sábado, 25 de abril de 2015

HERÓIS DO MAR... Dos fracos não reza a história...

Os Heróis do Mar são a minha banda portuguesa de eleição dos anos 80, a par de António Variações. Primeiro os Faíscas, depois o Corpo Diplomático e finalmente os Heróis do Mar em 1980. Pedro Ayres Magalhães convida então António José de Almeida (baterista dos Tantra) e Rui Pregal da Cunha para um novo projecto. Para além de Pedro Ayres, transitavam do Corpo Diplomático Carlos Maria Trindade e Pedro Paulo Gonçalves. Uma curiosidade: quando o Corpo Diplomático abriu audições para um vocalista, um dos candidatos foi António Variações que chumbou. Sendo conhecido como cabeleireiro e não como músico os elementos da banda aproveitaram e pediram para Variações lhes fazer o corte de cabelo.
De volta à música… procurando fazer uma nova abordagem da música portuguesa, os Heróis do Mar foram acusados de nacionalistas e fascistas, quando volvidos poucos anos sobre a revolução dos cravos, falar sobre portugalidade era considerado assunto tabu. A estética complementava a música e ambas fundiam-se num corpo único, daí que não esteja longe da verdade considerar os Heróis do Mar como a primeira banda pop moderna portuguesa, seguindo os trilhos dos britânicos Spandau Ballet e Duran Duran.
No que respeita a discos, o primeiro single sai em Agosto de 81 “Saudade/Brava Dança dos Heróis “, ambos os temas a fazerem parte do LP de estreia “ Heróis do Mar “, também de 81.
Ainda sem garantias quanto ao sucesso comercial e com uma crítica adversa, os Heróis do Mar viviam tempos difíceis até que surgiu, em 82, o máxi-single “ O Amor “. De um momento para o outro tornaram-se a banda do momento. Os jovens portugueses podiam dançar nas discotecas ao som de um hit cantado na sua língua. O sucesso comercial estava assegurado mas a crítica acusava-os agora de vendidos ao mercado.
Ainda neste ano os Heróis do Mar rumam a Paris para fazerem a primeira parte do concerto dos Roxy Music.
No ano seguinte sai o segundo LP “ Mãe “ que se revela um flop, sem que nenhuma música se consiga impor. Ainda neste ano é editado o single “ Paixão “ que faz esquecer o fracasso do álbum anterior. A revista inglesa “ The Face “ considera os Heróis do Mar como o melhor grupo de Rock da Europa.
Em 1984 colaboram com António Variações como banda de suporte no seu segundo álbum “ Dar & Receber “. Esta parceria, idêntica à estabelecida entre aquele músico e os GNR no seu álbum de estreia “ Anjo da Guarda “, revelar-se-ia um enorme sucesso.
Ainda neste ano é lançado o mini-LP “ O Rapto “ de onde são retirados os temas “ Supersticioso “ e “ Só gosto de ti “. Apesar do sucesso, a banda estava longe do espírito dos primeiros tempos e mantinha-se mais por questões comerciais e com uma estética a fazer lembrar uma vulgar banda de Rock.
Em 1985 o single “ Alegria “, à semelhança de “ Paixão “, embora pior, é mais um tema fabricado para as pistas de dança. Partem depois para Macau com o objectivo de procurarem inspiração para o novo álbum e ficam por lá um mês. O seu regresso é marcado pela roptura com a Polygram e o álbum seguinte “ Macau “ de 86 já é gravado nos estúdios Valentim de Carvalho em Paço de Arcos.
Com este álbum os Heróis do Mar tentam recuperar alguma da essência que esteve na génese da banda. O sucesso comercial não foi uma prioridade embora o single “ Fado “ tivesse obtido um relativo sucesso. Em 1987 é editado o single “ O inventor “, revelando uns Heróis do Mar já muribundos.
Pedro Ayres Magalhães já não estava a tempo inteiro na banda e o tempo era dividido com o seu novo projecto “ Madredeus “. A banda mantinha-se mas os seus elementos passavam cada vez menos tempo juntos. O princípio do fim começou com a saída de António José de Almeida, que já não participou no álbum seguinte “ Heróis do Mar IV “ de 88, sendo substituído por uma caixa de ritmos. Deste álbum foi retirado o single “ Eu quero “, que apesar de delicioso no que respeita aos arranjos revelava uns Heróis do Mar sem alma. Em 1989 acabaria por ser editado mais um single “ Africana “, antes do fim inevitável em Outubro deste ano.
Quanto aos restantes membros, Pedro Paulo Gonçalves e Rui Pregal da Cunha fundaram os LX-90 (mais tarde Kick Out of The Jams) com uma sonoridade próxima da cena de “ Madhester “. Carlos Maria Trindade dedicou-se à produção e tem dois álbuns editados. Presentemente é teclista dos Madredeus, tendo substituído Rodrigo Leão. Pedro Paulo Gonçalves abriu um atelier de roupa com a mulher, em Londres e exploram o conceito de fazer roupa a partir de roupa. Já vestiram nomes conhecidos como David Bowie e os Blur.
A importância dos Heróis do Mar para a música portuguesa é muito maior do que a sua consistência enquanto banda. Os álbuns oscilaram muito, musicalmente e em termos de qualidade. Quando um álbum não resultava fazia-se um single para vender e esquecer o álbum anterior. Temas como “ O Inventor “ e “ Eu Quero “ por muito bonitos que soassem serviam apenas para mostrar ao mercado que a banda estava viva, quando isso não era verdade. Apesar da sua história ser em tudo idêntica à da típica e efémera banda Rock que tem um início difícil, conhece o sucesso, depois a sobrevivência e a manutenção das aparências e por fim o colapso, acabaram por deixar a sua marca num Portugal onde tudo estava por fazer. Até então a música não era encarada de forma profissional e os Heróis do Mar fizeram-no.
Como já referi não é injusto o rótulo de primeira banda pop moderna portuguesa uma vez que, os Heróis do Mar foram pioneiros na criação e exploração de uma imagem associada à música, definindo um padrão seguido mais tarde por outros músicos e que ainda se mantém válido. A música só por si não fazia sentido sem uma estética associada.
Com altos e baixos os Heróis do Mar deixaram-nos algumas das melhores pérolas que ficarão para sempre na história da música portuguesa. São temas intemporais que não deixam ninguém indiferente, para quem os acompanhou e para as gerações mais novas que apenas ouviram falar deles.
Para terminar recomendo que vejam o documentário, comprem a compilação e esperem pelo regresso dos Heróis do Mar, nem que seja para um único concerto. Dos fracos não reza a história…

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