segunda-feira, 28 de setembro de 2015

TIM MAIA

Se fosse vivo, Tim Maia celebraria hoje 73 anos. No entanto, entre quem o conheceu, poucos apostariam que chegaria a esta idade, devido aos recorrentes problemas com a obesidade, diabetes e consumo de drogas. Viveu 55 anos, mas deixou bem vincada a sua marca na música brasileira.
O carioca nascido na Tijuca, tinha uma voz rouca, grave, carregada e conquistou o exigente público brasileiro interpretando canções de amor. 
Tim Maia teve a sua época de glória nos anos 70 e 80 do século passado. Músicas como “Primavera (Vai Chover)”, “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)” , “Gostava Tanto de Você”, “Sossego” tornaram-no num ícone da música brasileira, que várias cantores jovens seguiriam.
Tim tinha sido o introdutor do soul norte-americano, no Brasil, aproveitando a curta experiência que passou na América do Norte, onde ficou maravilhado com a música de Ray Charles, Otis Redding, James Brown. A junção do soul com a música tradicional brasileira criou um estilo musical inovador, à época, o que contribuiu para o sucesso do cantor nascido no Rio de Janeiro. Tim haveria de passar igualmente por uma fase racionalista, onde imperava o funk, mas acabou por se desencantar com a experiência. Entretanto, novos êxitos foram abrilhantando a sua carreira: “O Descobridor dos Sete Mares”, “Do Leme ao Pontal”, “Me Dê Motivo”.  O “motivo” de hoje é recordar Tim Maia. Na década de 1990, diversos problemas assolaram a vida do cantor: problemas com as Organizações Globo e a saúde precária, devido ao uso constante de drogas ilícitas e ao agravamento do seu grau de obesidade. Sem condições para realizar um espectáculo no Teatro Municipal de Niterói, saiu em ambulância, e após duas paragens cardio-respiratórias, faleceu a 15 de Março de 1998. É amplo o seu legado à história da música brasileira, e a sua obra influenciou diversos artistas, entre eles, o sobrinho Ed Motta e o filho Léo Maia (também cantores). A revista Rolling Stone Brasil classificou Tim Maia como o maior cantor brasileiro de todos os tempos.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

NIRVANA... 24 anos de Nevermind e mito para o grunge

Há 24 anos atrás um grito de revolta muda a face da música tal como era conhecida. O niilismo depressivo do anti-herói despojado de artifícios assinalou a ruptura com a era do hair metal, do glam rock, da maquilhagem e lantejoulas, dos ocos excessos. Como diria Mickey Rourke em The Wrestler, referindo-se aos seus ídolos dos anos 80: “os Nirvana chegaram e estragaram isto tudo”.


Estávamos em 1987, na remota cidade de Aberdeen, Washington, quando Cobain conhece Novoselic enquanto ambos assistiam aos ensaios dos Melvins. A demo Fecal Matter, de Cobain, serviu de base para os ensaios do novo projecto com Novoselic mas, com uma sucessão de bateristas até encontrarem Chad Channing, apenas iniciaram as primeiras gravações no ano seguinte. 

Love Buzz, o primeiro single da banda é editado pela editora independente de Seattle Sub-Pop em finais de 1988 e logo os Nirvana iniciaram a gravação do seu primeiro álbum de estúdio. O mítico Bleach surge à luz do dia em 1989 e é um álbum duro, cru, genuíno, a erupção de uma raiva mal contida contra o “establishment”. Nesta época, as principais influências dos Nirvana oscilavam entre o punk dos anos 80, o rock mais duro de bandas como os Mudhoney e Melvins e mesmo o hard rock da década de 60-70, dos Black Sabbath aos Led Zeppelin, banda pela qual Cobain não esconde a sua admiração. A gravação de Bleach custou a módica quantia de 600 dólares e logo após o seu lançamento os Nirvana embarcaram em digressão pelos EUA. 

No início de 1990 os Nirvana iniciaram uma colaboração com o produtor Butch Vig para a gravação de um novo álbum e embarcam novamente em digressão, desta vez com os Sonic Youth. A atribulada saída de Chad deu lugar à entrada de Dave Grohl e o colectivo encontrou, finalmente, alguma estabilidade. As gravações com Butch Vig suscitaram o interesse das grandes editoras e os Nirvana assinam pela DGC Records. 

E eis que surge Nevermind, em 1991, o marco histórico na carreira dos Nirvana que iria revolucionar o panorama musical dos anos 90. Nevermind é um álbum brilhante, com uma grande coerência interna e temas que são um verdadeiro murro no estômago no ouvinte. Smells Like Teen Spirit é, sem sombra de dúvidas, o tema mais emblemático de Nevermind. 

Quem não se recorda da primeira vez que ouviu esta canção? A perplexidade e a angústia deste hino que espelhava tão bem a incerteza e apatia da Geração X. Smells Like Teen Spirit teve desde logo um intenso airplay na MTV e Cobain é elevado ao estatuto do herói de uma geração, tudo aquilo que no fundo abominava. O intenso mediatismo acerca da sua vida pessoal com Courtney Love e da sua dependência de heroína começa a criar uma realidade claustrofóbica para Cobain.

Em finais de 1992 é lançada a colectânea Incesticide, em parte devido à exaustão da banda e aos conflitos que começaram a surgir, mas a indústria musical quer mais. Em 1993 é lançado o último álbum de estúdio dos Nirvana, In Utero. No ano seguinte realizam a sua última tour, passando por Portugal. A grave dependência de Cobain acentua-se e vai tendo algumas overdoses. Os Nirvana antecipam o final da tour de 1994 em Roma e Cobain é pressionado para entrar em reabilitação. Foge da clínica e parte para Seattle, onde é encontrado morto, uma semana depois,

A título póstumo, os Nirvana lançaram ainda no ano de 1994 o MTV Unplugged in New York, em 1996 o From the Muddy Banks of the Wishkah, com gravações de diversos concertos pelos EUA e, em 2009 o Live at Reading, provavelmente um dos melhores concertos do grupo.

