints...


Formadas em 1993, na esteira do mega sucesso das Spice Girls, as All Saints sempre se assumiram, e assim foram conotadas pelo público e pela crítica, como mais sérias e menos show off e, acima de tudo com um som e uma imagem cosmopolita e cool, nos antípodas do ar parolo-suburbano das Spice Girls (das quais só a Mel C., a espaços, se aproveita, v.g. o dueto com Lisa "Left-Eye" Lopez).
Se “I Know Where It’s At” já prometia, foi com “Never Ever” que conquistaram o público. Uma canção cheia, a abrir num sexy spoken word, muito Barry White, para depois entrar num arrebatador crescendo soul, com imensa onda.
Firmes no estrelato, viram o single “Pure Shores” ter um papel maior no filme “The Beach”.
Com muita pena, as meninas vacilaram, não tiveram estrutura para aguentar o crescimento do fenómeno que criaram e as All Saints eclipsaram-se. Certo é, todavia, que conquistaram um merecido lugar cativo na prateleira que a história da música reserva às Girls Bands, ao lado das Supremes, Ronettes, L7 e TLC. Fazem falta.

sábado, 15 de março de 2014

Temple of the Dog...

Em 1990 morreu Andrew Wood, vocalista dos Mother Love Bone, banda de Seattle com lugar cativo na génese do grunge que veio a eclodir em 1991. Aliás, foi dos escombros dos Mother Love Bone, banda que finou com Wood, que saíram Jeff Ament e Stone Gossard para formar os Pearl Jam.
Todavia, ainda antes do nascimento dos Pearl Jam, Ament e Gossard juntaram um grupo de músicos de Seattle para gravar um disco de homenagem a Wood. A eles se juntaram Chris Cornell e Matt Cameron, dos Soundgarden, e um vocalista então desconhecido, que cantava pelos bares da cidade, Eddie Vedder. Chamaram ao projecto, criado para um disco apenas, Temple of the Dog.
O single de avanço do álbum, gravado em 1990, e ao qual foi dado o mesmo nome do projecto, “Hunger Strike”, é das mais bonitas canções algumas vez escritas. A voz de Cornell extraordinária e o dueto com Eddie Vedder arrebatador. Para quem não conheceu, vale a pena ouvir...

George Harrison entra para o Rock and Roll Hall of Fame

Há 10 anos… dia 15 de Março de 2004.


George Harrison foi o “quiet beatle”. A “terceira via”. O “outsider”. O taxman que esperou o sol chegar para dizer something ao mundo. Fora do quarteto, pôde expressar toda a sua arte, sem barreiras, com direcção e sentido próprios. Verdade própria. George foi um grande ser humano. Pleno, espiritualizado, superior, como Martin Scorsese mostra no óptimo documentário “Living in the Material World”.

Em 2004, de algum lugar, ele viu a sua obra reverenciada. Com todo o merecimento.
“Há uma frase de um poeta indiano que George me leu um dia: ‘Abençoado é aquele em que a fama não brilha mais do que a sua verdade’. Aqui estamos, no Hall da Fama! Mas os homenageados não são escolhidos por causa da sua fama, mas sim pela expressão da sua verdade através da música. George dizia que escrevia músicas para significarem algo, mesmo muito tempo depois de compostas. Acredito que seja certo dizer que, apesar da sua imensa fama, a sua verdade nunca será apagada ou esquecida”.
Olivia Harrison não podia expressar de forma mais precisa sobre o homem, o ser humano e o artista George Harrison. Ao lado de Dhani, o filho (cópia de George!), recebeu a homenagem que conduziu o seu companheiro ao Rock and Roll Hall of Fame. No final, ainda fez questão de citar uma pessoa especial na vida do músico, presente naquela noite: Neil Aspinall, amigo de infância de George e Paul, que acabou por se tornar executivo e produtor dos Beatles e uma figura fundamental na trajectória da banda. Antes, Tom Petty e Jeff Lynne, grandes companheiros de música e de vida, leram emocionante discurso para levar George novamente ao hall da fama do rock. Ele já lá estava desde 1988, pelo trabalho com os Beatles. Em 2004, além de George, Bob Seger, Jackson Browne, Prince, The Dells, Taffic e ZZ Top foram outros homenageados da noite.
Para fechar com chave de ouro, Tom Petty, Dhani Harrison, Jeff Lynne, Prince, Keith Richards e outras feras subiram ao palco e tocaram “While My Guitar Gently Weeps”. Sensacional.
Cinco anos antes, coincidentemente no mesmo 15 de Março, Paul McCartney foi reverenciado com a segunda indução ao Rock and Roll Hall of Fame.

quarta-feira, 12 de março de 2014

A música e a sua relação com o tempo...

