quarta-feira, 1 de março de 2023

“The Dark Side of The Moon”: a obra-prima dos Pink Floyd celebra 50 anos

Capa do disco “The Dark Side of the Moon” da autoria de Storm Thorgerson e George Hardie

No dia 1 de Março de 1973, os Pink Floyd lançavam o trabalho de originais que viria a revolucionar uma era musical. The Dark Side of The Moon, seria assim o nome do oitavo álbum de estúdio do conjunto britânico que teve um impacto gigantesco. Com recordes de vendas quebrados em todo o mundo, estimando-se que tenham sido vendidas cerca de 45 milhões de cópias até hoje, The Dark Side of The Moon é muito mais do que um álbum de música que projectaria os Pink Floyd para um patamar estratosférico. Trata-se também de uma explosão musical com letras fortes que abordam temas profundos como tempo, dinheiro, ambição, depressão, loucura e morte. O rock progressivo, com uma forte componente psicadélica e inovadora, envolvendo outros estilos musicais, veio a demonstrar na perfeição o potencial do conjunto. Esta combinação resultou numa das maiores obras-primas musicais alguma vez produzidas até hoje, sendo ainda uma referência meio século após o seu lançamento.

Na altura os Pink Floyd contavam com o quarteto já bem conhecido desde alguns anos, constituído pelo baixista Roger Waters, o guitarrista David Gilmour, o teclista Richard Wright e o baterista Nick Mason. Já sem Syd Barrett, o mentor e fundador da banda que fora afastado dado os seus problemas com o LSD, apresentado uma saúde mental completamente deteriorada pelo seu consumo excessivo, o conjunto procurava insaciavelmente o álbum que viesse a dar o clique na sua carreira. Potencial e talento não lhes faltava, e já eram reconhecidos como uma banda promissora. Porém, as vendas dos álbuns anteriores pouco rendiam, nunca passando do meio das tabelas de vendas. Nos concertos apareciam maioritariamente fãs fiéis ao estilo da banda, embora na altura já tivessem um número de seguidores bastante considerável. 

Faltava qualquer coisa aos Pink Floyd para que se pudessem finalmente afirmar como uma das maiores bandas do momento. O trabalho árduo do conjunto, que lançava álbuns de originais todos os anos, não era suficiente. O rock psicadélico, que com o tempo e com a adição de outras nuances viria a transcender para um rock progressivo, captava a atenção de um grupo restrito de apreciadores do estilo. Era necessário algo mais, e estava difícil de encontrar uma fonte de inspiração capaz de os projectar para patamares nunca antes vistos. Porém, foi mesmo no lado negro da lua, onde os Pink Floyd finalmente encontrariam inspiração para o trabalho que teria esse mesmo nome: The Dark Side Of The Moon. O título inspirador advém do facto do movimento de rotação e de translação da Lua em torno da Terra coincidirem, sendo ambos 28 dias. Deste modo apenas conseguimos ver uma das faces iluminada pelo Sol, sendo que a outra é designada por lado escuro ou lado negro da lua.

Para além desta conotação ao espaço, com enorme foco no nosso satélite natural, outro elemento científico também surge. A capa, feita pelo designer gráfico Storm Thorgerson, exibe um triângulo num fundo negro, inspirado nas pirâmides do antigo Egipto, representado um prisma onde a luz branca é difractada nas diferentes cores que a compõem. Esta experiência foi realizada pela primeira vez por Isaac Newton, conhecido físico britânico que deixou um enorme legado na ciência, havendo assim uma alusão aos efeitos de luz que já eram bastante característicos dos concertos dos Pink Floyd, e também à diversidade da banda. A imagem, embora simples mas extremamente carismática, tornou-se num sucesso de marketing, não só com o álbum, mas também com t-shirts, posters, e os outros acessórios com a imagem exposta. Durante vários anos existiu uma teoria de que a grande inspiração de The Dark Side of The Moon terá sido cinematográfica, nomeadamente com O Feiticeiro de Oz  (The Wizard of Oz), filme de 1939 que ficou para sempre na história da sétima arte. Se passássemos o filme em simultâneo com o disco, havia cenas do filme que coincidiam com passagens das canções, efeito que ficou conhecido como Dark Side of The Rainbow. Esta história terá sido desmentida pelos membros do conjunto, não passando de coincidências que, por ordem do acaso, aconteceram.

O álbum viria a ser gravado nos estúdios Abbey Road, pela editora Harvest Records entre Maio de 1972 e Fevereiro de 1973, e em parceria com o engenheiro de som Alan Parsons e com a editora norte-americana Capitol Records. Os estúdios Abbey Road foram sempre fortemente associados aos Beatles pois foi o local onde gravaram a maioria dos seus trabalhos originais, para além de também ser o título de um dos seus álbuns de estúdio, o que também viria a impulsionar o sucesso deste trabalho dos Pink Floyd. Nunca fugindo à grande inspiração do quarteto naquele que foi o seu grande mentor, Syd Barrett, algumas das letras das canções de The Dark Side Of The Moon retratam a loucura e a depressão que lhe foram diagnosticadas. Já praticamente afastado da música, após a sua saída da banda e de uma carreira a solo de pouco sucesso, Syd ficaria sempre como o grande inspirador dos Pink Floyd e o sucesso do conjunto jamais faria com que isso fosse esquecido. A sua verdadeira homenagem viria dois anos mais tarde com Wish You Were Here, um álbum inteiramente dedicado a Syd Barrett, o tributo merecido após o sucesso de The Dark Side Of The Moon.

As letras foram todas escritas por Roger Waters, tornando-o à época no principal mentor dos Pink Floyd que, ao combinar com a excelência de cada um dos membros, fez com que a banda britânica voasse para um estatuto lendário na música rock. As canções já teriam sido compostas há algum tempo e a tour do álbum iniciar-se-ia logo no início de 1972, numa altura em que a gravação em estúdio ainda nem sequer tinha começado. Tal tour, intitulada “The Dark Side of The Moon – A pieced for assorted lunatics“, viria a ser uma espécie de primeiro ensaio ao álbum que estava prestes a ser editado. As canções apresentavam-se ainda num estilo embrionário, mas captariam a atenção do público que ansiava pela gravação de um álbum de originais com o material apresentado em palco. Assim, viria a surgir The Dark Side of The Moon, um álbum que marcaria a década de 70 e que se manteria bem vivo nos anos vindouros. Sobreviveria a toda uma conjuntura de novas variantes no rock que acabariam por dominar as décadas seguintes após o seu lançamento, continuando ainda a ser uma referência musical nos dias de hoje.

Embora em pleno século XXI este seja um álbum audível em qualquer serviço de streaming, em 1973 foi gravado e comercializado em disco vinil. Começando pelo lado A do disco, Speak to Me é a faixa que dá início a The Dark Side of The Moon, tendo sido composta pelo baterista Nick Mason. Trata-se de uma mistura de diversos sons iniciando-se com um batimento cardíaco que rapidamente se mistura com tiquetaques de relógios, efeitos de máquinas registadoras, hélices e risos, introduzindo alguns dos efeitos presentes nas canções futuramente apresentadas. Terminando com um grito interpretado por uma voz feminina, Speak to Me encerra com uma espécie de Big Bang musical, dando a indicação de que uma origem foi assim encontrada.