O choque causado pelo desaparecimento precoce de Cobain causou a consternação mundial. O herói que não o queria ser não estava preparado para ser a figura central do circo mediático e optou por desaparecer do mundo que o devorou aos poucos. Para a posterioridade fica a imagem da fragilidade de Cobain, o mito, o legado e uma nova era, o grunge.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Discografia dos ABBA

The Visitors (Polar, 1981) -
The Visitors (Polar, 1981)
Será irónico dizer que a 4 de Abril de 1981 o grupo Bucks Fizz vencia o Festival da Eurovisão, numa roupagem análoga com que os ABBA ganharam em '74, no ano em que estes saíam de cena? Ainda que os britânicos tenham ficado por aí, no mínimo, dá que pensar. Desde o advir do epiléptico período oitentista e toda a panóplia que introduziu a sua acção revolucionária no modo como se faz e se distribui música ( The Visitors é detentor do título de primeiro álbum editado em compact disc) que os ventos de mudança, soprados em Super Trouper , já tinham ancorado no cerne do grupo sueco. Pois é, considere-se este oitavo volume como a maior evasão ao colorido universo ABBA!
Anderson e Lyngstad preferiram seguir os passos do seu (ex-) casal amigo e um mês antes de entrar em estúdio rompem o nó formal que os aliava. Ora, inevitavelmente que o tópico divórcio viria a retomar o seu lugar cativo naquele que, premeditadamente, seria o derradeiro álbum dos ABBA. Mais uma vez, a putrefacção relacional é aguçada ao extremo (provas: ambiente pesado em estúdio e saturação consensual de colaboração profissional). Desta feita, nada mais do que partes bifurcadas e qualitativamente distintas no dissecar do LP em causa: a perda da índole ambiciosa nas letras em contraste com a maturidade colossal das produções e composições musicais.  
Quanto à última fracção, o papel do sintetizador e das novas produções digitais ganharam proporções acima da média: se por um lado " Head Over Heels " e " Under Attack " são martirizados pela excelência desse instrumento coqueluche dos anos 80, " When All Is Said and Done " e " The Day Before You Came " impõem as suas sisudas drum machines com o intuito involuntário de fazer inveja a uns Ultravox e uns Human League. Já no flanco da primeira parte, existe a inegável natureza política (estreia absoluta do colectivo, diga-se de passagem) das letras de " Soldiers " e da fantástica abertura de " The Visitors ".  
Uma outra direcção na análise chega quando algumas faixas trazem a retrospectiva do apogeu ABBA como nos aviva a memória, e tão bem, de " Slipping Through My Fingers " (canção merecedora de uma atenção circunspecta, dado o conturbado lamento de uma mãe que vê a sua filha querida a crescer à medida que o tempo não perdoa em passar) e de " Two for the Price of One " (formidável espírito pop nostálgico a lembrar um "Does Your Mother Know" ou um "What about Livingstone?", com Ulvaeus a fazer-se ao microfone pela última vez). Entretanto, " I Let the Music Speak " e " One of Us " levam para casa a consagração de faixas mais repelentes.  
No ano em que o mundo via nascer um punhado de artistas da nova geração (Britney Spears, Brandon Flowers, Justin Timberlake, Beyoncé, Kele Okereke), o mesmo acenava adeus aos deuses efectivos da pop mundial. Secundado por um trabalho de capa eminente (crédito do já habitual Rune Söderqvist), o clima individualista de The Visitors é mais que notório. Para os fãs injustiçados em relação a Frida, aqui fica um regalo da sua liderança e, para a réstia menos esquisita, eis um banquete da mais incrível pop alguma vez obrada. Ainda que se conceda todo o mérito de um novo fulgor maduro, não é aconselhável afirmar tratar-se de uma obra-prima em termos comparativos ao reportório da banda, mas, então qual a insígnia apropriada ao álbum da melhor despedida da história da música popular?

Alinhamento da edição CD em 1982 (todas as faixas creditadas como Andersson and Ulvaeus):
01 - The Visitors - 5'17"
02 - Head Over Heels - 3'48"
03 - When All Is Said and Done - 3'17"
04 - Soldiers - 4'41"
05 - I Let the Music Speak - 5'23"
06 - One of Us - 3'57"
07 - Two for the Price of One - 3'38"
08 - Slipping Through My Fingers - 3'53"
09 - Like an Angel Passing Through My Room - 3'40"
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10 - Should I Laugh or Cry? - 4'29" *
11 - The Day Before You Came  - 5'53" (single extraído da compilação The Singles - The First Ten Years , de 1982) *
12 - Cassandra - 4'56" (lado B do single "The Day Before You Came", de 1982) **
13 - Under Attack - 3'48" (single extraído da compilação The Singles - The First Ten Years , de 1982)*
14 - You Owe Me One - 3'26" (lado B do single "Under Attack", de 1982) ***
* - faixas incluídas na reedição de 1997 e na de 2001
** - faixa incluída na reedição de 2001
*** - faixa incluída na reedição de 1997

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Super Trouper (Polar, 1980) -
Super Trouper (Polar, 1980)
Não são só os tempos que correrem que são de marasmo: enquanto Jimmy Carter arrumava as botas, dois dos nomes mais sonantes e ilustres da música desparecem, deixando a mesma obviamente mais pobre. Foram eles John Lennon e Ian Curtis. Piorando ou não as coisas, no panorama discográfico, 1980 testemunha uma emergência do predomínio digital e sintetizado como reacção repulsiva à disco . Ora, parvos é que os ABBA não foram: rejeitam a fórmula de Voulez-Vous e adoptam uma faceta actual e madura no seu penúltimo álbum, não só na sua música (sintetizadores, vocoders , etc.), mas também na sua estética e maneira de estar. Com o intuito de continuar a revitalizar o património popular comum, o colectivo reforça, pela última vez, o seu catálogo de êxitos com Super Trouper .
Corajosamente variegado, este sétimo volume documenta, em jeito implícito, as vicissitudes e venturas no seio da banda enquanto detentora da ribalta. A exteriorização inicia-se logo em " Super Trouper " que, conquanto com uma melodia alegre que nos coage a trautear "su-pa-pah, trou-pa-pah", é tingido por uma tristeza lírica, confinada pelo atributo vocal de Frida e pela excelência da ironia: "Facing twenty thousand of your friends/ How can anyone be so lonely?". Porém, após esta atmosfera optimista e romântica, somos encharcados pelo balde de água fria de " The Winner Takes It All ", incrustado pela podridão emocional patente entre Björn e Agnetha.
A outra tónica presente amiúde é a balada. Ao longo destes anos, duas ou três compreendiam o cerne dos registos da horda sueca; em Super Trouper  ultrapassa as quatro. Já agora, podemos enumerá-las: " Me and I " (passível de uma psicanálise da natureza dupla inerente a todos nós, humanos), " Our Last Summer " (recordação saudável do "tempo onde não havia arrependimentos", compassado pelo estonteante solo de Lasse Wallender), " Happy New Year " (declaração convicta de que tudo se há-de arranjar com mais um ano pela frente) ou ainda " The Way Old Friends Do " (visão positiva de que obstáculos da vida são contornáveis perante a solidez de uma amizade). Motivo? Talvez o clima de corta à faca, a nível conjugal, lá teve a sua influência.
"I wasn't jealous before we met/ Now every woman I see is a potential threat" é o verso inicial, antecedido pelo riff electrónico de Benny, de " Lay All Your Love on Me ", que promete ser uma súplica (de alguém bastante, bastante ciente!) para que um amor doentio se desvaneça. No fim, o fogo-de-artifício mora, sim, no viciante " On and On and On ". É verdade! Já cá faltava o lado onomatopeico ABBA, mas o facto é que eles nos quiseram ensinar uma valiosa lição no que toca a jogos de sedução baratos, numa letra e composição estupendas (pondo de parte o seu refrão funesto e limitado, claro está!). Jamais querendo cingir o resto do LP como paisagem, mas estas são as faixas que o resplandecem.
Faça um favor a si mesmo e derreta-se com mais uns, aproximadamente, três quartos de hora de pura pop. A boa forma persiste ridiculamente paliativa e com o modo confessional accionado. Termo coloquial para holofotes de palco (reflexo da recente relação disfuncional dos casais para com a vida de super estrela, como patenteado na capa),  Super Trouper, para além de se ter tornado numa marca registada da banda ,  trouxe o último n.º 1 em mercados outrora imediatamente garantidos. Talvez um presságio. Mas uma coisa era ponto assente: a transição de bestiais para bestas já ninguém lhes questionava.