O tempo faz-nos olhar, com condescendente ternura, para canções que na época delas desprezávamos, e nos faziam mudar a estação do rádio mais depressa do que os primeiros acordes da canção do Titanic. Agora, já não são pirosas, pomposamente e com ar intelectual, chamamos-lhes kitsh, como se isso nos desse autorização moral para as ouvir, dançar, e até cantarolar. Ou seja, já não são azeiteiras, mas sim regadas por um fino e distinto néctar extraído do fruto da oliveira. Já não são horríveis, mas sim canções subsumíveis a um paradigma estético que se afasta de modo significativo do ideal. Subjugados que estamos à moda dos Anos 80, vamos sendo agredidos, e gostamos, por Culture Club's e afins, e ainda por recriações pastichentas de todo o néctar de oliveira que ao tempo se fazia (com especial relevo para a reserva especial Elton John e Bee Gees), tipo Scissor Sisters. Ao contrário daquilo que lhe competia, o azeitola do tempo esqueceu-se dos Fairground Attraction, Prefab Sprout, Stranglers, Simple Minds ou dos Spandau Ballett. Vá-se lá entender…

Um dos bons exemplos de obra olhada de soslaio aquando da sua edição e agora recordada com saudade é o brilhante "Red", de 1987, dos Communards.
Nascidos da saída de Jimmy Sommerville dos Bronsky Beat, e com a produção a cargo do produtor dos Pet Shop Boys e New Order, Stephen Hague - o que não indiciava mesmo nada de bom... - o certo é que o seu som é fabuloso. Quanto a mim, os Communards estavam um degrau acima dos Erasure e dois acima dos Culture Club. Isto pela superior voz de Sommerville, quando comparado com Andy Bell, e pelo menor espalhafato e maior conteúdo quando ao lado de Boy George & C.ª. O anterior, e primeiro, álbum dos Communards, com o nome da banda por título, augurava já a qualidade que se veio a repetir em "Red", note-se o belíssimo single de apresentação, que os lançou, "Don't Leave Me This Way". Em "Red", vamos encontrar "Tomorrow" e uma fabulosa recriação de "Never Can Say Goodbye", que são, sobretudo esta última, hinos pop com a pica toda, daqueles que fazem dançar aos saltos o mais sisudo dos caretas. Pena que tenham ficado por aí...

domingo, 9 de março de 2014

FREDDIE MERCURY... Insinuação, alusão...

Freddie Mercury (cujo nome verdadeiro era Farrokh Bulsara, nascido em 1943 em Zanzibar) morreu a 24 de Novembro de 1991. A notícia surpreendeu toda a gente, sendo de todo inesperada a morte de alguém que, goste-se ou não, tem o seu lugar cativo na história do rock.

Todavia, e no que à surpresa causada concerne, se é certo que Mercury não divulgou a sua doença, diagnosticada ainda nos anos 80 – apenas o tendo feito na véspera do seu decesso – não menos certo é que já o tinha anunciado, alto e bom som, através do álbum “Innuendo”, lançado pelos Queen em Fevereiro de 1991.

E de que modo o fez?

Ora, quer o álbum, quer a primeira faixa do mesmo, têm como título “Innuendo”, o que em inglês quer dizer insinuação, alusão. Imediatamente a seguir à canção “Innuendo”, como que materializando a insinuação que se pretende fazer, surge a faixa “I’m going slightly mad”, em que Mercury, consciente da fase final da doença em que se encontrava, canta “I’m one card short of a full deck, I’m not quite the shilling, One wave short of a shipwreck, I’m not my usual top billing, I’m coming down with a fever, I’m really out to sea, This kettle is boiling over, I think I’m a banana tree. Oh dear”, rematando a canção com a frase “And there you have it”. Prossegue o caminho, e na autobiográfica faixa “These are the days of our lives”, Mercury canta “Cause these are the days of our lives, They’ve flown in the swiftness of time, These days are all gone now but some things remain, When I look and I find no change.”
O recado a quem fica é deixado para o epílogo, “The Show Must Go On”. Ninguém reparou…

sexta-feira, 7 de março de 2014

Remember... Dire Straits...

A banda sonora da minha infância, na transição da Abelha Maia e dos Marretas para outras sonoridades, integra várias músicas e vários discos, desde o "Thriller" até ao "Kind of Magic". Porque a banda sonora da minha infância se confunde com 99% das pessoas que nasceram entre 68 e 78, cá vai o primeiro de uma série deles...