Essa origem surge com a canção Breathe (In The Air), marcado por um tom calmo, conjugando uma mistura harmoniosa entre os instrumentos da banda. No seio dessa harmonia surge a voz de David Gilmour ao cantar os versos “Breathe in the air / Don’t be afraid to care”, que acaba assim por dar o título a esta canção. Com uma letra simples mas bastante marcante, Breathe (In The Air) acaba por iniciar uma obra musical que prometeria ter tudo para dar certo, revelando um enorme equilíbrio entre os quatro membros do conjunto. Embora o rock progressivo com a forte matriz psicadélica estejam presentes, Richard Wright admitiu que ter-se-á inspirado no álbum Kind of Blue de Miles Davis, quando estava a compôr a canção.

On The Run, terceira faixa, é puramente instrumental, envolvendo sons electrónicos gerados por dois sintetizadores (um Synthi e posteriormente um VCS 3) em modo acelerado, que juntos criam uma espécie de efeito de doppler. Este fenómeno físico ocorre quando ocorre quando uma fonte de onda (neste caso o som) e o observador estão em movimento um em relação ao outro. Toda a faixa dá a sensação de movimento, como se a fonte de som se afastasse e aproximasse do ouvinte, dando a sensação de que se trata eventualmente de uma viagem espacial. Inicialmente denominada por The Travel Sequence, apresentando-se numa versão bastante diferente, esta tratava-se de uma melodia mais progressiva e não tanto electrónica como a versão hoje conhecida. São também audíveis sons de hélices, risos e frases soltas, assemelhando-se a um passageiro em pleno aeroporto. A canção termina com uma gargalhada e com o estrondo de um avião a despenhar-se.

De seguida ouvem-se tiquetaques que passado alguns segundos se elevam para o som de despertadores e campainhas de relógios em sintonia, que surgem com Time. O baixo de Roger Waters acaba por gerar um compasso dos segundos, que acompanha uma percussão fabulosa de tambores, executada por Nick Mason durante os primeiros minutos. Quando a percussão passa subitamente dos tambores para a bateria, David Gilmour volta a projectar a sua voz numa das canções mais emblemáticas no álbum, com um dueto feito a meias com Richard Wright. Após o dueto, um magnífico solo de guitarra de David Gilmour acompanhado pelos restantes instrumentos e pelos coros de apoio toma conta desta canção, vislumbrando o potencial musical do conjunto britânico. Voltando novamente a um registo igual ao do dueto inicial, com as duas vozes a dar continuidade a canção, Time termina com a continuação de Breathe (designada por Reprise). Aqui, a voz de David Gilmour começa por entoar “Home, home again / I like to be here when I can”, terminando da mesma forma que a versão original de Breathe (In The Air).

The Great Gig in The Sky surge com um piano tocado por Richard Wright, com os instrumentos a emergirem levemente, seguindo-se da frase entoada por Gerry O’Driscoll, o porteiro dos estúdios Abbey Road “And I am not frightened of dying. Any time will do, I don’t mind. Why should I be frightened of dying? There’s no reason for it – you’ve got to go sometime”. Após estas palavras, uma explosão musical ocorre com a poderosa voz de Claire H. Torry projectada em forma de cântico, sendo esta uma canção que não apresenta qualquer conteúdo lírico por detrás. Inicialmente denominada por “The Mortality Sequence“, numa versão sem vocais, e depois para “The Religion Song“, The Great Gig in The Sky remete para um cântico religioso ou até mesmo fúnebre. Na segunda metade da canção apenas são audíveis o piano de Richard Wright e a voz de Claire H. Torry, sem quaisquer outros instrumentos, terminando o lado A do formato vinil de The Dark Side of The Moon.

O lado B começa com o som de uma máquina registadora antiga que se mistura com o som de moedas a cair, dando início a Money. O compasso marcado pelo baixo de Roger Waters torna-se também numa imagem de marca da sexta faixa de The Dark Side of The Moon, provavelmente a mais emblemática do álbum. Interpretada pela voz de David Gilmour, exibindo uma letra que lança fortes críticas ao capitalismo e à sociedade de consumo, visível logo nos versos iniciais “Money, get away / You get a good job with more pay, and you’re okay”, esta tornou-se numa das mais poderosas canções de toda uma era musical. Após a primeira parte vocal, surge um solo de saxofone interpretado por Dick Parry, músico que viria também a colaborar com os Pink Floyd em trabalhos posteriores, e que daria também um grande contributo a este álbum. A sua performance termina com a bateria acelerada de Nick Mason que dá início a uma sinfonia efervescente, conjugando os diferentes instrumentos, com especial destaque para o solo de guitarra de David Gilmour. Voltando novamente à parte vocal de Gilmour, a canção termina com uma conversa e com frases soltas. Ironicamente, Money viria a ser a canção que tornaria os Pink Floyd milionários, sendo uma das canções mais efusivas de todo o repertório da banda que gerou furor sempre que passava nas estações de rádio e sempre que era exibida nos concertos.

Num registo mais suave, e introduzida por um órgão tocado por Richard Wright, surge a canção Us and Them que conta também com o saxofone de Dick Parry bem assente. Esta canção fora inicialmente denominada por The Violent Sequence quando foi composta por Richard Wright para o filme Zabriskie Point (Deserto de Almas), realizado por Michelangelo Antonioni em 1970. Com uma letra que descreve a natureza das consequências da guerra, criticando o materialismo e o consumismo, Us and Them consegue envolver o rock progressivo dos Pink Floyd com uma forte componente de jazz. A canção é novamente interpretada pela voz de David Gilmour, tendo no refrão o contributo da voz de Richard Wright. Antes do solo de saxofone, surge um diálogo interpretado por Roger Meinfold, um roadie que acompanhou a banda durante as tours dos anos 70. Seguem-se os coros vocais e os instrumentos em enorme harmonia, voltando novamente à componente vocal que encerra a canção mais longa do álbum com quase oito minutos de duração.

O rock psicadélico inerente nos Pink Floyd torna-se evidente com Any Colour You Like, uma faixa puramente instrumental cujo título remete para as cores do espectro de luz difractado na capa. Trata-se de uma harmoniosa conjunção dos instrumentos do conjunto, onde o sintetizador VCS 3 tocado por Richard Wright toma conta da primeira metade da canção enquanto que a segunda metade é dominada pela guitarra de David Gilmour. Acaba por ser uma mistura de rock psicadélico com jazz, funk e electrónica, dando também corpo ao álbum.

Após esta envolvente surge Brain Damage, canção interpretada pela voz de Roger Waters. A canção fora inicialmente denomida por “Lunatic” devido aos versos que decorrem ao longo da melodia “The Lunatic is on the grass […] The Lunatic is in my head”. É aqui que também surge o nome do álbum, com cada quadra a terminar com a frase “I’ll see on the Dark Side of The Moon”, nesta alegre melodia que acaba também por deixar uma marca forte neste trabalho. Durante a melodia são audíveis várias gargalhas de Peter Watts, pai da actriz Naomi Watts, o engenheiro de som que trabalhou nas gravações deste álbum, sendo esta uma canção que retrata a loucura no sentido literal da palavra.