Alinhamento original (Todos temas creditados como Andersson, Ulvaeus):
Lado A
1 - Super Trouper - 4'12"
2 - The Winner Takes It All - 4'55"
3 - On and On and On - 3'40"
4 - Andante, Andante - 4'38"
5 - Me and I - 4'54"
Lado B
1 - Happy New Year - 4'24"
2 - Our Last Summer - 4'20"
3 - The Piper  - 3'27"
4 - Lay All Your Love on Me  - 4'34"
5 - The Way Old Friends Do - 2'55"
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11 - Elaine (lado B do single "The Winner Takes It All", em 1988, e integrante na reedição de Super Trouper, em 1997)
12 - Put on Your White Sombrero (faixa bónus da reedição de Super Trouper, em 1997)

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Voulez-Vous (Polar, 1979) -
Voulez-Vous (Polar, 1979)
Reza a lenda que, após de terem escalado ao estatuto de semi-deuses da pop, os ABBA ultrapassam a Volvo como maior exportação sueca entre 1978 e o ano posterior - esta é a parte em que se deve conter uma certa perplexidade. Foi necessário um ano (facto inusual, dada a edição anual sucessiva de todos os seus álbuns) para que Voulez-Vous estivesse concluído. Pelo meio, a igualdade no acesso a oportunidades dava outro passo não só com a tomada de posse de Margaret Tatcher, na Inglaterra, e de Maria de Lurdes Pintassilgo, em Portugal, mas também com os cerca de 100.000 participantes na primeira grande marcha pelos direitos da comunidade LGBT na capital dos Estados Unidos.  
Disco , disco , disco ! Esta é a epígrafe frutífera. Num ano em que o mesmo oscilava paradoxalmente entre a continuidade do seu auge (com a manha dos produtores vincada na venda massificada dos seus sucessos) e um movimento antagónico, levado a cabo por fanáticos do rock, que pôs termo ao mesmo, a banda de Estocolmo não se retraiu e pegou naquilo que tinha cunhado em Arrival . O pontapé de saída de " As Good as New " só engana o ouvinte quanto ao género em causa até aos seus 13 segundos. Depois disso, põe uma Donna Summer ou uns Village People a um canto.  
Pas des questions que a faixa-título " Voulez-Vous " é o fio condutor do mote iniciado pelo tema de abertura. Depois, há " Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight) ": desabafo curioso de uma mulher amorosa e carnalmente desesperada, tentando perspectivar-se nos finais felizes das estrelas de cinema que vê na TV. " Summer Night City " é arrepiante no seu sintetizador introdutório; " Angeleyes ", confinado pela sua harmonia intrinsecamente ABBA, acrescenta exíguos arranjos clássicos a uma balada que conta a história de um lobo disfarçado de cordeiro. Tudo isto é belo. Tudo isto é disco .  
A história podia repetir-se com os pouco convidativos " If It Wasn't for the Nights " ou " Lovers Live a Little Longer ", mas travos a um funk negro justifica o facto de uma similitude mais que palpável a Boney M. e Kool & the Gang. Fáceis, redundantes e pronto! Nem mesmo o fastio constante de " The King Has Lost His Crown " (cujo esquema de rimas respigado fecha o cerco ao campo do suportável) consegue mudar a imagem difamada.  
Apesar de não ser um factor dissuasivo, existem algumas evasões ao estilo predominante aqui e acolá, principalmente na hora de acender os isqueiros, de modo a criar o ambiente propício ao delicioso tema de " Chiquitita ". A obra-prima, munida de um instrumental tradicional do grupo, não é mais do que um esplêndido ombro amigo a declarar sem hesitações: "Estou aqui, podes contar comigo.". Já " Does Your Mother Know " pode arranhar um pseudo-rock, mas escutar um Björn, no alto da sua experiência, a proferir palavras como "I can see what you want/ but you seem pretty young to be searchin' for that kind of fun" é algo acutilante. Definitivamente, uma canção imprópria para menores. Por outro lado, o tiro saiu pela culatra em " I Have a Dream ", que somente pontua nos seus coros aprazíveis.  
Bem-vindos ao mundo bifurcado de Voulez-Vous : prazer sim, prazer não. Se por um lado acumula a componente formulaica de êxitos que tanto tem consolidado a banda, por outro revela algumas composições emaciadas e algo estéreis que muitos nem sequer imaginavam possível, vindo de quem vem. Por isso, a pergunta feita em bom francês deixa um ou dois fãs de nariz torcido quando equiparado com o quase imaculado The Album . Religiosamente explorado, assume-se como um convite para reunir o grupo de amigos e organizar uma valente festa para recordar com saudade o disco sound . Calce os tais tacões altos, vista aquelas calças à boca-de-sino e faça o hustle!

