terça-feira, 2 de junho de 2015

Bruce Springsteen - Darkness On The Edge Of Town... já lá vão 37 anos!

Ano: 1978

Faixas

Lado 1
"Badlands" – 4:01
"Adam Raised a Cain" – 4:32
"Something in the Night" – 5:11
"Candy's Room" – 2:51
"Racing in the Street" – 6:53

Lado 2
"The Promised Land" – 4:33
"Factory" – 2:17
"Streets of Fire" – 4:09
"Prove It All Night" – 3:56
"Darkness on the Edge of Town" – 4:30

Todas as músicas escritas por Bruce Springsteen.

História

Depois do enorme sucesso do álbum Born To Run de 1975, a expectativa era grande para saber o que é que Bruce Springsteen tinha na manga para o 4º álbum. No entanto os meses passavam, Bruce andava na estrada, estreando alguns temas novos e não havia notícias sobre o novo álbum...

O problema estava num contrato que ele tinha assinado em 1972 com o manager Mike Appel, num parque de estacionamento em New Jersey, sem sequer o ler. Este contracto estipulava que Bruce recebesse uma ínfima parte dos direitos de autor das músicas dos primeiros 3 álbuns e que os direitos de publicação fossem exclusivamente da editora. Assim, só em 1976, quando Jon Landau começou a estar envolvido nas decisões artísticas de Bruce e o aconselhou a analisar este contracto, Bruce se apercebeu do que tinha feito. Na sequência, Bruce despede Mike Appel e dão início a uma longa batalha jurídica que se arrastou pelos tribunais até 1977, sem que Bruce pudesse voltar ao estúdio, uma vez que Mike o tinha impedido de gravar com Landau.

Entretanto, Bruce era obrigado a continuar na estrada a dar concertos com a E Street Band, a sua única verdadeira fonte de rendimento. Em contrapartida, foi neste período que Bruce Springsteen e a E Street Band aperfeiçoaram as suas perfomances ao vivo, eventualmente ganhando a reputação de uma das melhores bandas rock ao vivo da história (facto que pude confirmar este ano em Santiago de Compostela, onde assisti a um dos melhores concertos da minha vida).

Resolvida a questão legal, no Verão de 1977 Bruce Springsteen avançou determinado para o estúdio com a E Street Band para gravar o seu novo álbum American Madness, nome que daria lugar ao mais apropriado Darkness On The Edge Of Town, lançado em 2 de Junho de 1978. Só que desta vez a determinação de Bruce Springsteen era bem diferente de Born To Run. Enquanto Born To Run era uma ode ao optimismo, à esperança e à mudança para um lugar e para tempos melhores (a metáfora nova-iorquina de “passar para o lado de lá do rio”); Darkness representa a percepção que afinal o lugar e os tempos para onde se mudou também têm os seus problemas e que a vida é isso mesmo: podemos andar a vida inteira à espera de um momento (Badlands), ou a perseguir um sonho (Something In The Night), mas no fim de contas os problemas com que nascemos (Adam Raised A Cain) vão acompanhar-nos para sempre.

Em suma, o optimismo e romantismo de Born To Run, dá lugar à desilusão e isolamento de Darkness On The Edge Of Town. O resultado foi um álbum bem menos comercial e com sucesso bem mais reduzido. Mas isso não incomodou Bruce Springsteen, uma vez que a sua motivação para este álbum era criar algo verdadeiramente seu, inserido nas experiências que estava a viver. A prova de que Bruce Springsteen não procurava o sucesso mainstream com este álbum é a escolha das músicas. Alegadamente, foram gravadas 25 músicas que não chegaram à versão final do álbum; algumas delas seriam oferecidas a outras artistas e resultaram em grandes êxitos (por exemplo, Because The Night a Patti Smith e Fire às Pointer Sisters); algumas delas apareceriam no álbum seguinte, o duplo The River; outras só chegariam na caixa de 1998 Tracks e outras ficariam pelas performances ao vivo.

E foi mesmo ao vivo que este álbum ganhou outra dimensão. A digressão de Darkness On The Edge Of Town ainda hoje é recordada como uma das mais intensas e lendárias da história do rock. A banda tinha chegado ao seu ponto alto, aperfeiçoando a performance dos temas novos e antigos. Mais que isso, alguns temas foram alongados, mais conhecidamente Prove It All Night, cuja versão no álbum durava 3:56, mas que ao vivo por vezes passava a marca dos 10 minutos. Aqui fica a interpretação ao vivo em Phoenix deste tema:
Desde 2008 que está planeada uma reedição alargada deste álbum, de onde se espera finalmente encontrar material áudio e vídeo da famosa digressão de 1978, nomeadamente o concerto em vídeo de Phoenix. Contudo, dos bootlegs que conheço, o melhor é sem dúvida o de 1978-09-19 - Passaic, New Jersey (que em vídeo só existe em qualidade bastante inferior a Phoenix).

Análise

Por me estar associado pessoalmente, Darkness On The Edge Of Town de Bruce Springsteen foi a primeira escolha para dissecação neste blog. No futuro, raramente um álbum terá um tratamento tão exaustivo com este. Este tratamento exaustivo deve-se não só ao facto de ser o primeiro álbum a aser analisado, como também por ter muito para contar.

A E Street Band está neste álbum “on fire”, principalmente com um Bruce Springsteen a tocar guitarra como se estivesse a defender a sua vida, um Roy Bittain a levar as emoções às teclas do piano e um poderoso Clarence Clemons nos solos de saxofone em Badlands, The Promised Land e Prove It All Night.

The Promised Land em Landover (1978-08-15):
É importante referir que se há dois álbuns de Bruce Springsteen que são essenciais, eles são Born To Run e Darkness On The Edge Of Town. Como já referi, são dois álbuns com um vibe completamente diferente, mas é esta dicotomia que os faz tão especiais. Ambos os álbuns são extremamente sólidos, isto é, estabelecem uma bitola alta de qualidade que raramente é rebaixada.

O álbum começa com um estrondoso Badlands (que ainda denota algum optimismo) e depois continua até ao fim do “Lado 1” com uma das sequências mais fantásticas num álbum rock: Adam Raised A Cain, Something In The Night, Candy's Room e Racing In The Street. É difícil escolher momentos altos ou baixos no Lado 1 deste álbum, devido à sua solidez.

No Lado 2, mais uma vez começa com um raio de optimismo em The Promised Land e também aqui prossegue com temas que transmitem dificuldades: Factory, Streets Of Fire, Prove It All Night e, no fim, quando já perdeu tudo, Darkness on the Edge of Town. Aqui, voltamos a ter uma selecção muito forte, com a excepção de Factory, que fica claramente num nível abaixo dos restantes temas. Para além disso, tanto Prove It All Night (com solos adicionais no início e no fim), como The Promised Land, Streets Of Fire e Darkness on the Edge of Town resultam melhor ao vivo do que no disco original.
Fica aqui o tema título Darkness on the Edge of Town, mais uma vez ao vivo em Passaic, New Jersey. Sublinhe-se que na introdução Bruce dedica a música a um amigo em dificuldades e tem a seguinte frase lapidar:

"At one time or another, everybody's gotta drive through the darkness on the edge of town"

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