O álbum não poderia deixar de terminar sem um fenómeno astronómico, neste caso com um eclipse. Eclipse é décima e última faixa do álbum e dá continuidade a Brain Damage. Novamente interpretada pela voz de Roger Waters, esta canção trata-se de uma espécie de lengalenga que se inicia com “All that you touch / All that you see / All that you taste or you feel” e que segue sempre com a palavra “All” no início de cada verso. Aumentando de intensidade com o tempo, onde os instrumentos e os coros de apoio vão ganhando notoriedade, esta canção termina com uma espécie de premissa filosófica: “And everything under the sun is in tune, but the sun is eclipsed by the moon”. Ainda em adição, outra frase poderosa proferida por Gerry O’Driscoll surge após o término da melodia: “There’s no Dark Side of The Moon really, In matter of fact is all dark.”. A canção termina com o batimento cardíaco inicialmente introduzido em Speak to Me, e que assim conclui aquele que é o lado negro da lua apresentado pelos Pink Floyd: The Dark Side of The Moon.

Mais do que um álbum de música, que contém nuances musicais muito para além do rock psicadélico e progressivo característico dos Pink Floyd, The Dark Side Of The Moon apresenta um conteúdo lírico de enorme impacto numa década de grandes transformações, não só musicais, mas também sociais. Dado o sucesso, houve alguma disputa no que toca aos créditos do álbum, relativamente à hegemonia que Roger Waters teria sobre a banda nos anos seguintes e dos atritos com os restantes membros. Também surgiram controvérsias relativamente ao pagamento dos engenheiros de som e dos músicos contratados para a sua gravação. Tendo em conta a explosão que The Dark Side of The Moon teria, a conta bancária dos membros dos Pink Floyd ficaria bem recheada e a compensação aos colaboradores não terá sido proporcional ao sucesso. Controvérsias que ainda perduram, mas que apenas vieram a comprovar que o sucesso também sai caro e que só se consegue alcançar através de um trabalho conjunto, acabando por ser mais ingrato para uns do que para outros.

Meio século depois, The Dark Side Of The Moon é um álbum considerado por muitos como uma das obras musicais mais vanguardistas de sempre, continuando a ser uma referência e um exemplo para a maioria dos intérpretes da música rock nos dias de hoje. E de facto, The Dark Side Of The Moon permanece actual, conseguindo ter o mesmo impacto como tivera em 1973 quando foi dado a conhecer ao mundo. Ainda está por definir qual o limite da longevidade deste álbum que acabou por ser um autêntico estouro daquilo que foram os Pink Floyd, colocando-os para sempre com o estatuto de uma das maiores bandas de todos os tempos. O triângulo, com o feixe de luz a incidir do lado esquerdo e as cores do arco-íris difractadas do lado direito, continua a ser um símbolo clássico da música rock. As canções, e sobretudo as letras do álbum, permanecem actuais, sendo um exemplo de maturidade, ousadia e acima de tudo de grande criatividade. Ao fim e ao cabo, não existe propriamente um lado negro da lua pois, sendo um corpo celeste sem luz própria, acaba por reflectir a luz do sol. Mas é no lado mais brilhante da música, onde estão as grandes peças musicais que se conseguem aproximar da eternidade, que conseguimos encontrar em grande plano The Dark Side Of The Moon dos Pink Floyd.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Derek and the Dominos - Layla and Other Assorted Love Songs (publicado a 9 de novembro de 1970)

Se há álbum de amor, coração partido e respetivo carpir de mágoas, então, a escolher um, seria Layla and Other Assorted Love Songs sem pensar muito, se calhar nem duas vezes…

Layla, pseudónimo para Pattie Harrison, mulher do Beatle George, inspirou um disco composto na sua maioria por Eric Clapton, numa das piores fases da sua vida. Eric sempre fora um músico que não gostava de ficar parado. As suas incursões por várias bandas ao longo da sua carreira foram disso exemplo, senão vejamos: Yardbirds, John Mayall’s Bluesbreakers, Cream, Blind Faith e ainda a perninha na banda de Delaney & Bonnie. Todas estas participações fizeram que fosse considerado um dos melhores guitarristas da sua geração, no entanto, continuava a preferir esconder-se no meio de uma banda do que lançar-se às feras a solo.

Derek and the Dominos começa a germinar em meados de 1969 com o ruir dos Blind Faith, formado por Clapton, Steve Windwood, Ginger Baker e Ric Grech e com a ajuda dos novos amigos Delaney e Bonnie que contava com os músicos Bobby Whitlock, teclista, Carl Radle no baixo e o baterista Jim Gordon. A Clapton, Whitlock, Radle e Gordon associou-se o guitarrista dos Allman Brothers, Duane.

Delaney incentivou Clapton a começar a acreditar nele próprio e a cantar as suas próprias canções. O primeiro resultado saiu no Verão de 1970 com o disco homónimo, contando com uma grande colaboração de Delaney. No entanto, Eric ainda não se sentia confortável a solo pelo que voltou a pedir o “anonimato” e pedir ajuda.

Não sendo um disco quase a solo como muitas pessoas o referenciam, Layla and Other Assorted Love Songs é uma extensa carta de amor e dor de Clapton, em parceria com os restantes elementos da banda.

O disco é essencialmente marcado pelos blues. Algumas músicas mais melódicas: “Bell Bottom Blues”, “I Am Yours”, outras mais puro blues: “Nobody Knows You When You’re Down and Out”, “Have You Ever Loved a Woman?” e ainda outras mais rock: “Keep on Growing”, “Anyday”, “Why Does Love Got to be So Sad?”, mas nunca fugindo ao mesmo tom e tema do álbum.

A cereja em cima do bolo chega com a versão de “It’s Too Late” de Chuck Willis, tocada de forma tão emocional por parte de Clapton que é impossível ficar indiferente e Layla, o clímax do disco.

No entanto, é um disco/grupo que fica marcado por tragédias, abuso de drogas e desilusões, vindo a terminar ao fim de pouco tempo.

Durante as gravações do disco, Clapton ficou atordoado com a morte do seu “rival” Jimi Hendrix, decidindo incluir a versão de “Little Wing” que tinham gravado uns dias antes, acabando por tornar-se numa das melhores músicas do disco.

Após alguns concertos pelos EUA recheados de drogas e álcool, a banda preparava-se para a sua primeira tour a sério, quando mais uma tragédia se abateu. Duane Allman morre num acidente de moto. A estas tragédias juntou-se o facto de o álbum não ter sido um êxito. Clapton levou este facto a peito e decidiu que estava na altura de se assumir, sair da zona segura escondido atrás de bandas. Derek sempre fora Eric Clapton e Layla era Pattie Harrison.

Nunca chegou a haver segundo disco, a banda simplesmente dissolveu-se entre sessões de gravação. Carl Radle viria a falecer em 1980 devido a problemas no fígado, potenciados pelo abuso de drogas e álcool.

Jim Gordon, sofredor de esquizofrenia não diagnosticada matou a sua mãe com um martelo em 1983, vindo, no ano seguinte, a ser internado numa instituição mental onde ainda hoje permanece.

Bobby Whitlock lançou, pouco tempo depois do fim da banda, um álbum a solo com algum sucesso e tem tido uma carreira decente.

Clapton, esse, viria a tornar-se num recluso, entregue às drogas e, ainda, sem Pattie (viria a conquistar o seu amor apenas em 1974, escrevendo “Wonderful Tonight”, anos mais tarde, em sua autoria), apenas aparecendo, ainda que uma sombra de si próprio, durante o concerto para Bangladesh, organizado por Harrison e no Rainbow Concert, organizado por Pete Townshend para ajudar Clapton a reconstruir a sua vida.