Alinhamento original (todas as letras creditadas como Andersson, Ulvaeus):
Lado A
1 - As Good as New - 3'24"
2 - Voulez-Vous - 5'08"
3 - I Have a Dream - 4'43"
4 - Angeleyes - 4'22"
5 - The King Has Lost His Crown - 3'34"
Lado B
1 - Does Your Mother Know - 3'15"
2 - If It Wasn't for the Nights - 5'11"
3 - Chiquitita - 5'27"
4 - Lovers Live a Little Longer   - 3'31"
5 - Kisses of Fire - 3'20"
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11 - Summer Night City  - 3'20" ( single extraído de nenhum álbum e integrante na reedição de Voulez-Vous , em 1997)
12 - Lovelight  - 3'35" (faixa editada originalmente na reedição de Voulez-Vous , em 1997)
13 - Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight) - 4'52" ( single  extraído de nenhum álbum, mas integrante no Greatest Hits Vol. 2 , de 1979, e reeditado em Voulez-Vous, em 1997)

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The Album (Polar, 1977) -
The Album (Polar, 1977)
Fosse na Suécia natal, na histérica Austrália ou na grata Grã-Bretanha, já ninguém contestava o círculo de fenómeno que acercava os autores de "Mamma Mia". Este era o momento em que as actuações em playback por palcos televisivos cediam lugar aos concertos magistrais por esse Mundo fora. No ano em que Fältskog deu à luz a Christian Ulvaeus, Saturday Night Fever atulhava as bilheteiras das salas de cinema americanas e, combinado com o falsetto dos Bee Gees, provocava um delírio incontornável. Rumours , dos consagrados Fleetwood Mac, era originalmente editado e começava a trilogia de Berlim de Bowie.
Coincidente com o lançamento do filme ABBA: The Movie , o quinto tomo da banda sueca toma proporções hercúleas não só quando confrontado com o antecessor Arrival , mas também pelas suas duas vertentes ambiciosas: o calcar tímido no território do rock progressivo e o interesse antigo num "mini-musical". Relativamente à primeira parte, quando se julgava um seguimento disco assente em "Dancing Queen", eis a primeira surpresa quando Björn decide copular um solo da sua guitarra arisca à presença constante do sintetizador no hipnótico " Eagle ", na mesma maneira que o guitarrista acólito - Lasse Wallender - deixa um rasto em " Hole in Your Soul ".
No que respeita à composição audaciosa final do disco (o tal "mini-musical"), esta revela-se tripartida: " Thank You for the Music ", " I Wonder (Departure) " e " I'm a Marionette ". É de louvar o engenho depositado por Andersson e Ulvaeus e o roçar de uma Barbra Streisand pelas duas meninas, nesta fábula da "rapariga do cabelo dourado" ( The Girl with the Golden Hair , no seu título original): a saga de um ser ingénuo e dócil, cujo único talento é cantar, que acaba nas garras dos vilões do show-biz . Apesar de encantador, só a primeira peça seria um habitué nos alinhamentos dos concertos.
Podem dar sintoma de estar à margem, mas " The Name of the Game " e " One Man, One Woman - o lado genuinamente meloso que jamais irá desaparecer do universo ABBA - não são menos atractivos que o efeito novidade do registo. Um expõe nitidamente as diferenças vocais entre Agnetha e Frida e o outro, liricamente, talvez tenha o seu toque biográfico, na medida em que alega um desmame nas relações. A abertura a cappella de " Take a Chance on Me " parece ser a única faixa que rema contra a maré. Dotado de um refrão contagiante, o que germinou de um inocente ritmo "tck-a-ch" transformou-se noutro êxito sem precedentes.
Se alguma vez foi dito que a riqueza residia nos álbuns anteriores, então olvide-se! Este é o culminar de uma riqueza ainda mais polida com título apropriado; É um interregno abrupto naquilo a que o grupo nos tem vindo a habituar - canções tolas e batidas de perder o fôlego. Gravado nas imediações do Marcus Music Studio, em Estocolmo, The Album fulgura maturidade e sensibilidade artística acima da média para apenas ser denominado como a banda-sonora do documentário sobre o quarteto. Concluindo: eis o zénite da obra ABBA.

Alinhamento original :
Lado A
1 - Eagle (Andersson, Ulvaeus) - 5'53"
2 - Take a Chance on Me (Andersson, Ulvaeus) - 4'03"
3 - One Man, One Woman (Andersson, Ulvaeus) - 4'37"
4 - The Name of the Game (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 4'53"
Lado B
1 - Move On (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 4'45"
2 - Hole in Your Soul (Andersson, Ulvaeus) - 3'43"
3 - Thank You for the Music (Andersson, Ulvaeus) - 3'51"
4 - I Wonder (Departure) (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 4'34"
5 - I'm a Marionette (Andersson, Ulvaeus) - 4'05"

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Arrival (Polar, 1976) -
Arrival (Polar, 1976)
Peculiarmente, 1976 foi um ano de desaires: morre o líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-Tung, é identificado, pela primeira vez, o vírus do Ébola e, tanto Bob Marley como o seu produtor, são alvos de uma tentativa fanática de homicídio. Em jeito irónico, só mesmo um rumor disseminado pela imprensa alemã da morte dos ABBA num acidente de avião (com Frida a ter sorte de ter sido a única sobrevivente) podia reflectir maximamente o trono no qual o quarteto estava sentado. Parece que fazer uma paragem estava fora de questão e a Arrival foi confiada a missão de conquistar a terra do Tio Sam. Este é o ponto de viragem na carreira da banda, com direito a um primeiro "B" invertido no logótipo e tudo! 
Chama-se " Dancing Queen " e é culpado pelo glissando mais famigerado da história da música. Piscando o olho à percussão de Dr. John's Gumbo , do artista blues grass Dr. John, e ao êxito "Rock Your Baby" de George McCrae, o clássico derrama litros de disco e uma letra que até foi perfilhada pelo ponto vista mais melodramático da comunidade LGBT. Este é um notável exemplo da faceta profícua de Björn e Benny enquanto exímios alunos da pop americana, preceituada a emergência do género em causa pelos Bee Gees ou Trammps (embora o seu clímax viria um ano ou dois depois). " That' s Me " repete a dose da nova fórmula.  
A fusão incisiva das guitarras rítmicas com o piano melodioso tão característica do grupo é empregue na oposição lírica entre " Knowing Me, Knowing You " (previsão maldita que lida com separação) e " When I Kissed the Teacher " (pequena página de diário de uma paixoneta de liceu). Mas a máquina ABBA mostra-se bastante mais oleada no piano vintage de " Money, Money, Money " (tema marcado pela sua reminiscência ao musical Cabaret devido a sua primeira actuação num programa de TV) ao tentar servir de ode aos caprichosos sonhos de uma mulher sedenta por um magnata ("In my dreams I have a plan/ If I got me a wealthy man"), bem como o tema-título " Arrival ", o segundo e último instrumental ávido de Andersson e Ulvaeus. 
Golpeando outras nuances do LP, abrem-se as frinchas das cordas entristecidas de " Fernando ", que narra a nostalgia de dois veteranos de guerra, e penetra-se no toque mordaz da metáfora de " Tiger " que, para além de surpreender com as cordas vocais desmedidas de Agnetha, deixa o aviso que anda por aí alguém temível. " Dum Dum Diddle " não só aparece com mais uma brincadeira à volta de onomatopeias como encerra um ciclo de meninas amorosamente destroçadas enquanto Benny carrega com força nas teclas do seu sintetizador.  
Em bom rigor, o teor de Arrival é condensado pelo progresso das duas vocalistas e pelo rumo arrojado das composições e letras, ainda que inofensivas, a cada álbum que passa. Mereceu ainda o destaque na nomeação de "Best International Album" na cerimónia inaugural dos BRIT Awards, mas perderam para os Beatles. E depois? O que realmente interessa é o alcance quarto-mundista feito pelos suspeitos do costume, aqueles que há meia década atrás deambulavam pelas lides do folk . Agora, sim, Stig Anderson podia respirar de alívio.

