terça-feira, 26 de setembro de 2017

THE BEATLES editaram "Abbey Road" há 48 anos.

Entre aspirantes a músicos é comum dizer-se que a prova de fogo advém de se saber interpretar um tema dos Beatles. Normalmente, a escolha recai em "Help" ou "Revolution" assumindo-se, e bem, que a partir daí não serão necessários muitos acordes para obter resultados artísticos satisfatórios. O meu contacto inicial com os Fab Four aconteceu com a colectânea "20 Greatest Hits", de 1982. Os primeiros afloramentos do mito vieram ao som de "She Loves You" e "A Hard Day´s Night", mas ainda não eram suficientes para um chamamento total.
 Seriam precisos sete anos e a descoberta do LP "Abbey Road", para entender o que eram os Beatles e o porquê da sua longevidade. À partida, o álbum de 1969 representava a derradeira gravação do conjunto, embora "Let It Be" fosse o último trabalho a ser editado. O acontecimento, por si só, conferia um estatuto especial ao disco da famosa passadeira londrina e lançava uma questão pertinente: Seria possível repetir a magia dos álbuns anteriores ?
A ideia inicial do produtor George Martin, mas também de Paul McCartney, consistia em fazer com que a banda pensasse em termos sinfónicos e numa combinação de uma ou mais músicas tocadas em conjunto, visando a obtenção de uma peça musical única. Para John Lennon, tudo se resumia a uma série de temas lineares e a condensação em diferentes vinhetas era pouco satisfatória. Tudo se resolveria e a solução de compromisso seria adoptada, contemplando as duas linhas de pensamento.
A edição ocorreu a 26 de Setembro de 1969 e o produto final era convincente. As honras de abertura caberiam a Lennon com o excelente blues rock de "Come Together", que incluía uma notável linha de baixo de McCartney e um elegante refrão pop. Por seu turno, George Harrison fazia progressos assinaláveis, compondo uma das mais belas baladas de sempre, "Something", encontrando a inspiração na sua mulher Pattie Boyd. A alternância às várias canções Lennon/McCartney e às duas de Harrison seria quebrada pelo único tema de Ringo Starr, "Octopus´s Garden". Nele, encontramos um agradável exercício country com um solo de guitarra encantador. Um dos pontos altos de um trabalho que não tem pontos baixos é "Because". A inspiração de Lennon para compor o tema foi a Moonlight Sonata de Beethoven, tocada ao contrário por Yoko Ono. Realce para a belíssima harmonia vocal e letras simples, abrilhantadas por um sintetizador moog.
A parte de leão do outrora lado B caberia a McCartney com o seu medley, juntando pequenas melodias conjugadas entre si. Dentro desse notável segmento da arte popular do século XX, não há como escapar a "You Never Give Me Your Money" e a "Golden Slumbers". A primeira peça representava a tradução musical de uma separação eminente e de negociações sem vista à vista: "You never give me your money / You only send me your funny papers". O fundo musical consisitia numa balada ao piano a que se juntariam harmonias vocais, para irromper numa torrente de guitarras.
Para compor "Golden Slumbers", McCartney inspirou-se numa canção de embalar do século XVII, de Thomas Dekker, criando uma melodia original e intemporal. É impossível ficar indiferente a "Abbey Road" e aos seus momentos de pura beleza, vide o solo de guitarra de Harrison em "Carry That Weight". Na realidade, os Beatles nunca tocaram ou cantaram juntos com tanto brilhantismo e coesão depois de "Revolver". As diferentes sensibilidades e as circunstâncias que o envolveram fazem dele o mais apropriado canto do cisne da melhor banda de sempre.

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