Anos mais tarde, a história viria a dar valor e a colocar Layla and Other Assorted Love Songs num pedestal como um dos discos mais importantes da história da música.


sábado, 13 de agosto de 2022

Lynyrd Skynyrd - Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd (publicado a 13 de agosto de 1973)

Oriundos de Jacksonville, Florida, e ostentando por toda a parte a bandeira sulista, os Lynyrd Skynyrd são uma das bandas mais importantes do rock sulista em particular e da música americana em geral. Ao contrário dos Allman Brothers que tendiam em improvisar nas suas músicas, estendendo-as por vários minutos, os Lynyrd eram muito mais focados no seu tipo de música blues, rock e country.

"Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd", primeiro disco da banda com a formação original até à morte de vários elementos, incluindo o guitarrista e vocalista Ronnie Van Zant, de acidente de avião, em 1977. Composto por apenas oito músicas, destacam-se a mítica “Free Bird”, com o seu longo solo de várias guitarras e as baladas “Tuesday’s Gone” e “Simple Man”.

Um disco essencial ao lado do seu seguidor "Second Helping", que contém a lendária “Sweet Home Alabama”.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Pink Floyd - Obscured by Clouds (publicado a 2 de junho de 1972)

Não sendo precisamente o típico álbum de Pink Floyd, Obscured by Clouds, banda sonora para o filme La Valée, de Barbet Schroeder, é uma espécie de tesouro escondido.

Obscured By Clouds é um disco mais calmo, pausado, com imagens pastorais, um pouco ao estilo do que a banda estava a fazer, nomeadamente em Atom Heart Mother e Meddle. Músicas como “Burning Bridges” e “Wot’s…Uh the Deal ” trazem das melhores interpretações voz-guitarra de David Gilmour.

É em Obscured by Clouds que Roger Waters começa a dar os primeiros passos para a sua visão mais intimista e psicótica em relação ao mundo. “Free Four”, encoberta por uma melodia mais pop a fazer lembrar os Kinks ou T-Rex, esconde no seu interior letras sobre morte, envelhecimento, cinismo e tristeza que iriam ser muito exploradas nos discos seguintes da banda. Juntando alguns números instrumentais bem conseguidos, este disco, esquecido pela crítica e público, consegue ser mais do que uma banda sonora a um filme mediano, acabando por singrar por si próprio.

sexta-feira, 19 de março de 2021

O primeiro álbum de Bob Dylan foi lançado há 59 anos


A 19 de Março de 1962, um jovem músico de seu nome Robert Allen Zimmerman, conhecido hoje por Bob Dylan, um dos músicos mais influentes da música folk, country, blues e até rock, lançava o seu primeiro álbum de estúdio intitulado com o seu nome artístico. Celebrando-se hoje, além do dia do pai, os 59 anos deste álbum, nada melhor do que uma abordagem à obra que apadrinhou todo um vasto trabalho musical, lírico e literário daquele que foi o pai de uma geração de artistas, desde os que surgiram durante a sua afirmação como músico, até àqueles que procuram afirmar-se nos dias de hoje. Tudo se deve ao engenho de moldar poemas e textos em canções e melodias, e a um extenso leque de combinações de acordes de guitarra acompanhados pelo constante timbre estridente da sua harmónica, características que só um músico como Bob Dylan possui.

O álbum Bob Dylan não é propriamente um álbum “à Dylan” como geralmente se conhece, com letras e acordes de guitarra de uma identidade extrema. Trata-se de um álbum maioritariamente composto por covers curtos de temas da música folk e blues, desenvolvidos em anos anteriores, e com alguma exploração de novos conteúdos. A interpretação de “House of  The Risin’ Sun“, anterior à versão mais célebre de 1964 por parte dos britânicos Animals, é a música mais longa e talvez a que mais se destacou numa altura em que Bob Dylan não passava de um jovem músico que passeava com a sua guitarra e harmónica à procura de uma carreira musical como tantos outros jovens no início da década de 60. Porém, as músicas neste álbum compostas pelo próprio, “Song to Woody“ e “Talkin’ New York“, mostram que Bob Dylan poderia ser uma promessa na música e na composição de letras. E, na verdade, é que, até agora, Bob Dylan lançou 38 álbuns de estúdio, escreveu mais de 400 canções, venceu 13 prémios grammy (e é o artista que até hoje foi nomeado em maior número de categorias), um Óscar da academia e um Globo de Ouro para melhor canção original para o filme Wonder Boys e, mais recentemente, o Prémio Nobel da Literatura pela criação de modos de expressão poética na música americana. Falar hoje no primeiro álbum de Bob Dylan é falar da primeira obra de uma figura que à medida que o tempo avança se aproxima do estatuto de génio, tornando-se numa figura espiritual no mundo da música e da arte. Contudo, é importante realçar que o início da carreira de Bob Dylan foi repleto de obstáculos, até porque, de acordo com a crítica da época, o seu primeiro álbum não fora nada do outro mundo.

A aventura musical de Bob Dylan começa em 1959 quando, o ainda Robert Allen Zimmerman, partiu para Minneapolis para estudar na universidade de Minnesota. Foi aqui que o seu interesse inicial pelo rock n’ roll, que fizera um enorme sucesso durante a década de 50, começou a tender para o folk e também para o country. Durante o tempo que passou em Dinkytown, adoptou o tão ilustre nome artístico Bob Dylan, inspirando-se no seu poeta preferido, Dylan Thomas. Contudo, Bob Dylan abandonou a universidade logo após o seu primeiro ano e no início de 1961 viajou para Nova Iorque com a esperança de ver um dos seus ídolos musicais da música folk, Woody Guthrie, que estava internado no hospital psiquiátrico de Greystone Park devido ao agravamento da doença de Huntington que lhe fora diagnosticada. As visitas constantes deste ainda jovem músico a uma das suas grandes referências musicais foram suficientes para criar inspiração e alimentar um desejo ainda maior pelo ingresso numa carreira musical. A própria música “Song To Woody“ é inspirada em Woody Guthrie, assim como “Talkin’ New York” é inspirada na cidade que o acolhera musicalmente.

Foi então em Nova Iorque que Bob Dylan começou a tocar em vários clubes do bairro de Greenwich Village, ganhando alguma visibilidade e reputação graças a um artigo publicado no The New York Times sobre as suas actuações, durante uma reportagem sobre o Gerde’s Folk City, o clube onde grandes nomes da música passaram de forma a obter a sua afirmação. Dylan suscitou interesse musical por parte da cantora Carolyn Hester que o convidou a tocar harmónica na gravação do seu terceiro álbum, o que levou a que o seu talento chamasse também à atenção do produtor John H. Hammond que contratou Dylan para a prestigiada editora norte-americana Columbia Records. As interpretações incluídas neste seu primeiro trabalho para a Columbia resultariam no seu primeiro álbum composto essencialmente por material de música folk e blues, juntamente com os tais dois originais de sua autoria. O sonho de lançar um trabalho musical estava então concretizado, no entanto o fraco sucesso comercial do álbum, que apenas vendera pouco mais de duas mil cópias no primeiro ano, foi o suficiente para que o seu talento começasse a ser posto em causa. Bob Dylan começou a ser visto como uma aposta fracassada para a editora americana, tendo mesmo sido posta em cima da mesa a hipótese de rescindir o seu contrato. Apesar de tudo, o produtor John H. Hammond fez questão de defender Bob Dylan perante as dúvidas da editora, contando também com o apoio de outro grande nome da música country que havia assinado pela Columbia meses antes, o ilustre Johnny Cash. A aposta em Dylan em pouco tempo passaria de um tiro no pé para uma jogada de mestre: a Columbia teria lucros extraordinários graças ao progresso comercial explosivo dos álbuns de Bob Dylan que surgiam espontaneamente ano após ano.