Dire Straits
"Brothers In Arms"
Warner - 1985
Falar dos Dire Straits e falar apenas de "Brothers in Arms" pode parecer redutor. A banda de Mark Knopfler, que acumulava as funções de vocalista com as de virtuoso da guitarra e do seu irmão David já tinha gravado quatro albums de originais e mais um ao vivo desde a sua formação em 1977, e na sua discografia constavam singles que são ainda hoje uma referência, como "Sultans of Swing", "Romeo and Juliet", "Tunnel of Love" ou "Private Investigations", entre outros. Contudo é com este registo de 1985 que fizeram história, por uma série de razões além do facto de ser de longe o seu melhor álbum, que se ouve do princípio ao fim sem saltar uma faixa que seja - coisa rara nos tempos que correm. "Brothers in Arms" é um dos discos mais lucrativos da história, com mais de 30 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, à frente de "Bad" e "Dangerous", de Michael Jackson, "The Wall", dos Pink Floyd, ou "Nevermind", dos Nirvana. Foi nº 1 no Reino Unido, onde vendeu mais de 4 milhões de cópias, e nº 1 do Billboard dos Estados Unidos, onde vendeu nove milhões. Chegou ainda ao lugar cimeiro do top de quase todos os países que elaboram um top (incluíndo Portugal, onde chegou a disco de ouro), com excepção da Noruega e Países Baixos, onde foi nº 2, e na Itália, onde não passou do nº 4. Foi um dos primeiros discos editados em CD, e o primeiro onde as vendas nesse formato ultrapassaram as vendas em vinil. Venceu dois Grammys em 1986, para melhor produção e melhor interpretação "rock" pelo single "Money for Nothing", mas perderia a estatueta de álbum do ano para "No Jacket Required", de Phil Collins, vingando-se no ano seguinte obtendo o Brit Award na mesma categoria. Dos nove temas que compõem o álbum, sete foram lançados em forma de single. Mas o que há neste "Brothers in Arms" por detrás da espectacular capa onde se vê a guitarra de Mark Knopfler, uma 1937 National Style 0 Resonator, fotografada por Deborah Feingold, e com um desenho da mesma guitarra na contracapa, da autoria do artista alemão Thomas Steyer?

“So Far Away” foi o single de estreia deste LP. Não foi um tema tão bem sucedido como o estrondoso “Money for Nothing”, mas conseguiu seduzir o público europeu (onde se incluiu o português). Mais tarde, acabou por seduzir os americanos, chegando ao 19º lugar da tabela da Billboard. No lado B deste disco encontra-se um dos outros grandes êxitos do álbum, “Walk of Life”, o tal cujo videoclip é constituído por imagens de jogos da NBA e de futebol americano.


O segundo single e o mais conhecido é "Money for Nothing", que foi nº 4 no Reino Unido e nº 1 na Billboard, bem como no Canadá, e valeu aos Dire Straits o "grammy" para a melhor interpretação "rock" por uma banda ou duo. O tema é suportado por um videoclip realizado através de animação por computador - o melhor que se podia fazer em 1985 - e fala da moda da MTV, que vivia a sua idade do ouro em meados dos anos 80. A canção fala da reacção de dois indivíduos da classe média, um deles um operário, ao assistirem pela primeira vez à MTV. Um deles, o magrinho, fala de um músico que "bate nos tambores como um chimpanzé", enquanto o tal operário, que se assemelha a um irmão Metralha, comenta que "estes tipos mariconços, com brinco e maquilhagem, ganham dinheiro por não fazer e têm as miúdas de graça" - "money for nothing and the chicks for free". A canção foi considerada por alguns como sendo machista, racista e homofóbica (isto tudo em "Money for Nothing", vejam só), e numa entrevista à Rolling Stone, Mark Knopfler diz ter recebido uma carta com queixas de um jornal londrino, conhecido por ser um dos favoritos da comunidade LGBT. Nikki Sixx, baixista dos Mötley Crüe, diz que Knopfler lhe confessou que o tema era sobre ele e sobre a sua banda, e que tinha ouvido estes comentários de dois empregados de uma loja de electrodomésticos enquanto passava um clip dos Crüe na MTV. "Money for Nothing" foi escrito por Knopfler em parceria com Sting, que é a voz que se ouve a dizer "I want my MTV". Ah sim, o videoclip ganhou o prémio de melhor do ano em 1987...da MTV.
Este é um dos meus favoritos. "Ride Across the River", com o seu som nitidamente influenciado pelos ritmos latinos, com bongos e flautas incas, aborda a temática da guerrilha em países da América Central, muito frequentes na época, uma das consequências da Guerra Fria. A história é contada do ponto de vista de um mercenário, que "atravessa o rio, profundo e frio" com o fim de chegar à outra margem "e matar, não interessa em nome do quê, nem para quem". Profundo, como o tal rio que se atravessa. Foi editado em single apenas nos Estados Unidos, onde chegou a nº 21 na lista dos "Rock tracks", e apareceu num episódio da série "Miami Vice".



