segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

ROLLING STONES : Exile on Main Street

À partida as condições não eram as melhores. Keith Richards sobrevivia a um desastre de automóvel, Mick Jagger tinha acabado de se casar, problemas com o fisco e antigos managers atormentavam uma banda que vivia “realmente” um exílio no sul de França. Para agravar este estado de coisas, as gravações de “Exile on Main Street”, iniciadas no Verão de 1971, na Villa Nelicotte, propriedade do famoso guitarrista dos Rolling Stones, a electricidade falhava constantemente e a humidade alterava a afinação dos instrumentos.
Com o decorrer dos trabalhos, os atropelos e a desorganização transformavam-se num documento musical uno, sólido e furioso. A explicação para a durabilidade de um dos melhores discos de hard rock de sempre provinha da sua diversidade de estilos: rock & roll, blues, soul e até country. Mas, acima de tudo, pelo acentuar da componente depressiva, iniciada em “Let It Bleed” e “Sticky Fingers”, acrescida de um regresso a uma versão mais dura dos blues, herdados dos seus legítimos antepassados.
Um riff a mid tempo e um grito cavernoso de Jagger apresentavam a relaxante primeira canção: “Rocks Off”. A festa prosseguia com “Rip This Joint” e atingia o seu pináculo com “Tumbling Dice”, no qual o vocalista dos Stones desempenhava o papel de pregador, apoiado por harmonias gospel debitadas pelas vozes corais de Claudie King e Vanetta Fields. A influência de Chuck Berry era patenteada em “Happy”, outro grande tema do álbum, apresentando o cantor Keith Richards e uma estrofe memorável: “I need a love to keep me happy”.
Destaque ainda para o desconsolo gospel da lindíssima “Let It Loose”, a pedalada rock enriquecida pelo saxofone de Bobby Keys, “All Down the Line”, e o encanto espiritual de “Shine a Light”, que deu nome ao filme de Martin Scorcese, sobre os Rolling Stones. Em entrevista concedida á revista Rolling Stone, em 1995, Mick Jagger retirava  valor ao trabalho de 1972: “Exile é um pouco sobrestimado, não tem assim tantas canções memoráveis”. Discordo ! A faceta negra dos Stones é decididamente a mais convincente.

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