Este foi então o primeiro degrau numa escadaria de sucesso que é a carreira de Bob Dylan. Só no decorrer da década de 60, os degraus seguintes foram compostos por álbuns de êxito gradual, nomeadamente The Freewheelin’ Bob Dylan (1963), The Times They Are a-Changin’ (1964), Another Side of Bob Dylan (1964), Bringing It All Back Home (1965), Highway 61 Revisited (1965), Blonde on Blonde (1966), John Wesley Harding (1967) e Nashville Skyline (1969), todos eles repletos de canções que ficaram para a história da música norte-americana e internacional. Apesar de um início um pouco obstinado, os tempos mudavam e a carreira de Bob Dylan rolava gradualmente para o sucesso como uma pedra rolante, chegando mesmo a bater às portas do paraíso, soprando ventos e até tornados musicais que inspirariam outros tantos músicos. Hoje falamos deste álbum como a primeira obra daquele que é um dos mais influentes artistas sempre. O álbum que, apesar do seu fraco sucesso de vendas, foi a primeira obra-prima do mestre Dylan, uma pérola musical e até poética que representa o melhor que um jovem em ascensão artística conseguiu alguma vez produzir.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Porque é que amamos tanto o rock?

 

O rock. Aquele estilo musical que nos mete aos pulos, que nos causa arrepios, que nos faz vibrar, que aumenta o nosso ritmo cardíaco e que enche os nossos dias de cor. Será então por isso que gostamos tanto dele? Ou haverá uma explicação mais profunda e filosófica que possa explicar tais efeitos? Estas são questões sem resposta imediata porque nos levam a refletir um pouco sobre a nossa cultura musical que, apesar de ser constituída por uma série de outros estilos musicais, acaba sempre por ser bastante influenciada por este. A música rock é uma das nossas grandes paixões, mas poucos sabem explicar o porquê. Trata-se de algo intrínseco que parece que vem logo agarrado a nós desde que nascemos e que tende a aumentar de tamanho, incorporando novas formas à medida que os anos passam. Ninguém sabe como surge tal interesse que acaba por ser uma paixão que facilmente se torna num amor constante sem fim. Ouvimos algo e procuramos sempre mais músicas rock novas para além daquelas que já conhecemos. Provavelmente tudo começa quando ainda em crianças ou na juventude começamos por ouvir subitamente na rádio por mero acaso ou somos incentivados pelos nossos pais ou familiares mais velhos, também eles apreciadores, ou então pelos nossos amigos de escola que nos mostram algum rock que também tenha passado por eles. Este é quase um testemunho que vai passando de geração em geração, de pessoa para pessoa, criando assim novos estilos e géneros nunca antes experimentados. Provavelmente o maior poder que a música rock tem é mesmo este, o poder de conseguir conjugar gerações distintas e até pessoas de diferentes classes, culturas ou religiões.

A música rock em si tem uma série de poderes visíveis sobre nós. Só o dedilhar de uma guitarra eléctrica faz com que tenhamos um dia mais alegre enquanto vamos para o trabalho, faz com que haja algo mais caloroso dentro nós, estimulando assim uma boa disposição contagiante. Claro que o rock também consegue libertar um lado mais animalesco que há em cada um de nós, fazendo uma dissecação aos sentimentos negativos, até mesmos quando temos um dia mau ou tenhamos passado por um mau bocado. A verdade é que ficamos sempre a pensar no mesmo cada vez que ouvimos uma bela melodia rock: “Aquele riff inicial de guitarra causa-me arrepios” ou “O compasso daquele baixo é fascinante”, ou ainda “O ritmo violento daquela bateria faz com que consiga abstrair-me de muita coisa”. Conseguimos sempre arranjar adjetivação para descrever as emoções que a música rock nos proporciona, tais como arrepios, prazeres duradouros ou sensações delirantes. O rock continua a crescer e tem um histórico enormíssimo: desde as suas origens no blues, na música country, no jazz e noutros tantos estilos musicais onde pioneiros como Elvis Presley ou Chuck Berry começavam a dar cartas, passando pelos diversos estilos e modificações sofridas ao longo de mais de seis décadas, até chegar ao nosso vizinho de 14 anos que depois de regressar das aulas permanece o resto da tarde no seu quarto a tocar a sua guitarra elétrica, produzindo o mais ensurdecedor dos ruídos. A verdade é que foi com esse ruído inicial que grande parte dos músicos rock que hoje conhecemos começaram a sua carreira. Foi com experiências bastante preliminares que deram os primeiros passos e que assim progrediram até conseguirem chegar àquele patamar que é vulgarmente designado por estatuto de “estrela do rock”.
No fundo pode-se considerar que o rock funciona como uma ciência ou um engenho, como se fosse até uma fábrica. E de facto é mesmo pois o rock é também uma indústria potentíssima. Tudo começa nos laboratórios musicais numa garagem ou numa casa, passando pelos estúdios onde a produção musical se eleva para uma escala maior. Depois surge um impulso para os discos e para os concertos, saindo-se do laboratório para uma escala industrial. Todo este processo de se fazer bom rock é algo complexo, só sabe e só sente e quem o faz, só entende e sente os desafios quem o explora. Mas quando esse processo atinge os objetivos faz com que aqueles que o vêem a ser feito fiquem boquiabertos e deslumbrados com o resultado final. E claro está, acima de tudo, o rock é provavelmente o estilo musical que mais une as pessoas, e cada vez mais une diferentes gerações. É possível um pai ou um avô gostar do rock dos Foo Fighters ou dos Queen of The Stone Age como é possível um filho ou um neto gostar do rock do Jimi Hendrix ou dos Led Zeppelin. Nos concertos encontramos cada vez mais gerações distintas, nomeadamente pais que vão com os filhos, para além dos grupos de amigos que podem ascender às dezenas, dos casais de namorados que procuram conhecer um pouco mais do rock que o seu parceiro gosta, e ainda aventureiros que vão sozinhos em busca de outros aventureiros que sejam loucos por este estilo musical. Os espetáculos são vividos de maneira sentida e emocional: rimos, gritamos, saltamos, abraçamo-nos, choramos, cantamos, sentimos tudo como se fosse um momento único nas nossas vidas. Amamos o rock porque para além de ser feito para ser dançado e cantado, vivido e convivido, foi acima de tudo feito para ser amado.

O rock é isto. Não se consegue explicar, apenas se consegue sentir. Não se consegue entender, apenas se consegue saborear. Do mais melancólico e pausado até ao mais excêntrico e agressivo, foi feito para nós com todo o amor e carinho. Amamos o rock porque ele é assim, entrega-se a nós de uma maneira tão espontânea e natural como se nada fosse. É inocente. É simples. É puro. É romântico. É humano e faz de nós mais humanos ainda. Mantém o nosso espírito bem vivo e enaltece o melhor que há dentro de nós. É verdade que a vida no planeta já existia muito antes do rock ter sido inventado. Mas o espírito e a vertente poética no ser humano seriam muito mais diminutas se o rock nunca tivesse existido. E essas são as condições necessárias para que a verdadeira essência da alma humana nunca morra.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

O dia em que os Pearl Jam contaram a história de Jeremy Delle


“At home
Drawing pictures
Of mountain tops
With him on top”

Muitos autores e artistas descrevem a arte como criação superior capaz de mostrar a sociedade ao espelho, uma espécie de capacidade de vermos as nossas próprias limitações, erros e também grandezas. A música, talvez a arte à qual as pessoas mais recorrem em todo o mundo, como escreveu Tolstoy é “um atalho para emoções“, em apenas um ou dois segundos é capaz de nos transportar para esconderijo emocional que só nós conhecemos. O álbum de estreia dos Pearl Jam, Ten lançado em 1991, apesar de ter começado a vender lentamente, continua a ser o mais bem sucedido da sua história. No início a banda procurou fazer várias composições instrumentais e só depois acrescentaram as letras. Os temas do álbum são grandes causas de sentimentos negativos, sombrios e auto-destrutivos, como a morte, tristeza, solidão, desespero ou depressão.

