quarta-feira, 12 de março de 2014

A música e a sua relação com o tempo...

O tempo faz-nos olhar, com condescendente ternura, para canções que na época delas desprezávamos, e nos faziam mudar a estação do rádio mais depressa do que os primeiros acordes da canção do Titanic. Agora, já não são pirosas, pomposamente e com ar intelectual, chamamos-lhes kitsh, como se isso nos desse autorização moral para as ouvir, dançar, e até cantarolar. Ou seja, já não são azeiteiras, mas sim regadas por um fino e distinto néctar extraído do fruto da oliveira. Já não são horríveis, mas sim canções subsumíveis a um paradigma estético que se afasta de modo significativo do ideal. Subjugados que estamos à moda dos Anos 80, vamos sendo agredidos, e gostamos, por Culture Club's e afins, e ainda por recriações pastichentas de todo o néctar de oliveira que ao tempo se fazia (com especial relevo para a reserva especial Elton John e Bee Gees), tipo Scissor Sisters. Ao contrário daquilo que lhe competia, o azeitola do tempo esqueceu-se dos Fairground Attraction, Prefab Sprout, Stranglers, Simple Minds ou dos Spandau Ballett. Vá-se lá entender…

Um dos bons exemplos de obra olhada de soslaio aquando da sua edição e agora recordada com saudade é o brilhante "Red", de 1987, dos Communards.
Nascidos da saída de Jimmy Sommerville dos Bronsky Beat, e com a produção a cargo do produtor dos Pet Shop Boys e New Order, Stephen Hague - o que não indiciava mesmo nada de bom... - o certo é que o seu som é fabuloso. Quanto a mim, os Communards estavam um degrau acima dos Erasure e dois acima dos Culture Club. Isto pela superior voz de Sommerville, quando comparado com Andy Bell, e pelo menor espalhafato e maior conteúdo quando ao lado de Boy George & C.ª. O anterior, e primeiro, álbum dos Communards, com o nome da banda por título, augurava já a qualidade que se veio a repetir em "Red", note-se o belíssimo single de apresentação, que os lançou, "Don't Leave Me This Way". Em "Red", vamos encontrar "Tomorrow" e uma fabulosa recriação de "Never Can Say Goodbye", que são, sobretudo esta última, hinos pop com a pica toda, daqueles que fazem dançar aos saltos o mais sisudo dos caretas. Pena que tenham ficado por aí...

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