Esta é uma das canções mais emblemáticas dos anos 60 e representativas de todo o espírito “libertino” e de mudança que versou durante toda década de 60, a mais revolucionária do século 20. E como não poderia deixar de ser, sendo ela uma “filha” do seu tempo, pródigo em convulsões e controvérsias que por norma acompanham a mudança. Esta foi uma canção polémica, das mais polémicas de que há memória (foi banida pelo Vaticano, e das rádios em países como Espanha, Portugal, Suécia, Brasil, Reino Unido, ou Itália. Nos EUA apenas passava em algumas rádios, e mesmo em França, apenas era admitida que passasse na rádio depois das 11h da noite).
Originalmente, a canção foi composta em 1967 por Serge Gainsbourg, em resposta a um pedido da sua namorada de então, a actriz Brigitte Bardot que lhe pedira para escrever a mais bonita canção de amor! Nessa mesma noite de inverno, ele escreveu Je t’aime moi non plus e Bonnie & Clyde (gravaram as duas músicas em dueto, mas apenas lançaram a segunda, porque os empresários de Bardot temeram que o arrojo erótico da música pudesse vir a prejudicar a carreira da actriz, já de si bastante polémica).
O cantor, compositor, poeta, actor e realizador francês Serge Gainsbourg (1928-1991) fica para a história como um dos mais influentes compositores mundiais de música popular nos mais diferentes géneros, do rock ao pop, passando pelo funk, reggae ou jazz, entre outros (ao longo da sua carreira escreveu para diferentes interpretes famosas, Françoise Hardy, France Gall, Catherine Denueve, Isabelle Adjani, Vanessa Paradis, etc). Conhecido por gostar de chocar e gerar polémica, era também um boémio inveterado, “mulherengo” e fumador compulsivo. Tornou-se famoso na 1ª metade da década de 60 com a irrupção das chamadas Ye Ye Girls, passando a compor e a agenciar algumas das mais importantes cantoras do género.
Em 1968 apaixona-se pela actriz inglesa Jane Birkin nos bastidores do filme Slogan, no qual os dois contracenavam. Birkin (que se tornara conhecida por aparecer brevemente desnuda numa cena do mítico filme de Antoninni, Blow-UP/ A história de um Fotógrafo, estriado em 1966) apenas aceitou fazer um dueto de Je t’aime moi non plus com o seu novo amado Serge Gainsbourg, segundo reza a história, por sentir ciúmes da versão que ele gravara com Bardot (que ela até achava ter ficado uma música bastante sexy) e também porque ela não queria que ele acabasse por gravar a música com outra mulher.
A música foi catalogada como Pop adulto contemporâneo, e o single foi lançado em Fevereiro de 1969 (na capa do disco podia-se ler a inscrição: proibido a menores de 21 anos). O single tornou-se um sucesso por toda Europa e chegou ao 1º lugar em diversos países, entre eles o Reino Unido, antes de ser banida pela BBC e as demais rádios. A principal razão para tal facto prendia-se com o final da música, em que a cantora simula o som de um orgasmo (mais versos como: “tu és a onda e eu a ilha nua”, entre outros insinuações sexuais que se podem ouvir ao longo da letra da canção, não foram certamente estranhos a essa decisão).
Em defesa da sua canção Serge Gainsbourg sempre afirmou que esta era uma canção de amor, e não uma canção sexual (que profetizava o tabu em redor do sexo sem amor, como erradamente muitos dos seus detratores a difamavam. Ele chegou mesmo a afirmar que quando muito, esta era uma canção anti F*)!
A crítica considera o impacto desta canção na cultura Pop, na forma como ajudou a derrubar tabus e abrir as mentalidades, paralela ao efeito que teve o filme Emanuelle em 1974 (o New York Times, chamou-lhe um “linguado” poético).
Nesse mesmo ano de 69 a canção foi incluída no álbum Jane Birkin/Serge Gainsbourg (que continha outros duetos e canções a solo dos dois cantores), os dois mantiveram uma relação de 13 anos, da qual nasceu uma filha em 1971 (a actriz Charllotte Gainsbourg, premiada pelo seu desempenho no filme de Lars Von Trier , Anticristo-2009). Ao longo dos anos a música teve inúmeros covers por parte dos mais diferentes artistas em todo o mundo (de onde se destaca um feito em 1978 pela diva do Disco, Donna Summer), contudo o original manteve o seu glamour intocável, permanecendo até hoje como uma das mais bonitas e significativas canções de entre todas aquelas que um dia figuraram da lista das canções banidas internacionalmente.
Curiosidades: durante anos circularam rumores de que a versão da canção com Brigitte Bardot, incluía sons reais de sexo entre ela e Serge Gainsbourg! Em 1986 essa versão foi finalmente lançada em disco, contrariando aparentemente todos esses boatos e rumores de outrora. Mas não sem que no antes, a actriz viesse dizer que um dos seus grandes arrependimentos, era não ter lançado a música em 1967…
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