“Dead lay in pools of maroon below
Daddy didn’t give attention
Oh, to the fact that mommy didn’t care
King Jeremy the wicked
Oh, ruled his world”

Por exemplo, a música Jeremy, lançada neste álbum, continua a ser uma das referências da banda; a letra pertence a Eddie Vedder enquanto a música foi composta por Jeff Ament. A inspiração de Eddie Vedder veio de uma notícia trágica. Em Janeiro de 1991, o vocalista descobre, através de um jornal, que um rapaz cometeu suicídio em frente da turma de Inglês na escola secundária de Richardson, no Texas, para se vingar dos colegas que o torturavam. O nome da música vem diretamente do nome da vítima, Jeremy Delle, que tinha 16 anos na altura em que tudo isto aconteceu. Os colegas descreveram-no como um rapaz que era muito tímido, sempre com uma aparência triste. No dia fatal, Jeremy depois de chegar atrasado, foi-lhe dito que pedisse uma autorização, necessária nesta escola para estes casos, no gabinete da direcção. Quando chegou à sala tinha consigo um revolver. 357 Magnum e anunciou “Senhora, já tenho o que realmente queria”, colocou o revolver na boca em frente aos colegas e puxou o gatilho.

“Jeremy spoke in class today
Jeremy spoke in class today
Jeremy spoke in class today”

Eddie Vedder, em declarações à Rockline Interview, em 1993, explicou ser difícil que coisas como esta aconteçam e tudo fique na mesma “cometes suicídio como forma de vingança e tudo o que acabas por conseguir é um mero parágrafo de jornal (…) nada muda. O mundo continua e tu já foste.” Conta ainda que a música não é só sobre suicídio mas também sobre a falta de atenção de alguns pais para com os problemas dos filhos, um tema presente numa outra música, a “Why Go”. Na música podemos encontrar outra referência, outra história; Vedder descreveu ainda um rapaz, chamado Brian, que conheceu no seu sétimo ano e que não mais voltou a esquecer. Este rapaz tinha levado um arma para a escola e disparou alguns tiros, um dos quais acertou num aquário. Eddie contou que no ano anterior se tinha envolvido com ele numa luta em plena escola, sobre a qual podemos encontrar pequenas referências na letra. No entanto, o cantor deixou claro que a música é sobre Jeremy, é ele a principal referência da música, é a ele que deve ligar os nossos sentimentos: “Que ninguém se ofenda, eu penso no Jeremy quando canto”.

“Try to forget this,
Try to erase this,
From the blackboard
Jeremy spoke in class today”


sábado, 5 de dezembro de 2020

BOB DYLAN, o sociólogo da música

 

Bob Dylan. O nome fala por si. Trata-se de um dos maiores nomes da história da música e um dos mais influentes desta modalidade artística. Com uma atitude muito sui generis e pioneiro tanto ao nível instrumental como lírico, o norte-americano conquistou de forma galopante os seus contemporâneos e coleciona mais de cinco décadas de êxitos e de virtude escrita. Para além do artista, a sua componente humana saltou à vista enquanto promovia uma música intervencionista, esta que refletia a postura do seu autor e que se opunha aos conflitos que deflagraram nos anos 60 e 70. Mais do que sua música, exalta-se a proeminência de uma referência na sociedade global.

Robert Allen Zimmerman nasceu a 24 de maio de 1941 no estado do Minnesota, nos Estados Unidos da América. Por fruto da ascendência báltica dos seus avós, o pequeno Robert teve uma educação judaica dada pelos seus pais no seio de uma pequena comunidade. Foi desde cedo (sete anos) que a sua paixão pela música nasceu, ouvindo com regularidade estações de rádio que passavam blues e country. Na sua adolescência, fez parte de várias bandas que produziram covers de nomes prestigiados como Little Richard e Elvis Presley. Da cidade que o viu nascer, Duluth, migrou para Minneapolis para ingressar na universidade. Foi neste período que focou a sua música no folk, fundamentando essa escolha pelo maior sentimento que recaía no mesmo. Enquanto atuava em vários eventos de folk, Robert definiu arbitrariamente, como seu nome artístico, “Bob Dylan”. O apelido deriva de uma inspiração do músico, sendo esta o poeta Dylan Thomas, este que viria a influir a criação das suas letras.

Em 1960, Bob desiste da universidade e decide viajar para Nova Iorque, onde contacta com o seu ídolo Woody Guthrie, alguém que o consciencializou para a importância de expressar o que é humano na música e para a ressalva do espírito americano. Nesta sua itinerância, contacta com vários indivíduos de renome no panorama do folk e inicia a sua nacionalização, atuando em diversos pontos do país. Um destes concertos acabou por ser analisado por um crítico no emblemático periódico “The New York Times” e os convites por parte de produtoras começaram a surgir. A introdução da harmónica no seu perfil artístico foi também marcante nesta revelação de prospeção. Assinando pela Columbia Records, o norte-americano veria o seu primeiro álbum a ser lançado em março de 1962, simplesmente denominado por “Bob Dylan”. O estilo do mesmo não fugiu ao diapasão dos seus concertos e consistiu essencialmente num álbum de folk e blues com algum gospel à mistura. Em paralelo, não hesitou em cooperar com outros artistas, nomeadamente tocando harmónica e nos vocais de suporte. Duas decisões importantes no seu futuro seriam tomadas nesse mesmo ano, sendo elas a alteração do nome para Robert Dylan e a assinatura de um contrato com o agente Albert Grossman. No final de 1962, viajou para Inglaterra e atuou em diversos bares de folk da capital britânica, iniciando nesta etapa a sua carreira internacional. No ano seguinte, lançou o seu segundo álbum, um bem mais personalizado no que toca à criação e edição das mesmas. Todas as composições foram originadas por Dylan e o protesto social começou a dar tons e melodias. Neste álbum (“Freewheelin’”), a música “Blowin’ in the Wind” ganhou contornos mediáticos pela problematização do status quo sócio-político. Diversas circunstâncias, tais como a crise dos mísseis de Cuba, o movimento crescente a favor da igualdade de direitos civis e o desarmamento nuclear, motivaram uma expressão pungente e iminente por parte do músico. Também a peculiar voz nasalada que ostentava motivou uma atenção redobrada por parte dos seus homólogos músicos, que viam na sua genialidade o complemento ideal nesta vaga que originaria a contracultura.

