segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A morte de Lennon

Naquela noite, John Lennon regressava a casa de uma sessão de gravação da qual resultaria o álbum póstumo Milk And Honey. Estava com fome, mas preferiu passar primeiro pelo seu apartamento, no Edifício Dakota, para ver como estava o seu filho de cinco anos, Sean Taro Ono Lennon.

A 8 de Dezembro de 1980, Nova Iorque estava anormalmente amena para uma noite de Inverno e a azáfama de Natal contrastava com a quietude do passeio que circundava a arcada principal do famoso prédio. John e Yoko saíram da limousine e caminharam para a porta até que um imbecil disparou cinco tiros fatais sobre as costas do antigo beatle e o resto...

O resto foi um imenso vazio e uma enorme dor. Claro que o disco Double Fantasy, a fruta da época, subiu ao topo das tabelas de vendas um pouco por todo o mundo e o mito nascia com as suas habituais contradições. Os restantes beatles partilharam sentimentos de estupefacção e revolta e a comunidade rock sentiu-se ameaçada, recorrendo à utilização de guarda-costas.

Uma das reacções mais interessantes à morte de Lennon partiu do antigo primeiro-ministro inglês Harold Wilson. "A morte de John Lennon foi uma grande tragédia. O que os Beatles fizeram pelos miúdos foi tirá-los das ruas e dar-lhes um novo interesse na vida", referiu.

Sim ! Os fazedores de sonhos, as roupas e os penteados que seduziram, mas também aqueles que começaram por cantar sobre namoricos e que souberam intrigar-nos com "I Am The Walrus", surpreender-nos com "Helter Skelter" e avançar 200 milhas com "Tomorrow Never Knows" ou "Strawberry Fields Forever".

Mais do que um líder espiritual, "aquele que imaginou tudo", John Lennon foi o tal que nos permitiu conhecê-lo e amá-lo pela sua expontaneidade e autenticidade. A mensagem de "All You Need Is Love" não morreria no período a solo e a sublime "Mind Games", de 1973, que originalmente seria "Make Love Not War", revela uma vez mais um sentimento profundo de comunhão e universalidade.

Em 1980, aos 40 anos, a profissão de fé era mostrar a paz e o amor através de um matrimónio já com 11 anos de existência. Para o rapaz de Liverpool os tempos eram de uma "Woman" para todas as mulheres, de um "(Just Like) Starting Over" que renovava os votos maritais ou de uma incursão na disco com Yoko Ono nos vocais em "Walking On Thin Ice".

Nunca saberemos se teria telefonado a Paul McCartney, na fatídica noite, a propôr um regresso dos Beatles. No entanto, o reencontro dos génios que fizeram a banda sonora das nossas vidas não demoraria muito mais. Mas, como referiu o poeta beat Allen Ginsberg, "Um miserável caçador de autógrafos armado com uma bandeja de ouro e uma arma ajoelhou-se diante de John e matou os Beatles".

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