Poucos serão os artistas cuja carreira (e vida) esteve sempre rodeada de uma aura misteriosa. Prince era uma estrela da música — uma das maiores —, mas nem por isso deixou de manter um lado obscuro e privado ao qual poucos tinham acesso. Do lado de fora assistiam-se às excentricidades: a troca do nome de palco por um símbolo que ninguém percebeu, também conhecido como símbolo do amor; as roupas; ou os penteados. No fundo, tudo o que um artista precisa para se tornar numa lenda. E nem todas as histórias têm de ser necessariamente verdade.
Esta quinta-feira, Prince Rogers Nelson morreu, aos 57 anos de idade, na sua casa de sempre — Paisley Park, em Chanhassen, no estado norte-americano do Minnesota. Seis dias antes, Prince já tinha pregado um susto aos fãs quando foi hospitalizado de urgência, devido a sintomas gripais. O final, porém, não seria um feliz. Felizes foram, sim, todos os que estiveram presentes no último espectáculo do artista, sem o saberem. Na passada semana, Prince subiu ao palco do Atlanta’s Fox Theatre.
“Ele começou o concerto com um pedido de desculpas. E depois deu uma performance incrível com direito a quatro encores. Notava-se uma ligeira rouquidão na sua voz, mas podia ser apenas um indicador da doença que o tinha afectado na semana anterior”, explicou Celeste Headlee à revista People.
De Prince fica, essencialmente, a música. Mas um músico faz-se também de rumores, excentricidades, fatos curiosos e episódios hilariantes. E esses não faltam a Prince: da detenção no aeroporto depois de roubar um megafone às supostas gravações dos gemidos de Kim Basinger.
As gravações
dos gemidos de Kim Basinger
Em 1989, chegava aos cinemas o filme “Batman”, de Tim Burton, abrilhantado por uma banda sonora criada por Prince. Pouco tempo depois, era também lançado o single “The Scandalous Sex Suite”, com uma colaboração invulgar: Kim Basinger, uma das protagonistas do filme, emprestava a voz a algumas das canções.
Os gemidos da atriz foram motivo de muitos rumores e especulações, na sua maioria sobre a suposta relação íntima que nasceu entre os dois. Houve até quem afirmasseque os gemidos incluídos no tema foram gravados pelo próprio durante o ato sexual.
Tinha um salão
de beleza só para si
Prince estava sempre impecavelmente vestido, maquilhado e sobretudo penteado. O seu cabelo era motivo de inveja, de homens e mulheres. Isso não acontecia por acaso. Quando em 1996, Prince comprou uma mansão em Marbella, Espanha, mandou construir um salão de beleza privado. Tão privado que nem a actual mulher, Mayte Garcia, podia usá-lo.
“Tinha de sair de casa sempre que queria arranjar o cabelo. Aquele salão de beleza não era para mim mas sim para o meu marido. O Prince precisava do seu espaço”,revelou Garcia em entrevista ao jornal inglês “The Daily Mail”, em 2006.
A música nem
sempre era o mais importante
Prince era louco por basquetebol e essa paixão não facilitava a vida ao artista. Quando um concerto em Montreal, no Canadá, coincidiu com a hora de um dos playoffs dos Chicago Bulls, o músico não abdicou de assistir à partida. Ordenou aos roadies que colocassem uma pequena televisão no canto do palco para que, durante os solos, pudesse esgueirar-se e assistir ao jogo. Quando isso não era possível, uma das assistentes escrevia o resultado num cartaz para que Prince estivesse sempre a par do que estava a acontecer.
Foi preso por
pregar partidas em aeroportos
Aparentemente, Prince era um grande fã dos programas de apanhados. Só isso explica os episódios revelados pelo ex-guitarrista do músico Dez Dickerson ao “New York Post”, passados em aeroportos: “Procurávamos uma cadeira de rodas vazia e ele sentava-se nela, de óculos de sol postos. Colocávamo-lo numa zona onde houvesse muita gente e lá ficava ele. Depois, tratava de atirar-se para o chão, enquanto as pessoas à volta dele o tentavam ajudar a voltar para a cadeira.”
As constantes partidas não acabaram bem para Prince. Antes de um vôo, o artista decidiu roubar um megafone. “Senhoras e senhores, alguém roubou uma peça de equipamento da companhia”, ouviu-se através do intercomunicador. Prince acabou por ser detido, um acontecimento que deu ao mundo uma das mais famosas fotos do músico.
“A brincadeira correu mal dessa vez mas acabou por ser muito engraçado porque ele acabou a noite a dar autógrafos na cadeia”, explicou Dickerson.
O tesouro
escondido de Prince
Entre 1978 e 2015 lançou 39 álbuns. Digamos que Prince era um artista muito produtivo. E se os rumores estão certos, aquilo que se conhece é apenas uma amostra do trabalho de uma vida. Passava horas a compôr e a maioria dessas composições nunca foram gravadas em estúdio. O que é feito delas? Tudo indica que estejam devidamente guardadas naquilo a que chamam “O Cofre”, o repositório de todo o material, escondido algures na mansão de Paisley Park.
A lenda dizia que “se Prince morresse hoje, haveria material para editar um disco por ano até ao século XXII”.
E se Prince recusava confirmar ou negar a existência de um tal cofre, muitos outros fizeram questão de revelar pormenores. Susan Rogers, antiga engenheira do som de Prince, foi uma delas: “Fui eu que criei o cofre. Juntei-me a ele quando estava a preparar a ‘Purple Rain’ e percebi que seria inteligente juntar todas as cassetes num único sítio. (…) É mesmo um cofre de um banco com uma porta grossa, instalado na cave de Paisley Park. Quando me vim embora, em 1987, estava quase cheio.”
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