O terceiro álbum, lançado em 1963 e designado “The Times They Are a-Changin’’” dissipou quaisquer dúvidas sobre o pendor ativista da produção do autor, produzindo analogias entre vários episódios sociais e as suas composições. No entanto, em 1964, produziu uma série de canções relativas ao amor e às suas contingências, para além de algum descontentamento perante o seu trabalho transato. Neste sentido, entre 1964 e 1965, Bob inicia uma transição para um folk-pop-rock e retoca a sua aparência, não descartando o uso de instrumentos eletrónicos nos seus trabalhos consecutivos. Esta mudança de atitude gerou alguma controvérsia e até animosidade por parte dos que associavam o norte-americano ao ressurgimento do folk americano clássico. Contudo, composições como “Mr. Tambourine Man”, “It’s All Over Now, Baby Blue” e “It’s Alright Ma (I’m Only Bleeding)” são consideradas como três das mais relevantes músicas do repertório do artista e foram todas elas criadas neste período. Em 1965, outro dos principais singles da carreira de Dylan foi produzido, sendo este “Like a Rolling Stone”, nomeada uma das 500 melhores de sempre para a conotada revista Rolling Stone, consolidado pelo álbum “Highway 61 Revisited”. Secundado pela The Band, realizou o álbum “Blonde on Blonde” (1966), onde fundiu a vertente hipster de Dylan e o tradicionalismo proveniente de Nashville e da supracitada banda. Nesse mesmo ano, viaja para a Austrália e expande-se na Europa, fazendo a reconciliação com a sua massa de fãs e retomando, nas primeiras partes dos seus concertos, o uso da harmónica e da guitarra acústica. Contudo, a sua vida e obra são apanhados numa emboscada e quase acabados de forma abrupta.
Self Portrait (1970), de Bob Dylan, capa do
álbum homónimo que despoletou críticas negativas.

Para combater o cansaço acumulado, o artista tomou substâncias ilícitas que lhe viriam a ser danosas. Para além disso, a 29 de junho do ativo ano de 1966, Bob Dylan tem um aparatoso acidente com a sua moto, partindo várias vértebras no seu pescoço. Na sucessão deste episódio viriam oito anos sabáticos sem quaisquer concertos dados. Todavia, nesse prolongado hiato, permaneceu na produção lírica, criando a mítica “All Along the Watchtower”, celebrizada pelo guitarrista psicadélico Jimi Hendrix; e a lançar música mais consonante com as suas origens. Célebres também se tornaram as frequentes colaborações com Johnny Cash e a sua omissão do festival Woodstock, de 1969. Os anos 70, por sua vez, assistem à ressurgência de Bob Dylan aos palcos e aos êxitos, começando por “Knockin’ on Heaven’s Door”(1973), que se tornaria numa das músicas a ter mais covers de sempre. Para além disso, desenvolveu também a sua componente de desenhista e de pintor, aventurando-se em autorretratos, aguarelas, guaches, lançando seis livros desde 1994 e até expondo nos quatro cantos do mundo. Um ano profícuo em parcerias e em concertos por todo o mundo, destacando-se 1978 pelos 114 existentes entre Ásia, Europa e EUA. O seu legado, mais do que afirmado e assegurado, seria consolidado em mais álbuns, apesar dos altos e baixos que a exigente e divergente tendência musical implica. Os mesmos apresentam-se a seguir:
  • Blood on The Tracks (1975)
  • Desire (1976)
  • Time out of Mind (1997)
  • Love and Theft (2001)
Entre onze Grammy Awards, um Academy Award e pelo reconhecimento no Rock n’ Roll Hall of Fame, há muito mas muito mais que se pode contar sobre Bob Dylan e a orla de influência que construiu desde os anos 70. A sua escrita cruzou a poesia com a música, sendo um dos pioneiros, ao lado de Jim Morrison, na sua fusão e no tratamento de ambas como uma só. Esta proeza lírica valeu-lhe o Prémio Nobel da Literatura em 2016, precisamente devido a um legado na composição musical que se equipara, também, ao de Leonard Cohen. Instrumental e melodicamente, revelou-se o salvador do folk que se ia camuflando graças à emergência do profundo jazz e ao grito de revolta do rock.

A força da palavra que transmitia com a sua vigorosa melodia, para além da temática incisiva e profunda, permitiu que o reerguimento do folk decorresse de forma subtil mas natural. Não obstante o seu caraterístico estilo, não se esqueceu de provar de tudo que havia para provar. Country, gospel, blues, R&B e rock n’ roll. Por esta versatilidade, nomes como Neil Young, Nick Cave, David Bowie, Syd Barrett, Tom Waits, Patti Smith, Joni Mitchell e os quatro Beatles de Liverpool louvaram o seu papel na formalização espontânea da música. Esta como instrumento de sátira, de crítica e de reflexão mas também de sentimento e de comprazimento. Tudo passou pela mente e pelo coração de um referencial musical, o mesmo que às palavras deu verdade e à música uma renovada felicidade.

domingo, 6 de setembro de 2020

“S&M2”: MAIS DO QUE UM CONCERTO, HISTÓRIA...

 

Nas noites de seis e oito de setembro de 2019, o recente inaugurado Chase Center, em São Francisco na Califórnia, recebeu o 20.º aniversário do concerto “S&M” dos Metallica. A banda composta por Lars Ulrich, James Hetfield, Kirk Hammett e Robert Trujillo, decidiu compensar os fãs da melhor forma, tocando dois novos concertos com a Orquestra Sinfónica de São Francisco. O resultado não podia ser mais empolgante, revelando assim uma banda mais madura e novidades comparativamente à setlist de há 20 anos atrás. A banda norte-americana veio reafirmar que na música tudo é possível, e é possível de se o fazer bem.

Na sua estreia mundial, “S&M2” começa com uma contextualização de todos os preparativos do evento, onde é feita uma retrospectiva do que foi o projecto “S&M” em 1999, na altura dirigido pelo compositor Michael Kamen. Os artistas revelam que para este novo concerto todos os arranjos e preparativos foram pensados sempre em sintonia com a banda, podendo assim criar uma obra sincera e, em especial, para a Metallica Family. De realçar também o papel social da banda, que apresenta algumas iniciativas da sua instituição “All Within My Hands (https://www.allwithinmyhands.org/welcome.html), que tem como objectivo principal ajudar pessoas na sua formação académica e profissional, tendo já comparticipado centenas de comunidades e escolas.

Mas vamos à musica! Com Michael Tilson Thomas a liderar a ‘segunda banda’, a abertura do concerto faz-se com a clássica The Ecstacy Of Gold, de Ennio Morricone, que os Metallica utilizam como abertura dos seus concertos (em cassete) desde 1984. Esta foi protagonizada pela famosa cena do filme “O Bom, o Mau e o Vilão” (Sergio Leone, 1966) e teve uma performance épica, num crescendo que faz arrepiar os mais insensíveis. Seguiu-se The Call Of Ktulu, do álbum Ride The Lightning (1984), famosa já pela sua interpretação com orquestra em 1999, não desapontando quem já tinha saudades desta versão, e afirmando que o resto do espetáculo só poderia correr bem.

E assim foi, sem espaço para respirar, For Whom The Bell Tolls, do mesmo álbum de 1984, chega para pôr o público a cantar, pois a sua energia vai mais além do silêncio exigido em frente ao grande ecrã. The Day That Never Comes, do álbum Death Magnetic (2008), é a primeira nova experiência em comparação a “S&M” e ganha uma nova força nos seus riffs, pois a orquestra eleva a intensidade de uma música que, segundo Lars, é inspirada numa relação pai-filho.

Após ter sido inevitável tocar guitarra invisível, as luzes do palco ainda se estavam a apagar e já a banda avançava para The Memory Remains (Reload, 1997), outra repetente de há 20 anos, que não trouxe nada de propriamente novo, mas que serviu para pôr muita gente na sala de cinema a cantar e a levantar os braços.