Alinhamento :
Lado A
1 - When I Kissed the Teacher (Andersson, Ulvaeus) - 3'01"
2 - Dancing Queen (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 3'50"
3 - My Love, My Life (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) 3'51"
4 - Dum Dum Diddle (Andersson, Ulvaeus) - 2'53"
5 - Knowing Me, Knowing You (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 4'51"
Lado B
1 - Money, Money, Money (Andersson, Ulvaeus) - 3'06"
2 - That's Me (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 3'15"
3 - Why Did It Have to Be Me? (Andersson, Ulvaeus) - 3'20"
4 - Tiger (Andersson, Ulvaeus) - 2'55"
5 - Arrival (Andersson, Ulvaeus) - 3'00"
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11 - Fernando (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 4'12" ( single integrante do primeiro Greatest Hits da banda, em 1975, e adicionado na reedição de Arrival em 1997).

bz.stories/36667
ABBA (Polar, 1975) -
ABBA (Polar, 1975)
No âmago dos fãs, é conhecido como "The Limo Album" (fruto da capa onde o quarteto se acomoda em opulência numa limusine), mas para que tal merecesse a honra de ter um título homónimo, foram precisos dois registos de originais serem editados. Em simultâneo, a pop vivia num corrupio perceptível pela escalada dos 10cc, pelos primeiros sussurros da disco e por um Stevie Wonder recém-premiado de Grammy's. Até as músicas dos The Who eram transformadas em musical! A competição compunha-se alarmante para os ABBA, mesmo consolidados pelo empurrão da Eurovisão e abastecidos por êxitos consecutivos e um presunçosamente intitulado Greatest Hits.  
Sentia-se o espírito imperativo em dominar os outros mercados discográficos, uma vez que a Europa já se tinha ajoelhado a esta espécie de Beatles em casais. Ainda assim, a fasquia mostrava-se elevada com a invejável rapsódia da trupe de Freddie Mercury. Aliás, uma tentativa de arranjo orquestral à la Queen dos suecos está patente em " Intermezzo No. 1 " - uma experimentação instrumental pseudo-clássica delatora do fascínio de Benny e Björn pelo musical.
Contudo, o cerne nutritivo está mesmo naqueles temas que fizeram o grupo desfilar na passadeira vermelha como é o caso de " SOS " (que denuncia uma Agnetha lavada em lágrimas ao som do sintetizador abrasivo de Benny) e de " So Long " (pura prova do discernimento de Stig Anderson na edição como primeiro single , enroscado de um guitarra mais escabrosa, numa história caricata sobre um rufia da pior espécie, abreviada pelo verso de tripla rima "Tracy, Daisy, they may be crazy"). 
"Bohemian Rhapsody" não se desviava do primeiro posto das tabelas até que a interjeição italiana mais conhecida do Mundo o suplantou. " Mamma Mia ", clássico intemporal provido de alguma pilhéria, é inconfundível nas suas teclas iniciais do Mellotron de Andersson seguido pelos acordes de Ulvaeus. A popularidade do single jamais teria sido viável sem a ferramenta do teledisco promocional no qual um fundo branco homogéneo envolve os perfis dos quatro membros, guarnecidos por roupas da mesmíssima cor. Outro ponto de interesse é, finalmente, o piquinho a glam que há muito se vangloriavam (" Hey, Hey Helen " e " Rock Me "). Indubitavelmente, Gary Glitter esteve aqui. 
Mais uma vez, os ABBA quiseram provar de que dos rótulos não reza a história da pop. E assim o confessaram no tributo ao líder de orquestra Billy Vaughn no arranjo de um saxofone - homenagem aos clássicos schalger dos anos 50 - de " I Do, I Do, I Do, I Do, I Do ", faixa que fomentou a lendária frase " Love me or leave me". E o caso cíclico da balada é inevitável no timbre angélico das duas meninas, em especial de Fälkstog, na enumeração genialmente absurda de elogios de alguém apaixonado ("You thrill me, you delight me/ you please me, you excite me/ you're something I'd been pleading for") em " I've Been Waiting for You ".  
Após um álbum eclecticamente pop, nada como uma dose, em parte do mesmo, mas no geral permeável a uma síntese entre o que já se fez de melhor entre dois géneros diferentes, mas não incompatíveis: a pop e o rock. Novamente, a mestria e eficiência da dupla Andersson-Ulvaeus e o selo de Stig Anderson tornaram obsoletos os grupos que não conseguiam produzir um single por LP. Apesar de terem cometido o risco de inaugurar o álbum com "Mamma Mia", não é difícil ouvir um resto repleto das canções mais refinadas da década de 70. Enfim, quer se goste, quer não, já eram favas contadas para Austrália!

Alinhamento original :
Lado A
1 - Mamma Mia - (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 3'32"
2 - Hey, Hey Helen - (Andersson, Ulvaeus) - 3'17"
3 - Tropical Loveland (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 3'16"
4 - SOS - (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 3'23"
5 - Man in the Middle - (Andersson, Ulvaeus) - 3'03"
6 - Bang-a-Boomerang - (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 3'04"
Lado B
1 - I Do, I Do, I Do, I Do, I Do - (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 3'17"
2 - Rock Me - (Andersson, Ulvaeus) - 3'06"
3 - Intermezzo No. 1 - (Andersson, Ulvaeus) - 3'48"
4 - I've Been Waiting for You - (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 3'41"
5 - So Long  - (Andersson, Ulvaeus) - 3'06"

