Em 1990 o mundo do Rock estava mais do que abalado. Várias correntes musicais alternativas vinham ao de cima com especial para o movimento de Seattle – o grunge.
Será impossível fazer referência a este género sem passar pela formação de Kurt Cobain, Dave Grohl e Kris Novelic. Alguns anos mais tarde, um grupo de privilegiados podia-se gabar de ter assistido a um momento único no antigo Dramático de Cascais, o único concerto de Nirvana no nosso país. Outro grupo, possivelmente alguns coincidentes, pôde se gabar de ter assistido a outro marco da história do Rock. Nirvana estava para o movimento de rock alternativo como os Pantera estavam para o Metal - foram pioneiros e símbolos de culto, ainda hoje nos dias que correm.
No início da ultima década do Século XX, Phill Anselmo dava ao mundo uma das melhores vozes do heavy metal a par da oferta de riffs incríveis de Dimebag Darrel.
Cowboys From Hell , assim ficarão conhecidos na eternidade, e assim começava a sua caminhada, curta demais.
São casos raros os de bandas que conseguem um álbum de estreia completo ao nível da sua estrutura. Lembro-me de casos como Ten dos Pearl Jam e Appetite for Destrution dos Guns’n’Roses que ainda hoje fazem jus ao seu estatuto.
A minha introdução deixa uma ideia simples no ar, se Nirvana não tivesse existido, Pantera certamente não deixaria espaço em vazio para os adolescentes da altura, sedentos de Rock puro e sentido.
Vulgar Display of Power poderá ser o Nevermind dos Pantera, mas sem Cowboys From Hell nada disto seria possível.
Dimebag arrasa tudo e todos com um incrível riff em «Cowboys From Hell», energético e cheio de garra- “ here we go” avisavam.
Quem passa de Black Sabbath para Lamb of God certamente não encontrará uma ligação directa, pois bem, se temos de apontar o dedo estes serão certamente os culpados da maioria do metal que se faz hoje em dia.
Este tema faz-me recordar, a cada audição que faço, o momento único de Monsters of Rock em Moscovo onde se verifica a garra do conjunto em palco.
«Primal Concrete Sledge» dá um cheirinho de Hardcore á cena, o segredo está nos breaks de bateria, louvado seja o pedal duplo! “Oh Yeah!”- exclama repetidamente Anselmo. O público adere, hoje aos Down, mas Pantera na altura foram mais do que uma lufada de ar fresco! “ It’s time to set my demons free”, esta é uma das frase que descreve todo o sentimento de se ouvir estes temas com o volume alto a par do bass violento - «Phsyco Holiday» dá uma certa progressividade ao trash-metal directo e sem espinhas que os temas anteriores apresentavam. Dimebag não se demonstra nada humilde neste incrível solo, e nós? Nós agradecemos!A estrutura de guitarra de «Heresy» é a planta do hardcore e de algum metal que se pratica hoje, o riff é fantástico na sua simplicidade, Anselmo prova que rapazes como Corey Taylor ainda têm muito a provar ao mundo no que toca a puxar pelos cordõezitos vocais.
Todos sabemos que não é qualquer banda que se atreve a escrever power-balads, muito menos no álbum de estreia, muito menos com a carga emotiva de «Cemetary Gates»…
Certamente a crítica apontará para este tema com um momento incontornável no curriculum da banda, um tema para se cantar até as lágrimas escorrerem e as veias envolventes á traqueia rebentarem. Um dos temas mais «pesados» da banda em termos de letra, facilmente mal interpretado, mas sejamos realistas, neste mundo o que não falta é preconceito, relembro «A Tout le Monde» de Megadeth e «Fade To Black» de Metallica, temas lindíssimos associados a mensagens explicitas e incentivadoras ao suicido (“…pass the cemetary gates…”).Preparados para serem dominados? Até este sexto tema não consigo excluir um único duma compilação ao estilo antologia / Best-of. «Domination» não fica para trás na corrida, é impossível não deixar de fazer referencia a Dimebag a cada compasso! O mundo perdeu um guitarrista ícone, um verdadeiro Metal God (penso que os Judas Priest não se importarão que use a musica deles como caracterização). Do visual pesado, e sem as parolices que outras bandas se sujeitaram, ás guitarras com formatos únicos, e eternamente associados à banda que fazia sonhar a juventude mais alienada.
A primeira metade do álbum será para sempre o maior destaque de Cowboys From Hell, mas temas como «Shattered» não ficam atrás de «Heresy» mas com uma introdução de pedal duplo on-fire para ensurdecer qualquer fan do mundo mais pesado do Rock. Neste tema eu arriscaria em dizer que British Steel ou outros álbuns de Judas Priest andaram a rodar na aparelhagem da banda! As referencias vocais de Rob Halford são evidentes.
Machine Head nunca esconderam ao mundo a sua paixão pelos Pantera, seja feita justiça ao incrível tema de The Blackening «Aesthetics of Hate» dedicado ao falecido Dimebag. «Clash With Reality» poderia muito bem ser um tema dos candidatos ao estatuto de «novos Metallica» ( a par de projectos como Trivium e Mastodon onde muitos põem as esperanças).
«Medicine Man» demonstra um ar menos agressivo mas mais obscuro. É daqueles temas que funciona muito bem em álbum, mas que dificilmente não baixaria de nível ao vivo. O momento mais estável de um álbum cheio de pontos altos deixa o ouvinte repor o fôlego.
«Message in Blood» faz-me lembrar dos autores de Blood Mountain ao nível da guitarra na introdução, no entanto a estrutura musical tem semelhanças com o que hoje se faz no rock mais industrial como é o caso de Nine Inch Nails. Uma palavra descreve este solo- dramático!
Penso que a vontade de entrar num mosh-pit e fazer crowd surf é crescente, mas está na hora de «The Sleep», certamente um esboço da obra-prima que é «Cemetary Gates», este tema está feito para algum air-guitar. A harmonia da guitarra ritmo desta vez é tão ou mais importante na estrutura do tema, encaixam na perfeição. Premindo pelo instrumental acima do vocal, trata-se mais duma despedida da banda aos milhares de fans que rodam ainda hoje este Cowboys From Hell, possivelmente mais em mp3’s do que em CD’s.
Se «The Sleep» concluía o álbum, «The Art of Shredding» é o adeus em formato de encore arrebatador, deixando tudo e todos com vontade de mais! Mais Pantera! Considerados pela crítica como a melhor banda ao vivo, dentro do género obviamente, começam o seu trabalho logo no estúdio criando um seguimento na sua playlist ao que facilmente poderíamos apontar como setlist. 12 temas o compõe, e de forma pessoal aponto pelo menos 7 como temas obrigatórios!Todos temos uma década ao nível cultural em que nos identificamos, a minha será sem dúvida a de 90, e este pedaço de «barulho» é algo do que se fez de melhor nessa altura!É incrível como apenas 4 anos depois de Master of Puppets o Metal tenha mudado desta forma!
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