"Walk of Life" foi o single com mais sucesso depois de "Money for Nothing", chegando a nº 2 no Reino Unido e nº 7 na Billboard. Um tema muito "pop", é uma homenagem aos músicos que ganham a vida tocando em túneis subterrâneos e em estações de metro. A música é inspirada em clássicos do "rock'n'roll" dos anos 60. Uma curiosidade: "Walk of Life" ia ficando de fora do alinhamento do album, por decisão do co-produtor Neil Dorfsman, mas a banda insistiu que fizesse parte das nove faixas finais.

O solo de saxofone de "Your Latest Trick", da autoria de Michael Brecker, é inconfundível. É aquilo que se escuta numa loja de instrumentos musicais cada vez que alguém compra um saxofone, batendo nesse departamento o tema "Baker Street", de Gerry Rafferty. "Your Latest Trick" fala da noite, dos vícios, e de uma prostituta, com "o seu último truque". O tema foi lançado em single no Reino Unido, não passando de um modesto nº 26, e foi um pouco mais longe na Irlanda, onde chegou ao nº 6. Em 1993 foi re-editado para o Mercado francês, onde chegou a nº 1. O solo de saxofone fez parte do genérico de uma novela chinesa de um canal de Hong Kong em 2003.

Os dois únicos temas de "Brothers in Arms" que nunca foram editados em single foram "The Man's too Strong" e "Why Worry". Ambas excelentes canções, mas gosto especialmente da última, que chegou a ser gravada pela cantor grega Nana Moskouri poucos anos depois. E a mensagem é bem válida: "Why Worry" serve para nos lembrarmos que às vezes não vale a pena nos preocuparmos por coisas de nada. Fica aqui uma interpretação dos Dire Straits num concerto na Austrália.


E finalmente o disco encerra com o tema que lhe dá o nome. Uma mensagem anti-guerra, como convém, onde Knopfler aproveita também para exibir os seus dotes de virtuoso. O single foi nº 16 no Reino Unido, e é sempre um dos mais pedidos durante os concertos da banda. Ou era, pois após "Brothers in Arms" os Dire Straits tiveram uma agenda super-ocupada em termos de espectáculos, como seria expectável, e só voltariam a gravar material original em 1991, para o álbum "On Every Street", que seria o seu último. Se é redutor falar dos Dire Straits apenas falando deste "Brothers in Arms"? Possivelmente, mas foram eles que criaram o "monstro". E que lindo monstro.

terça-feira, 4 de março de 2014

Ascenção meteórica vs. Queda vertiginosa

Ora, durante este fim de semana tamanho "XXL", dei por mim, no meio da minha discografia,  e eis que surge um nome, que é comum em vários discos: PHIL SPECTOR. Para muitos, um nome desconhecido, mas a questão é tão simples quanto esta: se não tivesse existido Phil Spector, muito provavelmente não existiriam hoje girls nem boys-bands, não havia Britney’s nem Shakiras, e onde hoje há um mainstream que enche as rádios, dá música a filmes e se carrega e descarrega em biliões de ups e downloads, existiria um enorme vazio por preencher. Está lançado o mote para os fundamentalistas o odiarem…
Phil Spector foi o primeiro a lembrar-se que, para sacar notas no mercado, a música é muito mais do que as notas da pauta. Foi ele quem inventou as Crystals. As Crystals, para quem não se lembra, eram uma girlsband com dois tipos de elementos: umas feias rechonchudinhas que cantavam (muito) bem e gravavam os discos; e umas barbies que faziam as capas dos discos e cartazes, dando a imagem da banda, e faziam playback em palco e nos programas de televisão, onde nunca apareciam as verdadeiras cantoras. (quais Milli Vanilli, quais quê…). Nos grandes sucessos das Crystals encontramos pérolas como "Da Doo Ron Ron", "Then He Kissed Me," ou "He's Sure the Boy I Love".  Foi Spector também o responsável pelas extraordinárias “Ronettes”, muito bem lembradas, com “Be My Baby” na banda sonora de “Dirty Dancing”. É grande a lista de incontornáveis momentos da história da música contemporânea da responsabilidade de Phil Spector. Aliás, dela constam, entre outros e para além dos já referidos, os “Righteous Brothers” autores de uma das mais notáveis canções pop de sempre: “Unchained Melody”.
Em Abril de 2009, foi condenado a 19 anos de prisão pela morte da ex-actriz Lana Clarkson que, alegadamente, não se dispôs a ser promovida e subir na carreira na “horizontal”. Vá-se lá entender o que se passa na cabeça destes génios, que tudo constroem e tudo perdem pelo deslumbre do poder… O seu aspecto na fotografia, na altura do julgamento, dizia tudo quanto ao seu equilíbrio mental.