bz.stories/36418
Waterloo (Polar, 1974) -
Waterloo (Polar, 1974)
Por cá, "E Depois do Adeus" e "Grândola, Vila Morena" eram prescritas como as senhas de arranque para o golpe de estado que proporcionou o 34.º ano da nossa actual democracia. Lá fora, Cher exigia os papéis do divórcio a Bono, após 10 anos de matrimónio, e Patti Smith berrava "Hey Joe" (a versão da música popular americana celebrizada por Hendrix) o qual muitos consideram ser o 1.º single do género punk . Este quadro da música em nada intimidava Stig Anderson no calcetar do caminho para o fenómeno dos Fab Four , discriminando o Melodifestivalen e, por seu turno, o Festival da Eurovisão de '74 como atalhos.
Muito aquém de ser catalogado como um LP excelente, ao descaroçar Waterloo vai-se desvendando uma tendência eclética estrondosa. Ele despeja um hard rock (" Watch Out " e King King Song ") que deixa boquiaberto todo o séquito de gente passível de rotular a banda em causa, constatando o olho clínico da dupla de compositores nos colegas New Your Dolls ou Montrose, como também salpica um reggae das Caraíbas (" Sitting in the Palmtree " e " My Mama Said ") que leva o ouvinte a questionar-se se Catch a Fire ou Burnin' não tiveram a sua mea culpa em tão grande atrevimento.
Até ao nível vocal há um contraste: ao passo que o atributo schalger vocal de Agnetha e Frida  regressa em faixas como " Hasta Mañana " , a pujança viril toma de assalto a estampagem dos californianos Beach Boys de " Dance (While the Music Still Goes On) ". Sustentando a sua natureza heteróclita, o álbum despede-se com " Suzy-Hang-Around " que, conquanto com uma letra pouco desmontável, presenteia um riff de guitarra agradável de se ouvir.  
Todavia, sem margem para dúvidas que o frenético " Waterloo ", ainda que dispense apresentações, é a celebração da vida no seu estado mais puro. Torneado por um rock lavado e um jazz algo insolente, relata a rendição de alguém em virtude de um romance perdido, na mesma e esfarrapada maneira que Napoleão fez na batalha de Waterloo, em 1815 (embora haja aqui uma gralha histórica, já que o imperador francês se rendeu na Batalha de Rochefort, quatro semanas depois). Bendito Stig Anderson e a sua artimanha! A fórmula vencedora é mais uma vez visitada na textura pop de " Honey, Honey ", melodia orelhuda ladeada por passos de dança curtos, mas acertados.
Obviamente que a indumentária glam apregoada na capa (e imortalizada no brilharete da noite de 6 de Abril de 1974) não teve outro propósito senão impressionar o júri da Eurovisão, pois nem um laivo do género é assinalado em Waterloo . Inversamente, o argumento de peso do registo exibe-se pelo seu rol dos mais diversos estilos, recheado de canções devidamente pomposas e alegres - características que, ainda assim, não o safam de uma descompostura justa enquanto álbum de longa duração. Valeu-lhes o passaporte directo para fora do anonimato europeu.    

Alinhamento original :
Lado A
1 - Waterloo (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 2'49"
2 - Sitting in the Palmtree (Andersson, Ulvaeus) - 3'38"
3 - King Kong Song (Andersson, Ulvaeus) - 3'14"
4 - Hasta Mañana (Andersson, Ulvaeus) - 3'11"
5 - My Mama Said (Andersson, Ulvaeus) - 3'14"
6 - Dance (While the Music Still Goes On) (Andersson, Ulvaeus) - 3'13"
Lado B
1 - Honey, Honey (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus) - 2'55"
2 - Watch Out (Andersson, Ulvaeus) - 3'47"
3 - What About Livingstone? (Andersson, Ulvaeus) - 2'57"
4 - Gonna Sing You My Love Song (Andersson, Ulvaeus) - 3'39"
5 - Suzy-Hang-Around (Andersson, Ulvaeus) - 3'11"

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Ring Ring (Polar, 1973) -
Ring Ring (Polar, 1973)
Algures no subconsciente dos americanos que viveram a angústia de ter passado os dias a imaginar o regresso do marido, pai ou filho que combatia na Guerra do Vietname, está guardada a simbologia do cessar da mesma em Burst of Joy de '73, do fotógrafo Sal Veder, distinguida pelo prémio Pultizer no ano seguinte. Não menos importante, o mundo da música tecia rasgados elogios a Aladdin Sane do Mr. Ziggy Stardust e a The Dark Side of the Moon dos Pink Floyd. Porém, estas eram influências peregrinas para o quarteto que lidava com uma folk que evocava Simon & Garfunkel e The Carpenters.
Ao menos acérrimos, a sonoridade de Ring Ring não é tão familiar quando se associa o grupo sueco ao estilo disco posterior, mas isso justifica-se porque precisamente ainda não havia uma entidade ABBA e, sim, Björn & Benny, Agnetha & Anni-Frid. Nesse sentido, verifica-se logo a anormal liderança masculina (visto que o resto da discografia há uma predominância vocal feminina) em " People Need Love " e " Love Isn't Easy (But It Sure It's Hard Enough) " - títulos promissores de que é urgente um Mundo norteado pelo amor mas que existem os seus desafios no momento de o obter. " She's My Kind of Girl " não foge novamente à regra e aparece como o tema com o microfone totalmente cedido a Ulaveus e Andersson.  
Ainda assim, o atributo vocal schalger do lado feminino ajustou-se ao historial folk dos dois rapazes nas faixas " Another Train, Another Station " e " Nina, Pretty Ballerina " (descaradamente acusativas de uma Gitte Hænning e Rex Wildo fugidos das baladas elegíacas), que não são mais do que um festejo outonal que nos transporta ou para os parques urbanos suecos ou para as regiões alpinas.
Já a balada bem disposta de " Disillusion ", co-escrita por Agnetha, dá-nos um ponto de vista intransigente de um ser destroçado que deixa bem claro que a compreensão alheia só é válida quando se está na pele do próprio ("They say my wound will heal and only leave a scar/ But then, they never shared our love"). Só mesmo " Ring Ring " (cujo single sofreu reedições umas atrás das outras, dando de si na lojas britânicas apenas em '94) é que começa a dar o gostinho ABBA a que todo o povo se acostumara.
Ring Ring está irrigado pela técnica "wall of sound" (crédito pioneiro de Phil Spector) confinada por Michael B. Tretow, efeito áudio reminiscente das rádios AM e jukeboxes das décadas de 50 e 60 americanas. Ideia por muitos aplaudida, mas por outros criticada (como a insatisfação de Paul McCartney no dedo de Spector na produção de Let It Be , dos Beatles, daí o título da edição remasterada do mesmo - Let It Be... Naked , em 2003). Mas o que verdadeiramente qualifica este produto final é a índole empírica assente na hipótese da aliança vozes-composições funcionar em pleno. E, adivinhem? Não é que foi tiro certeiro! Foi a ideia original do mesmo que despertou no grupo de se apresentar como um projecto sério e realista. Avante!

