Se há álbum de amor, coração
partido e respetivo carpir de mágoas, então, a escolher um, seria Layla
and Other Assorted Love Songs sem pensar muito, se calhar nem duas
vezes…
Layla, pseudónimo para Pattie
Harrison, mulher do Beatle George, inspirou um disco composto na sua maioria
por Eric Clapton, numa das piores fases da sua vida. Eric sempre fora um músico
que não gostava de ficar parado. As suas incursões por várias bandas ao longo
da sua carreira foram disso exemplo, senão vejamos: Yardbirds, John Mayall’s Bluesbreakers,
Cream, Blind Faith e ainda a perninha na banda de Delaney & Bonnie. Todas
estas participações fizeram que fosse considerado um dos melhores guitarristas
da sua geração, no entanto, continuava a preferir esconder-se no meio de uma
banda do que lançar-se às feras a solo.
Derek and the Dominos começa a
germinar em meados de 1969 com o ruir dos Blind Faith, formado
por Clapton, Steve Windwood, Ginger Baker e Ric Grech e com a ajuda dos novos
amigos Delaney e Bonnie que contava com os músicos Bobby Whitlock, teclista,
Carl Radle no baixo e o baterista Jim Gordon. A Clapton, Whitlock, Radle e
Gordon associou-se o guitarrista dos Allman Brothers, Duane.
Delaney incentivou Clapton a
começar a acreditar nele próprio e a cantar as suas próprias canções. O
primeiro resultado saiu no Verão de 1970 com o disco homónimo, contando com uma
grande colaboração de Delaney. No entanto, Eric ainda não se sentia confortável
a solo pelo que voltou a pedir o “anonimato” e pedir ajuda.
Não sendo um disco quase a
solo como muitas pessoas o referenciam, Layla and Other Assorted Love
Songs é uma extensa carta de amor e dor de Clapton, em parceria com os
restantes elementos da banda.
O disco é essencialmente
marcado pelos blues. Algumas músicas mais melódicas: “Bell Bottom Blues”, “I Am
Yours”, outras mais puro blues: “Nobody Knows You When You’re Down and Out”,
“Have You Ever Loved a Woman?” e ainda outras mais rock: “Keep on Growing”,
“Anyday”, “Why Does Love Got to be So Sad?”, mas nunca fugindo ao mesmo tom e
tema do álbum.
A cereja em cima do bolo chega
com a versão de “It’s Too Late” de Chuck Willis, tocada de forma tão emocional
por parte de Clapton que é impossível ficar indiferente e Layla, o clímax do
disco.
No entanto, é um disco/grupo
que fica marcado por tragédias, abuso de drogas e desilusões, vindo a terminar
ao fim de pouco tempo.
Durante as gravações do disco,
Clapton ficou atordoado com a morte do seu “rival” Jimi Hendrix, decidindo
incluir a versão de “Little Wing” que tinham gravado uns dias antes, acabando
por tornar-se numa das melhores músicas do disco.
Após alguns concertos pelos
EUA recheados de drogas e álcool, a banda preparava-se para a sua primeira tour
a sério, quando mais uma tragédia se abateu. Duane Allman morre num acidente de
moto. A estas tragédias juntou-se o facto de o álbum não ter sido um êxito.
Clapton levou este facto a peito e decidiu que estava na altura de se assumir,
sair da zona segura escondido atrás de bandas. Derek sempre fora Eric Clapton e
Layla era Pattie Harrison.
Nunca chegou a haver segundo
disco, a banda simplesmente dissolveu-se entre sessões de gravação. Carl Radle
viria a falecer em 1980 devido a problemas no fígado, potenciados pelo abuso de
drogas e álcool.
Jim Gordon, sofredor de
esquizofrenia não diagnosticada matou a sua mãe com um martelo em 1983, vindo,
no ano seguinte, a ser internado numa instituição mental onde ainda hoje
permanece.
Bobby Whitlock lançou, pouco
tempo depois do fim da banda, um álbum a solo com algum sucesso e tem tido uma
carreira decente.
Clapton, esse, viria a
tornar-se num recluso, entregue às drogas e, ainda, sem Pattie (viria a
conquistar o seu amor apenas em 1974, escrevendo “Wonderful Tonight”, anos mais
tarde, em sua autoria), apenas aparecendo, ainda que uma sombra de si próprio,
durante o concerto para Bangladesh, organizado por Harrison e no Rainbow Concert,
organizado por Pete Townshend para ajudar Clapton a reconstruir a sua vida.
Anos mais tarde, a história
viria a dar valor e a colocar Layla and Other Assorted Love Songs num
pedestal como um dos discos mais importantes da história da música.