Seguiram-se duas novidades do último álbum, Hardwired… to Self-Destruct (2016), Confusion e Moth Into Flame, que vieram reafirmar que os Metallica ainda sabem ‘fazer heavy-metal’, sendo que por momentos nos esquecemos do background clássico que acompanha a banda.

Segue-se The Outlaw Torn (Load, 1996), uma velha conhecida de “S&M”, que faz de James Hetfield um narrador capaz de preencher uma música de nove minutos com drama e claro, com a ajuda de uns arranjos, fazem desta uma versão mais interessante comparativamente à original de estúdio. No Leaf Clover e Halo On Fire vieram fechar a primeira parte do concerto, sendo que a última, podendo haver uma troca na setlist, seria a preterida.

James Hetfield

O segundo ato começa com a orquestra norte-americana e Michael Tilson Thomas a conduzir a peça Scythian Suite, Op.20, Second Movement, de Sergei Sergeyevich Prokofiev, compositor russo do século XX. De seguida, algo totalmente novo. O compositor introduziu a próxima peça, Iron Foundry, como “o ponto onde a música clássica e o heavy metal se encontram“. Numa composição que tenta desmistificar as máquinas e a tecnologia, a banda aventura-se em ritmos arrojados, onde a distorção da guitarra de Kirk Hammett é o elemento mais estranho e inovador desta excelente colaboração avant-garde.

O espetáculo continua com uma arrebatadora versão de The Unforgiven III, de Death Magnetic, onde James Hetfield dá voz à dramática melodia da Orquestra de São Francisco – uma actuação soberba, capaz de arrancar aplausos na sala de cinema. Segue-se All Within My Hands, a música que dá nome à instituição acima referida, e a única música do polémico álbum de 2003, St. Anger, num registo acústico e íntimo, que ganha uma beleza adicional graças à secção de cordas por parte da orquestra.

Depois fiquei de boca aberta com o que aconteceu, pois isto sim, é uma homenagem. Scott Pingel, o baixista principal da Orquestra Sinfónica de São Francisco, trouxe à Terra Cliff Burton, antigo mestre da viola baixo dos Metallica e falecido em 1986, com a música (Anesthesia) Pulling Teeth, do primeiro álbum da banda, Kill ‘em All (1983). Um solo arrebatador com sons hipnóticos vindos do baixo de Pingel que trouxeram muitas saudades de Cliff, tendo Lars completado a versão original da música entrando a meio para fazer a parte que lhe competia, tal e qual como há 36 anos atrás.

Entramos assim nos clássicos, todos eles já conhecidos do concerto de há 20 anos. Wherever I May Roam e One, pertencentes ao Black Album (1991) e ao …And Justice for All (1988) respetivamente, reavivaram as memórias dos anos de ouro da banda, que mais uma vez beneficiam de toda uma orquestra que torna os temas mais intensos, acompanhados por efeitos visuais já familiares para quem já viu os Metallica ao vivo.

Master Of Puppets, do álbum de 1986 com o mesmo nome, valeu um efeito de ‘micro-loucura’ na sala de cinema, sendo que esta pequena ópera fez questão de ser uma das melhores performances de sempre no que toca à parceria ‘heavy-metal – música clássica’.

O final do concerto dá-se com as obrigatórias Nothing Else Matters e Enter Sandman, ambas do Black Album. Estas não deixaram ninguém indiferente, dando mesmo a sensação de termos sido transportados para o Chase Center. Os arranjos orquestrais para a Nothing Else Matters conseguem catapultar a música para algo intenso e bom de se ouvir, fazendo-nos esquecer as mil e uma vezes que ouvimos este tema na rádio, que nos leva a pensar “Fogo, já estou farto desta música. Mas é uma excelente canção”. Enter Sandman fecha um concerto incrível à la Metallica, a mesma que encerrou o concerto deste ano no Estádio do Restelo, no feriado de um de Maio.

“S&M2” foi capaz de reaproximar a banda de novo ao seu lado mais experimental, convencendo os fãs de que projectos novos serão sempre bem-vindos. Vi um conjunto de músicos que estiveram sempre conectados na mesma corrente, independentemente do seu instrumento ou função. Vi cumplicidade e alegria por parte dos Metallica, que sempre se demonstraram abertos a novas formas de expandir a sua arte. Vi um projecto com cabeça, tronco e membros.

Tudo isto foi possível também graças ao realizador Wayne Isham e à sua equipa de produção, que soube através da imagem dar relevância aos personagens principais (músicos), e ao seu imprescindível público, que veio de todo o mundo (sim, a bandeira portuguesa estava lá e mereceu um plano de destaque, que arrancou automaticamente muitas palmas na sala de cinema) para apoiar a banda, uma família. “Together Again”, assim foi e ainda bem que ficou gravado, pois merecemos ouvir isto tudo de novo.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Morreu o cantor belga Art Sullivan

Art Sullivan vendeu mais de dez milhões de discos nos anos 70 do século passado e foi um fenómeno de popularidade em Portugal.
O cantor morreu na noite do dia 26 de dezembro, de cancro do pâncreas, aos 69 anos. O músico belga teve vários sucessos nos anos 70 do século passado e vendeu mais de 10 milhões de discos. Se nem sempre foi reconhecido no seu país natal, houve outros que o adoptaram, como Portugal, a Alemanha ou a Polónia. Marc van Lidth de Jeude nasceu a 22 de Novembro de 1950, filhos de pais aristocratas — a mãe era prima da rainha Matilde. Descoberto pelo produtor belga Jacques Verdonck, editou a sua primeira canção em 1972, "Ensemble". Nos seis anos seguintes teve sucessos como "Petite fille aux yeux bleus", "Adieu sois heureuse", "Une larme d'amour" ou "Petite Demoiselle". Em 1978 pôs um ponto final na sua carreira, que só viria a retomar já neste século, mas sem editar música nova. Nos anos 1980 dedicou-se à produção audiovisual. Em 2010, numa entrevista à Lusa, quando lançou um álbum comemorativo de 35 anos de carreira, disse que deixou de cantar em 1978, por considerar “que não havia lugar” para a música que fazia. Sobre as suas canções, disse esperar que os mais novos as descobrissem e os mais velhos as recordassem. “Não tenho grandes pretensões culturais, faço música ligeira, canto uma canção simples que em três minutos faz sorrir e sonhar, e isso basta-me.
” Em 2013 explicou numa entrevista que voltou porque lhe pediram para editar as suas canções em CD. “Eu disse que sim, mas achava que ia vender 500 exemplares. Mas foi disco de ouro, de platina... Só em França vendeu 200.000 exemplares. Desde essa altura, voltei a fazer espectáculos e o meu público tem a possibilidade de regressar ao passado, de se projectar na sua adolescência.” Na mesma entrevista falou da sua relação com o público português e com o país: “Quando morrer, quero que as minhas cinzas sejam deitadas ao mar, em Cascais. Adoro Portugal, venho cá várias vezes por ano. Não é muito politicamente correcto, mas costumo dizer que a Bélgica é o meu amor e Portugal a minha amante.” Esteve em Portugal este Verão, num concerto na Expoeste, nas Caldas da Rainha. De acordo com a agência de notícias Belga, Art Sullivan contava festejar em 2020 os 45 anos de carreira, com dez “mega espetáculos”, em países como Argentina, Alemanha, Holanda e Polónia.