Alinhamento original :
Lado A
1 - Ring Ring (Andersson, Stig Anderson, Ulvaeus, Neil Sadak, Phil Cody) - 3'06"
2 - Another Train, Another Town (Andersson, Ulvaeus) - 3'13"
3 - Disillusion (Fältskog, Ulvaeus) - 3'07"
4 - People Need Love (Andersson, Ulvaeus) - 2'46"
5 - I Saw It in the Mirror (Andersson, Ulvaeus) - 2'34"
6 - Nina, Pretty Ballerina (Andersson, Ulvaeus) - 2'53"
Lado B
1 - Love Isn't Easy (But It Sure It's Hard Enough) (Andersson, Ulvaeus) - 2'55"
2 - Me and Bobby and Bobby's Brother (Andersson, Ulvaeus) - 2'52"
3 - He Is Your Brother (Andersson, Ulvaeus) - 3'19"
4 - She's My Kind of Girl (Andersson, Ulvaeus) - 2'45"
5 - I Am Just a Girl (Andersson, Ulvaeus) - 3'03"
6 - Rock 'n Roll Band (Andersson, Ulvaeus) - 3'11"

ABBA


Bastou-lhes algo como uma década para merecer o título de segunda banda mais célebre, depois dos Beatles.


Ainda depois de 400 milhões de discos vendidos globalmente, a exportação mais bem sucedida da Suécia continua a usufruir de uma popularidade consistente, lucrando com dois a quatro milhões de discos anualmente. Acrónimo dos dois casais ( A gnetha, B jörn, B enny e A nni-Frid), os ABBA conquistaram o público mundial com os seus refrões orelhudos harmonizados pelas duas vozes femininas. Afiguram-se como o primeiro colectivo pop da Europa continental a alcançar êxito massificado nos países anglófonos como o Reino Unido, E.U.A., Canadá e Austrália - nação que testemunhou o despoletar de um clima eufórico planetário de todos o que nutrissem uma paixão desmesurada pela banda, conhecido como Abbamania . Decididamente, os ABBA são um marco histórico que vai para além do contributo para a música pop.  
Tanto Benny Andersson como Björn Ulvaeus eram membros de pequenos projectos folk suecos, The Hep Stars e Hootenanny Singers, respectivamente, ainda antes de se conhecerem. Porventura, as duas bandas cruzavam-se enquanto andavam pela estrada em digressão e Benny e Björn decidem tentar escrever letras em conjunto e o single "It Isn't Easy" dos Hep Stars foi o primeiro resultado. A partir daqui é-nos apresentado outro elemento-chave dos ABBA: Stig Anderson, o manager . Este, enquanto exclusivo dos Hootenanny Singers e fundador da editora Polar Music , vê potencial na colaboração de ambos os músicos e encoraja-os a compor mais. Isto tudo já no término da década do "Flower Power".
Posterior a isso, Benny conhece pela primeira vez a sua futura esposa, a norueguesa Frida Lyngstad , no Concurso do Festival da Canção da Suécia em 1969. No caso de Agnetha Fältskog foi diferente: desde de tenra idade que cantava profissionalmente e logo aprovada pelos críticos dentro do género schlager (tradução alemã do género easy-listening ) e, em virtude da notoriedade nacional, deu de caras com Frida num programa de TV e Björn num concerto. Entretanto, a dupla masculina já tinha lançado um álbum inteiramente em sueco ( Lycka , de 1970), assim como a ala feminina solidificava, individualmente, as suas carreiras. No ano de 1971, ambos os pares já se encontravam oficialmente casados.
Uma tentativa em combinar o talento dos quatro surgiu quando passavam férias no Chipre, onde cantar nas praias não passava de um divertimento. Depois da colaboração dos back vocals no registo de Andersson e Ulvaeus, Fältskog e Lyngstad emprestam as suas vozes ao primeiro êxito nacional da banda "Hej, Gamble Man" - o primeiro registo creditado pelos quatro, na alturas em que se denominavam de Festfolk. A previsão de Stig Anderson - "Um dia vocês os dois irão escrever um canção que se tornará num sucesso mundial" - serviu de incentivo para que a banda concorresse ao Melodifestivalen (fase de apuramento sueco para o Festival da Eurovisão) em 1972, ainda que tivessem sido rejeitados duas vezes no ano anterior. É, então, a partir daqui que o projecto se forma. Sob a chancela da Polar Music, o single "People Need Love" antecede ao primeiríssimo registo de originais do quarteto (ainda com a designação Björn & Benny, Agnetha & Anni-Frid), Ring Ring , que data de 1973. Foi graças a este passo que a projecção além-Escandinávia se tornou palpável. 
Nesse Verão, após o consenso quanto ao nome oficial, Stig Andersen revela a sua astúcia ao querer usar do Melodifestivalen e da Eurovisão como via para o reconhecimento da banda pela indústria musical. Coincidência ou não, um convite da televisão sueca na participação no Festival de '74 é feito e o colectivo não nega. A desavergonhada batida de "Waterloo" (com os membros aprontados por uma estética inspirada na cena glam de Inglaterra), para além de ter sido uma lufada de ar fresco no panorama e padrões da Eurovisão, estarreceu positivamente público e crítica presente ou não no Brighton Dome, em Londres. Talvez tivesse sido isso que despertou a consciência britânica para o engenho e modernismo do grupo sueco. É neste ponto que os ABBA conquistam a Europa e preparam o terreno na América com a 145.ª posição do LP Waterloo na Billborad Hot Chart .
Depois da digressão por países europeus como a Dinamarca, RFA, Áustria, Suíça e Escócia, fruto do impacto da Eurovisão, um novo álbum, de seu nome ABBA , provoca a histeria que mais tarde viria a caracterizar o quarteto, em grande parte devido a "SOS" e, sobretudo, a "Mammia Mia" que obteve o n.º 1 em três grandes mercados discográficos: Reino Unido, RFA e a extraordinária recepção da Austrália, no ano de 1975. Numa enorme luta comercial com os Queen, a banda lá atingiu o n.º 1 no Reino Unido com a sua primeira compilação de êxitos. Chegamos, portanto, ao estatuto de super estrelato dos ABBA com o lançamento de Arrival , no ano de 1976, sintoma das maiores sensações de todas - "Dancing Queen" - que coagiu o público americano a render-se às proezas do projecto. Posto isto, um leque de consecutivos primeiros lugares granjeava cada vez mais a população mundial e a imagem de marca do colectivo ganhava contornos definitivos com o logótipo desenhado por Rune Söderqvist.
Desde Oslo aos esgotados últimos concertos no londrino Royal Halbert Hall, uma nova tour respondia ao furor massivo, ao mesmo tempo que um filme, ABBA: The Movie , contava as peripécias durante a digressão australiana (público excepcional pela atitude fervorosa a uma banda não anglófona). Seguiu-se o lírica e musicalmente ambicioso The Album (que sustentou outras façanhas como "Take a Chance on Me" ou "Thank You for the Music") e a transformação de um teatro antigo de Estocolmo no Polar Music Studio, em 1978. O estúdio, usado posteriormente por outras bandas notáveis como Led Zeppelin e Genesis, foi palco para novas inspirações do grupo, mas foram as imediações do Criteia Studios, em Miami, que deu origem ao esforço de Voulez-Vous , em 1979. Contudo, os singles do mesmo não acompanharam o logrado dos anteriores, dado, possivelmente, o comunicado mediático do divórcio de Björn e Agnetha.
Os Estados Unidos e Canadá viram a sua primeira e única oportunidade de ver o quarteto nos últimos 4 meses de 1979. Porém, uma porção considerável de fãs constatou que o colectivo apresentava-se mais num registo de banda de estúdio do que uma banda ao vivo. Ainda assim, a histeria teimava em não cessar quando o grupo, agendado para nove concertos, é cercado entusiasticamente por uma comitiva de seguidores no Aeroporto Internacional de Narita, Japão, em 1980. No mesmo ano, Super Trouper é editado, cujo conteúdo denunciou a faceta actualizada da banda ao embarcar no advir dos sintetizadores na pop da época. Possibilitou o último n.º 1 do Reino Unido com o single da faixa-título. As últimas prestações dos ABBA (que contou ainda com o álbum The Visitors ) foram modestas, já com Ulvaeus casado pela segunda vez e Benny e Frida à beira de um colapso matrimonial. No entanto, Stig Anderson podia orgulhar-se da sua persistência (e milhões, vá) no seu 50.º aniversário em 1981, quando, olhava para trás e examinava o império ABBA até à data.
Um anúncio de uma separação oficial nunca foi feita, mas podia verificar-se que a alma do grupo estava a degradar-se diariamente e o próprio já se considerava dissolvido. A verdade é que os ABBA são das poucas bandas que, depois de uma primeira separação, nunca mais regressaram ao activo. A última vez que foram mediaticamente vistos foi na estreia internacional do filme Mamma Mia! , em Gotemburgo. A sua herança monumental reflecte-se, em primeiro lugar, na abertura à evidência internacional de outros actos musicais que não fossem  radicados nos E.U.A ou Reino Unido , e, depois, nos reconhecimentos e prémios (a eleição de "Waterloo" como melhor canção da Eurovisão é um dos muitos exemplos), nos tributos e versões de incalculáveis bandas pop (e não só!) e obras não exclusivamente musicais (como o musical do West End londrino, Mamma Mia! ), na estética implementada e nos revivalismos actualmente assistidos. Podem não ter uma estrela no passeio da fama, mas um museu dedicado religiosamente à sua obra e vida, com localização planeada em Estocolmo, emergiu como hipótese para 2009.

sábado, 12 de setembro de 2015

'Wish You Were Here' dos Pink Floyd faz hoje 40 anos


Faz hoje precisamente 40 anos que os Pink Floyd lançaram o seu nono álbum de estúdio, "Wish You Were Here".

Inspirado por vários concertos que deu na Europa, o grupo de rock progressivo "instalou-se" nos míticos estúdios Abbey Road, em Londres, para gravar aquele que é considerado um disco de referência na história da música. "Wish You Were Here" foi rapidamente aclamado pela crítica musical e está na 209.ª posição na lista dos "500 Melhores Álbuns de Sempre" da Rolling Stone. David Gilmour e Richard Wright já o referiram como sendo o seu álbum preferido de sempre. "Wish You Were Here" atingiu a primeira posição na tabela da Billboard, vendendo mais de seis milhões de cópias só nos Estados Unidos, onde foi galardoado com o Disco de Ouro a 17 de Setembro de 1975 e com sextupla Platina a 16 de Maio de 1997. No mundo inteiro, o álbum vendeu mais de 13 milhões de unidades.

No disco encontramos referências a temas como a ausência, o funcionamento da indústria musical e a deterioração do estado de saúde de Syd Barrett, um dos fundadores dos Pink Floyd. A música 'Shine On You Crazy Diamond' é-lhe dedicada e começa com oito minutos e trinta segundos de preâmbulo instrumental. De recordar que quando o tema estava a ser gravado, Barrett apareceu no estúdio mas nenhum dos colegas de banda o conseguiu reconhecer. Devido aos problemas relacionados com o consumo de droga, o músico estava sem cabelo e bastante gordo. O discurso do artista era, também, completamente desprovido de sentido, garantem os colegas de banda. Syd apareceu na cerimónia de casamento de Gilmour protagonizando um dos mais estranhos momentos na história do grupo: desapareceu sem se despedir de ninguém, nunca mais foi visto nem souberam notícias suas, até ao dia da sua morte, a 7 de Julho de 2006.

'Welcome To The Machine' é um dos temas que aponta o dedo à indústria musical. De referir que até à data os Pink Floyd não tinham uma relação muito harmoniosa com a imprensa. 'Have a Cigar' critica os patrões da indústria musical também. Os temas 'Raving and Drooling' e 'Gotta Be Crazy' já estavam prontos mas não foram incluídos no álbum porque o grupo entendeu que não se integravam no conceito onde queriam encaixar o restante trabalho. As canções foram, depois, integradas em "Animals".

Assim como no álbum anterior, "The Dark Side of the Moon", os Pink Floyd recorreram a sintetizadores e efeitos na produção do trabalho de 1975. O sucesso deste disco colocou uma grande pressão na banda que se reflectiu a dado ponto durante as gravações de "Wish You Were Here", principalmente nas atitudes do baterista Nick Mason, cujo malogrado casamento o deixara completamente apático.

O primeiro concerto de apresentação de "Wish You Were Here" realizou-se em Knebworth, no Reino Unido, em Julho de 1975, curiosamente dois meses antes do disco ser posto à venda. Tal feito causou grandes problemas à editora EMI que, devido à enorme procura pelo trabalho discográfico, não estava a conseguir produzir à velocidade a que os fãs procuravam pelo vinil.

A imagem da capa do álbum foi inspirada na ideia de que a humanidade tende a esconder os seus verdadeiros sentimentos, com medo de "se queimar" e, assim, dois homens de negócio foram retratados a apertar as mãos, com um deles a pegar fogo. Foram fotografados dois figurantes, Ronnie Rondell e Danny Rodgers, sendo que um deles estava a usar uma roupa ignífuga, coberta por um fato completo. A foto foi tirada nos estúdios da Warner Bros. em Los Angeles.

"Wish You Were Here" foi remasterizado e relançado em vários formatos. No Reino Unido e nos Estados Unidos, o álbum foi relançado em 1976, e, em 1980, foi publicada uma edição de luxo no Reino Unido. Nos Estados Unidos o álbum chegou em 1983 no formato CD e, no Reino Unido, o CD chegou em 1985.

Recorde, mais abaixo, o tema que deu nome ao álbum, através de um vídeo caseiro